❧ Capítulo XXXII

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D A XT O N

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"As manchas do seu batom
No lóbulo frontal do hemisfério esquerdo do meu cérebro
Eu sabia que não ia te esquecer
E então deixei você pirar a minha cabeça"

Hey Soul Sister – Train

— Estou me sentindo péssimo com isso.

— Foi só um beijo, Dax — Allie disse pela sei-lá-que-vez — Não é o fim do mundo, relaxa.

Soltei todo o ar que continha em meus pulmões num suspiro demorado e barulhento, acirrando um pouco mais a mão que apertava alguns fios do meu cabelo, como se pudesse arrancar aquelas memórias errôneas da minha cabeça. Não funcionou, de novo. Tudo o que consegui foi a sensação de que meu couro cabeludo estava sendo arrancado, o que não era uma total mentira.

— Não é nem tanto pelo beijo em si, Allie — murmurei numa negação ferrenha ao me lembrar dos frágeis e bons instantes em que beijei Adelaide — Eu não deveria ter feito isso, não sei o que deu em mim...

— Calma lá, cara. Você disse quem foi ela quem te beijou, não foi? Por que está se sentindo culpado?

Minha careta desgostosa deu a confirmação de que ela precisava antes mesmo que eu abrisse a boca.

— Foi, mas não é como se eu tivesse impedido ou não tivesse correspondido. Eu... eu a beijei de volta, entende? Eu quis beijá-la, Allie. É isso que está me matando.

Allie não respondeu nada durante alguns bons minutos, mas nem precisaria. Eu sabia exatamente o que ela estava pensando e, de tudo o que queria naquele momento, ouvir um sermão seu estava em último lugar na lista.

Quando a dor em minha cabeça passou a um estágio incômodo, eu abri meus dedos e os deixei que caíssem preguiçosamente contra cama. Estava me sentindo péssimo pelo que tinha feito na noite passada, mas me sentia ainda pior por ter sido tão grosso com Adelaide naquela manhã.

É só que... droga, aquela garota me confundia. Ela tinha um jeitinho doce e manso de chegar que eu nunca percebia até estar perto demais para conseguir cair fora. O dia em que quase a beijei no quintal tinha sido do mesmo jeito, não percebi o quanto estava preso na delicada beleza de seu rosto e na brandura de sua voz até aquela bendita buzina esgoelar na rua e quebrar o perigoso momento, me safando de fazer algo que eu sabia que me arrependeria depois.

Porém, na noite passada, eu me senti ainda mais preso nas nuances angelicais de Adelaide. Acho que em parte foi culpa de sua apresentação na formatura, eu realmente me encantei com ela e com a beleza que emanou de si enquanto cantava, parecia algo surreal. Mas, lá no parque, tudo pareceu piorar rápido demais para que eu conseguisse fazer algo contra. No começo, eu só queria tentar arranjar um jeito de fazê-la enxergar o quanto Will era ruim para ela, mas, quando dei por mim, estava me esforçando ao máximo para fazer a garota sorrir e parar de chorar. E, por Deus, cada sorrisinho que ela dava parecia uma injeção de ânimo em minhas veias. Era lindo e impagável.

Então, ela me beijou. Foi algo repentino, num piscar de olhos se ergueu e tocou meus lábios com os seus de um jeito que me fez esquecer de tudo e me concentrar naquilo. E, durante alguns miseráveis segundos, tudo o que eu quis foi beijá-la. Beijá-la pelo restante da noite, pelos restantes dos meus dias na Terra, apenas beijá-la enquanto pudesse. Porque seu beijo era bom. E, mais do que bom, era... nostálgico. O quanto isso é estranho? Muito, eu sei. Mas, beijar Adelaide tinha sido como encontrar algo perdido. Reviver um momento passado. Só que minha consciência conseguiu se fazer ouvir em meio àquela loucura, e o quanto ela pesou depois apagou todo o brilho do momento.

Addie & Dax │✔│Onde histórias criam vida. Descubra agora