Capítulo 7.

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*Peter Steele*

Correndo pelas ruas enquanto me exercitava, tentando tirar da mente as lembranças que agora, nesses últimos dias, se tornaram mais recorrentes, olhei para o relógio em meu pulso vendo que daria tempo de ir tomar café em um restaurante antes que eu fosse buscar Merlia. Já que hoje era a tarde dos titios e Hendrick e eu iríamos levá-la ao shopping para assistirmos algum filme.

Foquei minha mente na música, nos meus passos dados e na minha respiração, mas mesmo assim não fora o suficiente, eu já começara a me lembrar de forma vivida dos piores dias da minha vida.

A lembrança de seu lindo e delicado rosto me alcançou, a forma como sorria, como falava e como era boa para mim. Em como apenas seu toque era o suficiente para me fazer esquecer qualquer coisa que acontecesse e me proteger.

Balancei a cabeça tentando evitar, mas podia sentir como se estivesse vendo-a no chão, morta. O cheiro de sangue era tão real em minhas narinas que parecia que eu estava mesmo vivenciando tudo novamente.

Gritaria, escuridão, o som das coisas se estilhaçando no chão.

Parei de correr, sentindo o ar faltar em meus pulmões e tudo ao meu redor embaçar, crise. Eu estava tendo mais uma crise.

Caminhei sentindo meu corpo pesado, tropeçando no chão algumas vezes e esbarrando em outras pessoas. Entrei em um restaurante e fui em passos duros até o banheiro com certa dificuldade.

Apoiei minhas mãos na pia enquanto tentava focar em alguma coisa que me trouxesse de volta, mas nada, absolutamente nada vinha em minha mente. Apenas o rosto dela, pálido, ensanguentado e sem vida.

Eu fiz aquilo, eu fiz tudo aquilo, eu machuquei aquelas pessoas. Tanto ela como ele..

Minha vista estava escurecendo, eu sentia-me sufocado. Era como se estivesse morrendo.

Fechei os olhos e contei até dez, como minha psicóloga havia me ensinado, focando nos barulhos ao redor e no gosto em minha boca. Uma imagem rápida passou em minha mente, me fazendo pensar em outra coisa.

Helena, era a Helena.

Lembrei-me da noite em que passamos juntos uma certa vez, dos seus cachos espalhados pela cama e em meu rosto, eu podia ouvir sua risada gostosa quando resmunguei sobre cortar o cabelo dela porque sempre ficava na minha cara. Mas era mentira, eu adorava aquilo.

A sensação do peito nu e quente dela contra o meu, nossas respirações calmas e lentas, como se enfim estivéssemos encontrado a paz.

Abri os olhos, percebendo que tinha me acalmado e sorri balançando a cabeça. Era ela, sempre foi a Helena. Na época em que estivemos juntos, eu nunca havia sentido tanta paz. Mas não podia negar que a ideia de amar, o amor em si, me assustava.

Ela estava certa quando disse que eu não tinha feito absolutamente nada para tê-la, Helena estava certa em tudo. Mas eu nunca precisei disso, eu nem mesmo entendo o que sinto. E ainda mais agora, que as coisas estavam voltando a me assombrar novamente.. mas talvez eu pudesse conseguir, algo em Helena alimentava a única faísca de que talvez eu pudesse ser uma pessoa boa, alguém bom para ela.

E era essa faísca que não me deixava desistir.

(...)

- Ei, nada disso - tampei a visão de Merlia quando o príncipe encantado apareceu na tela e ela bufou indignada.

- Eu já vi o príncipe Naveen outras vezes, tio Peter.

- Mas não verá agora, não com a gente. - reclamou Hendrick.

- É isso aí, nada de príncipes para você, mocinha.

Ela tirou minha mão indignada e bufou novamente encontrando a mão de Hendrick atrás da minha e sorrimos.

Reconquista-me, se for capaz - Livro 3 da saga: Os cavalheirosOnde histórias criam vida. Descubra agora