❧ Capítulo II

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A D E L A I D E

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"São altos e baixos
As águas secaram
Tenho que voltar ao ritmo
"

Lush life - Zara Larsson

A cerca de dois dias minha mãe me disse que sua melhor amiga, uma pessoa com quem cresceu e compartilhou momentos importantes de sua vida, viria passar um tempo em nossa casa enquanto não encontrava um novo lugar para morar. Ela não me explicou o motivo da mudança repentina, apenas disse que Sylvia estava passando por um momento muito difícil em Sacramento e que precisava do nosso apoio mais do que tudo.

Ah, ela viria com o seu filho, o Daxton.

Até aí tudo bem, é óbvio. Nossa casa era grande e tinha espaço para mais gente. Principalmente depois do divórcio e da mudança do meu pai para Austin, eu e mamãe passamos a ficar muito tempo sozinhas. Quando ela estava em casa, eu estava na escola e, quando eu estava em casa, ela saía para trabalhar. Seus turnos são bagunçados e nos desencontrávamos o tempo inteiro. Às vezes, ficávamos dias sem nos ver. Mais gente ocupando os quartos e gerando movimento sob aquele lar parado me parecia uma ideia legal, sem contar que eu conhecia Sylvia e gostava dela. Não via problema algum nisso.

Mesmo na parte em que um cara desconhecido de dezenove anos iria habitar sob o meu teto eu não dei muita bola, por mais que ele não me fosse um total estranho. Eu me lembrava de Daxton quando éramos mais novos. Fazia alguns anos que nãos nos víamos, se não me engano a última viagem em que ele veio à Burnely tinha recém feito doze e havia um projeto de algo que poderia se tornar uma barbicha crescendo em seu queixo. Lembro que, nessa viagem em específico, nós brigamos tão feio que chegamos a ficar de castigo por dias. Separados, claro. A vivência em conjunto era algo que beirava um manicômio. Só não me lembrava o motivo. Acho que nunca teve um em específico, apenas vivíamos em um pé de guerra ferrenho. Dax sentia o diabólico prazer em me chamar de Adelaide, e eu queria, mais do que tudo, fazê-lo se engasgar com a própria língua e morrer sufocado.

Não é que eu não ache meu nome bonito, não me entenda mal. Tem um significado legal e tudo o mais, mas poxa, Addie é bem mais prático e não me faz sentir uma vovozinha de noventa anos que tricota casaquinhos. Quem se chama Adelaide hoje em dia? Vovós que tricotam, com total certeza. Minha mãe foi inventar de homenagear a bisavó e me fez envelhecer uns quarenta anos só no nome.

Ah, tinha uma outra coisa que eu me lembrava do garoto. Ele tinha um olho de cada cor. Uma íris era de um azul-oceano, fria e séria. A outra era um verde-esmeralda, vivo e enérgico. Essa memória estava muito viva em minha cabeça porque eu sempre achei o máximo e, por mais que me sentisse incomodada por não saber direito para qual pupila olhar, eu achava muito legal conhecer alguém que tinha aquilo. Mesmo que ele fosse um completo idiota.

Então, quando mamãe me disse meio por alto que o tal do Daxton também viria no meio da mala eu não dei muita bola. Ele seria muito bem-vindo em minha casa e eu seria educada com o garoto que era um porre quando criança, nós havíamos crescido e eu tinha certeza de que a chatice teria ficado para trás. Pessoas de dezenove anos geralmente são mais legais do que pirralhos de sete e pré-adolescentes de doze. Ao menos, essa é a lógica natural da vida, não é?

— Addie? — a vozinha doce e ainda fragilizada de Lily retumbou em meus ouvidos, gritando por minha atenção — Addie, você está no mundo da lua, é?

Eu balancei a cabeça algumas vezes, afastando os pensamentos sobre Daxtonpara longe e me concentrando na garotinha à minha frente.

— Sinto muito, acho que estou sim.

Addie & Dax │✔│Onde histórias criam vida. Descubra agora