" In your body? "
Short aleatório
Sentia meu corpo leve debaixo do cobertor, aquele colchão macio, parecia estar me abraçando. Ah e aqueles braços ao meu redor... espera, o que ?
Abro os olhos lentamente não há muita luz, talvez seja muito cedo. Mas ainda sim, sinto que há alguém comigo. Coisa que não deveria acontecer.
— mas que? — sussurrei observando o ser à minha frente.
— está cedo meu amor, vamos dormir — meus olhos quase pularam para fora, quando escutei suas palavras.
Olhei atentamente seu rosto... eu conhecia aqueles traços, de longe, mas conhecia, eu o desejei por muito tempo.
Um pensamento me tomou por completo, mil preocupações me cercam. Nunca no mundo isso aconteceria, entretanto... será que estou sonhando?
Duvido
— quem é você? — quero ver sua reação, eu sei quem ele é, mas não sei se eu sou eu agora.
— eu sou Batman, vamos dormir — disse me trazendo para mais perto de seu corpo, fazendo com que eu não conseguisse o ver mais.
— eu... perdi o sono — tento me desvencilhar de seus braços, depois de um certo tempo, ele se cansa e acaba me soltando.
Saio da cama procurando com urgência o banheiro. Não conheço esse quarto, não é o meu, nem sei oque estou fazendo aqui... mas desconfio.
Finalmente acho o banheiro, fecho a porta, sem trancar de chave, paro um momento para pensar. Mas nada me vem.
Me viro, vendo assim meu reflexo no espelho. Não sou eu, nunca. Com cabelos negros, longos e lisos, olhos castanhas, pele aparentemente macia, lábios delicados... O meu rosto não é esse.
— que desgraça... — toco meu cabelo, sentindo as lágrimas descer. Não que eu esteja feia, ao contrário, mas não sou eu aqui.
Examino o restante do meu corpo, sentindo cada vez mais as lágrimas descendo, nada aqui é meu, nada aqui sou eu.
Cada parte desse corpo
Me traz desgosto
Insegurança
E repugnânciaMeu coração bate acelerado, estou desesperada, nada para minhas lágrimas. Sento no chão do banheiro, abraçando minhas pernas.
— isso é mais perturbador do que eu pensava — falo entre soluços.
As lágrimas continuam a cair, só que agora me falta ar. A sensação de insuficiência somente aumenta minha vontade de voltar, todavia, não sei como.
— nunca fui perfeita, mas estava satisfeita comigo. Não amava meu corpo, mas era meu corpo, meu... — murmurei tentando respirar, não consigo me acalmar em um momento como esse.
A todo tempo sinto que posso me desfazer, facilmente.
Escuto passos, e a voz dele logo se faz presente.
— meu bem... — ele abre a porta, vi seu desespero ao me ver aqui sentada no chão, quase não respirando e me afogando em lagrimas.
— respira, calma, me diz o que aconteceu. — se abaixou, passando sua mão delicadamente em meu rosto, na tentativa de enxugar minhas lágrimas.
— me diz, o que aconteceu? — as lágrimas agora descem mais intensamente, e quentes.
— não sou eu aqui, me tira daqui, não sou eu, por favor — falo soluçando, e as lágrimas continuam descendo.
Ele me abraça, tentando de certa forma me consolar.
— não é eu... — digo chorando escorada em seu ombro, ainda tocando no meu cabelo. Sinto falta, de mim, das partes que são minhas e que fazem sentido, mesmo em meio à uma completa bagunça.
— calma meu bem, vai passar, vai passar. Eu tô aqui, calma — fecho meus olhos tentando parar as lágrimas que caem, é inútil.
— vamos sair daqui primeiro, você vai acabar pegando um resfriado — fala colocando meus braços ao redor do seu pescoço e passando minhas pernas em sua cintura.
Sinto minha respiração voltando ao normal, mas ainda estou desesperada.
Ele levanta, andando em direção à porta, posso sentir suas mãos segurando na parte inferior das "minhas" coxas. Me acomodei melhor, evitando lhe olhar nos olhos.
— I hate this... — enquanto minhas lágrimas param e meu coração desacelera, voltando a seus batimentos normais.
— me odeia? Por que? — em vez de me deixar na cama, ele senta na mesma, fazendo com que eu ficasse sentada em seu colo.
— não você — não tiro a cabeça do seu ombro, nem os braços do seu pescoço.
— então oque ? — proferiu segurando em meus ombros e me afastando um pouco.
Ele está me olhando como se eu fosse uma rosa de vidro...
— foi só algo passageiro... nada de mais — ele continua a me encara de forma estranha.
— você não sabe mentir pra mim — diz com sua mão, agora no meu rosto.
— tudo desmoronou, e você não existe. — essa é a verdade, devo estar sonhando ou tendo um pesadelo.
— você ainda está inteira, mesmo se aí dentro não estiver, te ajudo a reconstruir — antes que eu falasse algo, ele me beija, e eu retribui.
Mas ainda é estranho, ainda estou em outro corpo, ainda é desconfortavel, e ainda não sou eu... eu quero voltar.
— você não vai... — parando e escorando a cabeça na curva do meu pescoço.
— o que você disse? — pergunto, é como se tivesse lido meus pensamentos.
— eu sei o que está pensando, foi só um momento de insegurança, não se perca aí dentro — suspirou profundo, suas palavras me convencem a ceder.
É estranho, eu não o conheço direito, apenas de vista, mas ele não sabe que eu não sou a dona desse corpo.
— é apenas uma ilusão... — falo sentindo suas mãos em minha cintura.
— vamos nos aproveitar dessa ilusão então — suas mãos percorrem meu corpo até meu pescoço, novamente ele me beija.
Levo minhas mãos até seu rosto e aprofundo mais o beijo.
Me afasto, e empurro seus ombros o fazendo deitar na cama. Volto a beijá-lo, com meu corpo em cima do seu, não por muito tempo, já que o mesmo me empurra para o lado, ficando em cima de mim. Me afasto escorando na cabeceira da cama, mas sinto sua mão puxar meu tornozelo, me trazendo para junto dele novamente.
— não fuja de mim meu bem — disse e logo me beijou intensamente.
Acho que não vou voltar tão cedo.