O preço da bebida gratuita

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— JULIANA!

Já era a décima vez que minha avó gritava meu nome, sem exageros.

— Eu já vou!

— Anda logo, menina, tá arrumando o quê aí, que não vem nunca?

— Tô indo, tô indo, que saco!

Fechei o zíper da mala com raiva. Tanta raiva que o negócio acabou abrindo. Estraguei o zíper, e agora não consigo fechar. Eu mereço... Culpa da pressa da minha avó.

— JULIANA!

— Que caramba!

Eu ainda tentava fechar a mala, ouvindo aquela velha gritando meu nome de forma contínua. Era inútil, a merda já estava feita. Bufei, frustrada, e levei a mala com cuidado para o lado de fora, forçando-a para que minha coisas não caíssem no chão.

— O que você fez com esse trem? Não tem cuidado com nada!

Não me leve a mal, amo minha avó, mas ela me estressa pra caramba, ao extremo.

— É a sua gritaria que me atrapalhou!

— Anda logo, José Roberto, coloca logo esse troço aí! Desse jeito vamos perder um dia da viagem!

— Calma mãe, calma! Hoje a senhora tá exaltada, hein? — Ele riu.

José Roberto, ou melhor, Zinho, era meu tio, tinha 37 anos, e era meio... "Vibes", se é que você me entende. Quando ele pegou minha mala e colocou no porta-malas, pude ver mais de perto a nova tatuagem que havia feito no braço: uma caveira com chapéu rasta, achei meio cafona.

— Só isso, Ju? — Seu tom de voz descontraído conseguia amenizar um pouco o estresse causado por minha avó.

— Sim.

— Só?! A menina tá levando o guarda-roupa inteiro! Vamos ficar só umas três semanas, não se mudar pra lá!

— Venina... Deixa a menina... Mulher não tem dessas de usar muita roupa? Julinha quer exibir os looks, vai que encontra uma paquerinha na praia.

Esse era meu vô, Dorival. As vezes ele era bem ranzinza, mas também sabia ser muito brincalhão.

— Que paquerinha, vô! — Eu ri.

— Vão boraaa, vão bora que dona Venina tá ficando estressaaada. — Meu tio abraçou minha avó.

— Me solta menino!

E então todos entramos no carro. Suspeito que meu avô tenha comprado uma dúzia de CDs exclusivamente pra essa viagem, pois até chegar na roça do meu outro tio para buscar meus primos, tenho certeza de que escutamos um disco inteiro do Agnaldo Timóteo. Escutar aquelas músicas sofridas de amor dentro do Fiat antigo, enquanto passávamos por uma estrada de terra, quase tapada pelo matagal ao redor, parecia mais a cena inicial de um filme de terror. Pensar que em 8 horas estaríamos de frente para o mar, mais perto da areia do que do barro e do esterco, parecia até mentira.

O Preço Do Verão - Han JisungOnde histórias criam vida. Descubra agora