PRECONCEITO

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O preconceito já tomou conta no primeiro instante que Suzy chegou no sótão e me viu levantando os meus ombros para cima e para baixo, ativando a musculatura dos braços e tronco, me preparando para me exercitar, como Joel. Mesmo quando não se tem muito espaço, o aquecimento antes da dança não pode ficar de fora do ritual. Essa movimentação é uma excelente alternativa para preparar o seu corpo antes de começar. Doce ilusão! Endrik... Ouço uma voz grossa assustadora me chamando no exato momento em que flutuava em movimentos leves me imaginando em um grande palco. Você é gay? Perguntou sr Leôncio ao lado de Suzi que parecia horrorizada vendo uma coisa de outro mundo. Com os olhos esbugalhados levei um tremendo susto já sentindo a ardência de sua mão queimando minha pele. Naquele momento senti pela primeira vez o peso do preconceito. Já no meu quarto passei a primeira noite com fome como forma de castigo. Chorei em meu travesseiro até adormecer em soluços. Logo ao amanhecer ouço gritos parece uma discussão. Suzi falava que ele é só uma criança! Leôncio esbravejando afirmou, vai virar homem nem que seja debaixo do chicote. Morrendo de medo me encolhi no cantinho entre a cama e o guarda roupa. De repente três Toque na porta e o barulho da fechadura se abrindo, era Suzi chamando para tomar café. Chegou até mim se ajoelhando ao meu lado. Precisamos conversar Endrik, você é gay? Não senhora! Respondi morrendo de medo do Sr Leôncio aparecer me batendo novamente, até porque estava na cara que já fui julgado e condenado sem a mínima chance de defesa. Então vai ter que me provar se quiser viver nesta casa moleque. Entrou Leôncio dizendo com a cinta em uma das mãos, aqui não admitimos esses tipos de gazela, que negócio era aquele que vi ontem no sótão? Você pode explicar? Sim senhor! Respondi já todo trêmulo esperando o pior acontecer. Meu pai Joel era bailarino Sr, ele e minha mãe eram parceiros na dança. Foi com eles que aprendi a gostar do balé. Chegou pode parar! O homem me interrompeu em um grito, me levantando bruscamente do chão. Aqui na minha casa não tem boiola, vou lhe deixar um aviso, e será apenas um. Se eu ver você feito uma bonequinha se requebrando novamente não sairá do chão! Estamos entendido moleque? _ Sim senhor! Respondi morrendo de medo até de respirar.

Ali vi meus sonhos escorrendo pelo ralo. Passei anos sendo alvo dos seus preconceitos, ele era totalmente homofóbico. Após crescer um pouco treinava escondido nos momentos que eles se afastavam por algum motivo.

A grande marca ficou registrada em minha memória, no dia em que eles foram fazer uma pequena viagem mas voltaram no meio do caminho me surpreendendo exatamente no meio de um dos meus ensaios a solo. Um barulho ensurdecedor fez o tiro que destruiu minha caixa de som! Que merda é essa aqui? Perguntou sr Leôncio já de punho fechado me socando a todo vapor. Foi a maior e pior surra que levei na vida. Só parou de me bater quando perdeu as forças. Todo quebrado pelo chão fui me arrastando até o porão ao som de sua voz estridente dizendo, no instante que deixava minhas mãos acorrentadas. Eu te avisei Endrik, não aceito bonequinha em minha casa! Adotei um menino, um macho e não uma gazela.

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