Não calculei o quanto comi, mas sei que nada conseguiu barrar a sensação esquisita que rodeia meu estômago nesse instante. Jisung está ao meu lado, conversando algo com meu primo, mas mesmo com sua mão encaixada em minha cintura, não consigo sequer olhar para seu rosto. É como se estivéssemos em ambientes diferentes, em mundos completamente distintos, porque enquanto ele ri de alguma coisa idiota dita por Cacá, só consigo encarar o pedaço do bilhete exposto, debaixo de minha perna, pensando em cada palavra escrita.
Minha cabeça esquenta, fervendo em pensamentos, tenho a sensação de que estou vermelha. Reflito sobre tudo aquilo que não sei sobre Jisung, e o tanto que ele evitou uma conversa séria entre nós desde que voltou. Estou me distraindo demais com o contato físico que estamos tendo e esquecendo da parte mais importante.
Então, de repente, ouço um estralo. Meu avô deu um tapa na careca de Cacá. E é no momento em que todos começam a rir, que aproveito para afastar a mão de Jisung, porque não consigo raciocinar direito quando ele me encosta.
E foi em um piscar de olhos, virando a cabeça em outra direção, que minha pele queimou, ao encontrar o olhar
de Seungmin fixo em mim. Ele estava na barraca, um tanto distante, mas em momento algum deu sinal de que iria cortar contato, o que me fez comprimir os lábios inquieta, minha vontade é de correr até ele e pedir explicações. Não estou em um filme de suspense para precisar decifrar bilhetinhos.Mas o que faço é me manter ali, sentada, o encarando, e nosso contato visual só se desfaz, quando um cliente aparece na barraca, captando a atenção de Seungmin por completo. Checo o bilhete com o olhar mais uma vez. Estou tentando afastar o sentimento que começa a me dominar aos poucos, a sensação de que aquela frase contém pedaços de verdades. Não conheço Seungmin, mas preciso lembrar de que também não conheço Jisung o suficiente. Merda. Estou perdida.
E durante as horas que se sucederam, assisti Jisung se entrosar de forma espontânea nos assuntos como se fosse parte da família, mas eu, não consegui me inserir na conversa em momento algum. Era como se eu estivesse invisível ali, porque minha cabeça estava em outro lugar. A todo instante meu olhar se encontrava com o de Seungmin, e eu começava a arquitetar formas de ir até lá discretamente exigir explicações sobre aquela merda de bilhete. Aquele simples pedaço de papel havia arruinado o meu dia.
- Tá rolando alguma coisa entre vocês? - Meu coração pula com o susto.
As sobrancelhas baixas de Jisung falam por si: ele está irritado. Seu rosto está completamente tenso de uma forma que me intimida, fazendo com que eu me sinta uma traidora.
- Ele me contou que recebeu a intimação. - Minha resposta sai espontânea.
- Ótimo. - Sua voz soa sádica, o que me traz um pouco de desconforto.
- Eu acho que...
- O quê?
-- Deveríamos ter deixado isso pra lá... - Abaixo a cabeça, porque não consigo olhar em seus olhos.
- O quê?
- Olha pro Seungmin... - Minha mente passeia pelas lembranças da festa, sua voz perguntando se eu queria conversar, seu abraço, sua tentativa de me confortar, a água... - Não foi ele, Jisung.
E é perceptível que o irritei trazendo aquele assunto novamente, porque de repente, ele levanta a cabeça e trava a mandíbula como se tivesse escutado um insulto.
- E quem mais te deu coisa pra beber? - Inesperadamente ele pergunta, se virando para mim com uma expressão de raiva que me deixa acuada.
- Você.
Digo a verdade, mesmo que já não passe pela minha cabeça que Jisung tenha colocado algo no que bebi.
E como esperado, ele respira fundo. Consigo notar pela forma que solta o ar, que está tentando ganhar paciência.
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O Preço Do Verão - Han Jisung
FanfictionE se o Jisung fosse carioca? Sair da cidadezinha de Santos da Mata para respirar o ar carioca sempre valia a pena, e é por isso que viajar para Itaipuaçu no Rio de Janeiro já havia se tornado uma tradição da família de Juliana. Mas, daquela vez, era...