Planeta Azul

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"Por um gato e vários outros"

Em um lugar distante da nossa pequena realidade, um mundo frio e caótico coexistia. Nele habitava uma única jovem de olhos não claros como na maioria das histórias, escuros e talvez sombrios; um rosto delicado, sério e apático. Seus lábios pareciam ser a única parte calorosa da sua face e seus cabelos eram tão longos que chegavam ao chão, brancos e cacheados, lembrando as ondas do mar. Naquele frio cortante, a postura digna de uma princesa, caminhava por seu gélido e solitário planeta dia e noite à procura de algum ser vivente como ela.

Envolta em um vestido de tecidos vermelho e negro, destacava-se no branco e azul da imensa e interminável paisagem. Não comia, não bebia e havia parado de nutrir sua pouca esperança. E assim seguia, cruzando os horizontes, noite após noite, dia após dia...

Em outro mundo, a não muitos anos-luz de distância, existia um mundo belo, verde e azul, habitado por seres gentis, calorosos e unidos. No entanto, havia um jovem cujo coração era frio e pouco pulsante, de pele pálida, cabelos negros e olhos de um vermelho escarlate. Boa parte dos seres de sua espécie que o conheciam sentiam medo dele, devido à sua forma quieta e observadora de viver. Ele apreciava a pintura e a praticava. Muitas vezes, andava sozinho pelas florestas; outras vezes, passava longos tempos viajando em barcos à vela e, muitas vezes, se isolava em casa.

Um dia, depois de muito viajar, constatou que não havia mais para onde ir. Determinado, foi ao ancião de sua vila e pediu para que o mesmo o permitisse viajar em forma de estrela pelo universo. Sem relutância, o ancião se prontificou em transformá-lo em uma estrela e o enviar para o espaço. O ancião parecia feliz e levemente suspeito. No espaço, ele decidiu visitar as estrelas, explorar as nebulosas, observar os cometas e até a lua ele foi.

Depois de suas muitas andanças, de ter visitado quase todos os planetas, o elfo de olhos vermelhos refaz seu trajeto de volta ao seu planeta natal. Em um momento, seus olhos brilham quando se deparam com um planeta de áurea sombria, de tonalidade fria, azul e branco, talvez cinza, e que se torna mais frio a cada vez que ele se aproxima.

De forma não muito sutil, o elfo se estagnou no chão, não gravemente, ao mesmo tempo em que voltava à sua forma natural. Ao longe, a dama de vermelho percebeu uma movimentação e algo que caía do céu. Sua reação, diferente do que se esperava, foi de pura estática; ela parou, observou e rapidamente se negou a continuar a caminhada. O jovem elfo, sentindo o frio profundo e desolador o acalentar, podia ouvir ao longe barulhos de passos. Deitado, olhando para o céu cinza límpido e no meio de tanta neve, sentiu algo que nunca experimentara antes... conforto.

A dama andava calmamente em direção ao elfo. Ele, percebendo a movimentação e vendo ao longe uma bela criatura que vestia um vestido vermelho escarlate contrastante com a paisagem. Se fascinou com os longos cabelos dela que pareciam ondas de neve. A dama, por outro lado, não esboçava reação alguma, mas em seu interior nutria uma grande curiosidade. A poucos metros de distância, ela parou e, em silêncio, o elfo se levantou.

— A que planeta pertence, forasteiro? — Ela o olhava friamente enquanto dava passos curtos e calmos em direção ao elfo. Ela lutava contra si mesma e a emoção de conhecer alguém; deveria tomar cuidado.

— Mitery. — Respondeu firme e curioso, com um olhar inquisitivo. Ela conhecia o planeta... ela conhecia muitos planetas, apenas através de livros. Com desconfiança, parou em sua frente.

— Como poderia, um elfo tão distinto, ser de Mitery? — a moça escarlate o indagou, sua forma de perguntar era interessante e em sua mente o analisava, e não fizera menor sentido... Ele aparentava ser frio, como ele.

— Apenas sou. — balbuciou, ele entendia o julgamento, é visível a diferença, no entanto, ela era muito direta. De onde era? Como vivera? Será que amava alguém? Por que tão bela? Qual seu nome? Essas eram as perguntas que o cercavam. Tomou a postura séria e fechada que sempre tivera e virou-se para ir embora.

— Mas se a incomodo, me retirarei de seu planeta. — falou enquanto dava as costas a ela e se entristeceu em seu interior, ao pensar que teria de voltar aquele planeta.

Ela respirou o ar como se tivesse se assustado, de forma sutil, levantou o vestido para se mover melhor e o parou, segurando o ombro dele, levemente.

— Não vá... elfo. — sua voz era mansa e seu olhar, calmante. A mão agarrou o tecido da roupa do dele, entre as pontas dos dedos, uma ação são simplista. E a quilômetros de milhas em anos luz, é possível sentir uma energia divergente que emana de cada um.

Energias muito parecidas.

Ele à olhou calmamente mas surpreso, não esperava essa ação e o toque da moça era caloroso. Ficou curioso, se perguntando como poderia, em um planeta tão frio?

Eram duas criaturas frias se olhando, apáticos e um pouco sombrios à vista. Ela o soltou, tomando sua postura novamente e ele se voltou para ela, curioso.

— o que você é? — seus olhos pacíficos, cheios de nada além da falta de expressão. De longe, era uma situação estranha. O elfo não conseguia parar de sentir uma sensação quente e reconfortante, a qual não havia sentido antes, em nenhum lugar.

Ela o encarou com sombrancelha ligeiramente arqueada, era curioso, há tantas respostas para essa pergunta. Em uma movimentação sutil, junta as mãos, a esquerda em cima de sua direta, repousada junto a sua barriga.

— o que espera ouvir? Eu sou uma elfa, só não como você. — a voz que sairá da boca desta moça, parecia melodia paravos ouvidos do forasteiro. Ela não era muito expressiva.

— não sabia que existem outros tipos de elfos? — o questionamento da dama foi sarcástico, sincero e curioso.

O elfo a encarou com uma sombrancelha arqueada e estreitou os olhos, como que a analisando, parou e voltou ao estado normal.

— não como você, uma elfa que aparenta ser tão fria... Todos do seu povo são assim?

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