Capítulo 20

259 24 157
                                    

Clara idealizou tanto seu pai, desde o dia que conseguiu arrancar de sua mãe que ele era um fazendeiro o imaginou rico, fino e com muito dinheiro, ela não podia impedir-se de pensar assim, afinal fazendeiros tinham pedaço de terra e animais, impossível ele ser pobre. Logo criou suposições em sua mente do porquê a mãe se separar e ir pra Europa, ela se recusava a falar do passado, apesar de tudo sabia que o pai não era mal e sempre desejou o conhecer. Sendo assim, não estava em seus planos andar de carroça para ir até a fazenda de seu pai.

- Uma carroça? Eu vou ter que andar de carroça?

Estava frio e ventando muito, a chuva havia cessado, mas uma vez que estava decidida a viver sua vida ao lado do pai ela poderia encarar uma carroça. Certo? Petruchio a ajudou a subir e partiram.

Petruchio sentia seu coração num misto de emoções, as descobertas do dia e sua briga com Catarina ainda ecoavam em sua mente, mas não conseguia parar de admirar a filha ao seu lado, gritando em cada buraco que a carroça encontrava pelo caminho. Ela era real, uma filha que ele não sabia que existia e com o nome de Clara, o nome que ele havia sugerido quando ela ainda estava na barriga de sua mãe. A filha era real.

- Ocê parece muito a sua mãe. - ele não queria admitir, mas não conseguia evitar. Clara era quase uma cópia de Catarina, seu jeito de sentar era igual ao dela, além de sua aparência.

- Dizem que sim, inclusive no gênio forte. - ela lhe sorriu de lado. - Dizem que é por isso que não me dou muito bem com ela. A gente briga demais.

- Ah sua mãe sempre gostou de brigar.

Clara concordou com a cabeça.

- Ainda bem que você me entende papai.

Vieram o resto do caminho conversando, Clara lhe contou como vivia na Europa e como a mãe sempre se recusou a falar sobre ele e só dizia que ele era um...

- Fazendeiro ri... - ela parou de falar momentaneamente reparando nas roupas do pai, encharcadas e velhas. - Um fazendeiro.

- A gente produz queijo, mas também outras coisas vindas do leite. Temo até uma loja na cidade. Um pequeno comércio.

- Eu sei, foi lá que fui e... enfim... conheci meu irmão. - Petruchio sabia que havia sido ela que destruiu todo o estoque da loja naquele dia, típico de Catarina jogar coisas quando não conseguia o que queria, outra característica que o fez pensar que a filha lembrava a mãe. - Ela não mentiu só para você, ela mentiu a mim também, nunca soube, nunca passou pela minha cabeça, que eu tinha um irmão.

- E como ocê reagiu quando descobriu tudo? - ele estava curioso, mas também preocupado, ainda bem que a filha era permissiva e contava seus sentimentos, ao contrário do filho que não dizia nada.

- A gente teve a pior briga de todas. Eu disse coisas horríveis, e ela também retribuiu, disse que foi ver o Júnior e que se conectou com ele como nunca havia se conectado comigo...

- Ah ela foi disfarçada vê ele...

- E disse também que tinha feito a escolha errada dos gêmeos, que se arrependeu de ter ficado comigo. - Clara ainda ficava chateada com esse assunto, ele lhe doía no coração.

- Sua mãe quis brincar de Deus e isso só machucou ocê e seu irmão. Mas agora tudo vai ficar bem, nois vamo recuperar o tempo perdido.

Clara sorriu para ele aceitando a mão do pai que apertava a dela em compaixão. Ela passou o resto do caminho ignorando a dor na bunda por andar na carroça e com a esperança de que tudo daria certo. Foi quando ela viu a fazenda, que na cabeça dela não era uma fazenda, estava mais para um sítio, era tão pequena e desarrumada, logo na entrada com a placa com o nome: Fazenda Santa Clara estampado num pedaço de madeira que se sustentava apenas de um lado.

Segunda chance Onde histórias criam vida. Descubra agora