❧ Capítulo III

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D A X T O N

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"Eu não sou bom para você
Querida, sou uma má notícia
Queria que não fosse verdade"

Bad News - Lany

O restante da viagem foi regado a um silêncio brutal que minou qualquer chance de uma nova conversa. Eu não me preocupei em esconder meu mau humor pelos elogios que fora obrigado a ouvir e minha mãe não fez questão de fingir que havia tirado onda com a minha cara. Pelo menos ela estava brigando comigo e não chorando copiosamente, assim era bem melhor e eu sabia lidar.

— Chegamos — disse em um tom que misturava alívio e alegria assim que paramos em frente a uma casa grande, pintada em tons claros, com uma varanda enorme e um jardim muito bem cuidado. Um salgueiro mediano ocupava o lado esquerdo da grama verdejante, fazendo uma sombra sobre as pedrarias que recobriam o caminho da varanda à calçada. Mamãe não esperou que eu dissesse algo para pular do carro, avançando pelo jardim até a porta de entrada e tocando a campainha como quem tocava o botão de emergência, sendo atendida de um jeito quase que imediato. Algo naquilo me fez suspeitar que Helene Prescott estava esperando próxima à porta, contando os segundos para abri-la e ver sua amiga.

Eu me pus para fora do veículo, sentindo cada músculo do meu corpo dolorido sofrer um pouco ao se alongar, mas gritando pela enfim libertação. O vento gelado e com cheiro de natureza batia contra meu rosto letárgico e cansado, me deixando um pouco mais acordado. Aquele ar limpo era tão diferente do cheiro de fumaça e poeira que cobria Sacramento que parecia até ser mais difícil de respirar. Fui até a varanda a passos bem lentos, quase parando no meio do caminho, no intuito de dar o devido espaço para que minha mãe pudesse abraçar sua amiga sem ser assistida pelo filho canalha e que não passava de um miserável insensível.

Palavras da mesma, eu só estou repetindo.

As duas não passavam de um montinho bem apertado quando subi os míseros dois degraus, alcançando o piso de madeira escura. Elas se separam ao notarem minha presença, se voltando para mim com os olhos vermelhos. Helene esticou os braços em minha direção e, sem dizer nada, me puxou para um abraço de esmagar minhas costelas. Não entendi como uma mulher daquele tamanho podia ser tão forte.

— Oh, meu menino, você está tão grande — murmurou, dando alguns tapinhas amigáveis em minhas costas — Está tão crescido e bonito...

Eu agradeci com um sorrisinho envergonhado, me tocando tardiamente de que ela não via meu rosto. Assim que nos separamos, Helene manteve as mãos tão firmes quanto as da minha mãe em meus ombros, me analisando de cima abaixo com criticidade. Eu engoli em seco, sem saber ao certo para onde olhava.

— Ele é a sua cara mesmo, Syl.

Mamãe deu uma gargalhada orgulhosa seguida de um tapinha no ar. Ela adorava se gabar pelo o que havia feito.

— Um olho é meu, o outro é do... — ela parou bruscamente, engasgando-se em suas palavras — Enfim, o cabelo preto é meu também — tentou consertar, dando de ombros com certa dificuldade ao receber um olhar piedoso de Helene. Seus olhos tornaram a se avermelhar, enchendo de mais lágrimas.

Era do meu pai. O meu outro olho. O azul vinha dele. Era isso que minha mãe ia falar, como sempre fazia quando alguém se espantava ao me olhar e ver que eu tinha um olho azulado e o outro esverdeado.

Sim, eu tenho uma cada pupila de uma cor. E não, infelizmente isso não é um superpoder que me permite ter visão de raio x ou queimar as pessoas com laser, é apenas uma condição genética. Heterocromia.

Addie & Dax │✔│Onde histórias criam vida. Descubra agora