❧ Capítulo LXXVI

2K 243 230
                                    

︵‿︵‿୨♡୧‿︵‿︵

A D E L A I D E

︵‿︵‿୨♡୧‿︵‿︵

"Você está no meu DNA, eu não consigo fugir
Não importa o quanto eu tente
Você está correndo em minhas veias, algo que eu não posso mudar"

Fallen Star – The Neighbourhood

O que mais me incomodava não era a dor que parecia capaz de explodir minha cabeça a qualquer instante. Nem a dor pungente e infindável do corte cicatrizando alguns centímetros para a esquerda do meu umbigo, feito para que os médicos conseguissem arrancar o maldito projétil da minha barriga. Muito menos o fato de que eu estava, há dias, enfurnada dentro daquele hospital gelado, inanimado e sem graça, e só era capaz de diferenciar o dia da noite por causa da janela minúscula com a privilegiada vista para o outro bloco do prédio. Nada disso me afetava tanto quanto a dor de não saber o que aconteceria entre mim e Dax.

Isso sim me incomodava.

Era uma dorzinha aguda que parecia ter se instaurado bem no meio do meu coração, me lembrando de sua existência a todo momento, incapaz de me deixar em paz. Talvez fosse porque o motivo dela também não desaparecia da minha frente. Dax estava vivendo naquele hospital tanto quanto eu.

Ele passava dia e noite sentado na cadeira ao lado da minha cama, ignorando as próprias preocupações enquanto cuidava de mim e tentava me entreter de alguma forma. Um dia, trouxera um baralho e me ensinara a jogar truco e um outro jogo que aprendera na prisão. No outro, trouxera um banco imobiliário e passamos boa parte da tarde competindo para ver quem quebrava o outro primeiro. Às vezes, ficávamos apenas conversando sobre qualquer coisa que ocupasse nossos pensamentos. E as conversas iam desde a enfermeira mal-humorada do turno da madrugada, passando pelo residente bonitão que parecia flertar com Dax sempre que estava no andar e dava um jeito de passar no meu quarto, até o fato de que, de todas as gelatinas que vinham como sobremesa, a de limão era a pior possível. O auge de seu esforço, no entanto, fora o dia em que ele e Blake conseguiram trazer Nick escondido dentro da bolsa dela. Eu chorei o suficiente para encher um rio de tamanho médio quando abracei meu bichinho e afundei meu nariz em seu pelo macio e cheiroso, mas chorei mais ainda quando ele foi embora para casa e eu continuei prostrada na cama.

Até mesmo as crianças do orfanato me fizeram uma surpresa. Dax e Allie, que decidiu passar uns dias em Indiana, deram um jeito de trazê-las e nós passamos uma tarde inteira brincando enquanto ele arranjou uma caixa de tinta guache e bancou o tatuador infantil outra vez. Uma enfermeira viu a arte e, no dia seguinte, pediu se Dax poderia visitar a ala pediátrica em algum momento. Ele foi e, mesmo sem poder ir também, eu ouvi as conversas sobre o cara tatuado e meio mal-encarado que estava fazendo a diversão da criançada. Ouvi rumores até de que ele era um gato e despertou a atenção de um monte de mães. Não sei se consigo encontrar palavras o suficiente para expressar o quanto senti orgulho dele naquele momento. Não só pelo gesto de levar um pouco de leveza e alegria a um ambiente tão triste quanto a ala pediátrica de um hospital, mas por ter se tornado um cara tão incrível e gentil. Dax evoluíra de um jeito assustador.

Nós fizemos o exame para detectar parentesco, mas, por eu ter feito transfusão de sangue, foi indicado que usássemos nossas salivas para minimizar um resultado errôneo. Isso já tinha quase uma semana e meia e ainda não havíamos recebido o resultado. A enfermeira que colheu o material genético disse que era normal que demorasse mesmo, até porque o processo de sequenciamento e análise do DNA leva tempo, só que eu tinha a sensação de que isso era a mais macabra das formas de tortura. Tudo o que eu mais pedia em minhas orações era que alguém chegasse de repente com o exame em mãos. E que ele desse negativo, claro.

Addie & Dax │✔│Onde histórias criam vida. Descubra agora