Capítulo 26

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— Será que é normal nossos pais brigarem tanto? - Clara comentou na loja com Júnior, quando viu que o pai havia saído para levar uns produtos na feira. O irmão estava concentrado em sua lição de casa, devia escrever uma carta. 

— O que? - Júnior perguntou sem entender o que ela dizia. 

— Você não percebeu eles brigando na escola? - ela perguntou nervosa. 

— Ah… acho que é normal, Calixto dizia que tinha muitos vasos arremessados naquela fazenda quando ela morava lá. 

— Vasos ela sempre gostou de arremessar mesmo… mas achei que ela não brigasse tanto com ele. - Clara coçou a cabeça pensando. 

— É… na verdade a versão que tenho dela é bem mais calma. Meu pai sempre foi mal humorado, mas brigão assim eu não lembrava. 

— Nosso pai! - ela o corrigiu com sua voz imperativa. - E além disso você só conhece a versão fofa de nossa mãe porque é o gêmeo preferido dela. 

Júnior parou de olhar seu papel que tentava escrever e a encarou. 

— Andou brigando com ela de novo? Devia parar de brigar com os outros, ocê vai é ficar sozinha. 

Clara estreitou os olhos nervosa para ele. 

— O que quer dizer com isso?! - perguntou com as mãos posicionadas na cintura. 

— Ocê não conversa mais com Miguel, ele sempre foi seu amigo a vida inteira, brigou com nossa mãe, não conversa com ninguém daquela fazenda a não ser com a Carijó. Pra mim, vai é acabar sozinha. 

— E o que importa? Adoro ficar sozinha! - ela jogou os cabelos para trás e saiu andando para longe do irmão. 

Na verdade Clara se sentia solitária, mas jamais admitiria em voz alta e muito menos a seu irmão.

xx

Era como ganhar trapaceando naqueles jogos de azar que tanto praticava, não acreditou na sorte que teve ao ver Catarina descer o prédio da revista feminina. Então era verdade, ela morava ali. Estava mais velha, mas ainda igual há quinze anos atrás. 

— Catarina Batista, não sabia que estava de volta a São Paulo. 

Catarina ergueu o rosto reconhecendo aquela voz e não podia acreditar na pessoa parada em sua frente. 

— Heitor, quanto tempo… - ela suspirou cansada, não queria brigar com ninguém. - Quase ninguém sabe que voltei. 

— Quase ninguém não sabia, já que saiu no jornal, não é? - ele levantou as sobrancelhas de triunfo. 

Catarina estreitou os olhos brava. 

— Se me dá licença, tenho um compromisso…

Ela começou a andar apressada e Heitor foi atrás. 

— Então você teve gêmeos e separou os filhos junto com seu casamento com o Petruchio. Muito moderno até para você, não é? - Catarina engoliu em seco, mordeu os lábios nervosa ainda andando rápido. - Me surpreende o Petruchio aceitar essa história toda. Ou ele não aceitou? 

— O que você tem a ver com minha vida conjugal? - ela parou de andar e virou nervosa para ele. 

— Estou só curioso, mesmo assim, não vejo nenhum dos seus filhos debaixo de suas asas agora. 

— Está me rondando, é isso! Está me rondando para saber notícias minhas… Nunca gostei de você Heitor, nunca simpatizei com você. Não vai ser agora que vou contar da minha vida para você! Se quer saber de minha vida é só ler ela nos tablóides! - ela voltou a andar e Heitor ajeitou o seu chapéu contente com o efeito que havia causado. 

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