Capítulo 30

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— Acho um absurdo…

— O que? - ela sorriu enquanto colocava rapidamente uma boina em seus cabelos enquanto Petruchio abotoava seu vestido nas costas.

— Eu te ajudar a se vestir quando devia estar fazendo o contrário.

Catarina sorriu e se virou para ele tentando fazer uma feição brava.

— Responsabilidades Petruchio, preciso trabalhar. Preciso ganhar meu dinheiro, lutar sozinha em meio a esse mundo machista.

Petruchio negou com a cabeça sem deixar de sorrir e disse:

— Esqueceu que não tá mais sozinha? Ocê nunca vai tá sozinha enfrentando esse mundo, eu tô aqui, se ocê quiser nem trabalhar mais fora precisa. Eu tô aqui com os braços sempre abertos e prontos pra trabalhar por nois dois.

Catarina engoliu em seco diante da fala dele, seus pensamentos começaram a borbulhar em sua mente. Mordeu sua língua, abanou a cabeça e disse algo para não brigar com ele.

— Estou vendo os braços fortes para trabalhar bem preguiçosos ultimamente. Nem foi ver suas vacas esse fim de semana, elas devem estar morrendo de saudades de você.

— Mas eu sou chefe, não preciso trabalhar se eu não quiser.

— Mas eu não sou chefe, preciso chegar a tempo na escola. - focou que ainda trabalhava lá e gostava disso. - Se esqueceu que nossos filhos estudam lá?

Ele sorriu, adorava quando ela falava nossos filhos no plural, quando se referia aos dois filhos serem de ambos, era como ganhar uma batalha contra ela. Petruchio se aproximou dela, colocou suas mãos em sua cintura e encaixou seu rosto na curvatura do pescoço dela.

— É que tanto tempo longe… fim de semana não deu para compensar. - virou seu rosto e beijou seus lábios com paixão.

Ele ficava um carente quando o assunto era as carícias dela, mas Catarina gostava de ver esse lado dele, havia esquecido a maneira que ele ficava. Obcecado pelo cheiro de seu cabelo, o tempo todo querendo lhe beijar, os abraços constantes e as palavras doces ao pé do ouvido.

— Vai voltar aqui depois do trabalho, não é? - perguntou quando cessou o beijo.

Os olhos dele imploravam um sim e por mais que ela já tivesse garantido que voltaria não parecia ser suficiente. Catarina acariciou o rosto dele com suas mãos e respondeu que sim com a cabeça.

— Eu não quero mais adiar minha felicidade. Eu vou voltar.

Por mais que ela afirmasse a Petruchio que voltaria, que escreveria seu próprio destino, que não ia mais viver nas sombras das mentiras. Ainda tinha medo. E o medo foi o sentimento que a fez adiar sua felicidade por mais de quinze anos. E esse medo agora parecia querer a assustar novamente.

Catarina estava pensativa naquele dia na aula e Júnior parecia ter notado.

— Tá tudo bem mãe? - perguntou a ela quando viu que ela havia trocado o nome de um aluno por outro pela quinta vez naquela manhã.

— Estou sim.

Ela nem pareceu notar Ana, que entrou na sala atrasada, com os olhos fundos e escuros e com um casaco por cima de seu uniforme, mesmo fazendo calor naquele dia. Júnior ficou observando ela e pensou que poderia ficar de olho no intervalo pra entender um pouco mais sobre a garota "secreta" que estudava consigo.

xx

Clara decidiu mudar seu destino, talvez sua mãe tivesse razão ao falar que quando se é adolescente tudo é muito intenso e talvez ela estivesse exagerando quanto a Miguel, afinal ele sempre foi seu melhor amigo e tinha sido ela que havia o afastado, precisava o re-aproximar de si. Por isso, no domingo, pintou um pequeno quadro para o amigo, era único e com um significado que só ele entenderia, desenhou a cena dele abraçando seus ombros e a consolando em meio ao choro no dia que ela descobriu que a mãe havia mentido para si sua vida toda, no dia que descobriu que tinha um irmão gêmeo. Pintou a cena com cores fortes e vivas, esperou secar e passou o verniz, logo de manhã havia embrulhado num papel pardo. Passou o domingo todo fazendo aquele quadro, esperava ser suficiente para que Miguel a perdoasse.

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