Onze

788 95 37
                                    

Bianca estava sentada no sofá da loja de vestidos, folheando um exemplar de Noiva Perfeita. Seis dias se passaram desde que bebeu com Rafaella, sua mãe e Mariana. Precisava admitir que ficou impressionada. Rafaella a ganhou com seu charme, mas também conseguiu convencer sua mãe e Mariana, o que não era algo fácil. A moça se esquivou de todas as bombas que a melhor amiga atirou nela. Se não estava enganada, ela disse que estudou psicologia na faculdade. Se fosse verdade, certamente se lembrava de tudo que aprendeu. Diferentemente de Bianca, que tinha diploma em economia e nunca usava nada do que aprendeu. Ainda assim, pensava na faculdade como uma época divertida, apesar de se arrepender de não ter prestado tanta atenção. Essa época era desperdiçada pelos jovens. Assim que pensou nisso, sorriu. Ela só tinha trinta e seis anos. Não era assim tão velha. Mas às vezes, parecia.

Mariana havia mandado uma mensagem no dia seguinte avisando que estava “bem com Rafaella”. Esse era o máximo de apoio que conseguiria da melhor amiga. Mariana prometeu não massacrar Rafaella no final de semana, o que fez Bianca suspirar. Não é verdade que as madrinhas deveriam se esforçar para fazer todas as suas vontades? Ou talvez tudo isso fosse mentira. Assim como sua relação com os pais de Martin. Estava feliz com Rafaella assumindo, mas não conseguia deixar de pensar que não duraria para sempre. Ainda seria a esposa de Martin. Os pais dele teriam que fingir que gostavam dela para o resto da vida.

Seria a esposa de Martin.

Bianca estremeceu. Era uma reação normal para uma noiva há duas semanas do casamento? Ou talvez fosse só o nervosismo?

Sim, era isso.

Queria poder compartilhar suas hesitações com alguém, mas não sabia com quem.

Estava ocupada com o trabalho. Sua mãe havia assumido a posição de chefe de departamento. Mariana estava muito envolvida com seus próprios problemas. E Martin? Estava ocupado demais se esforçando para deixar todos felizes.
Isso era algo com que Bianca precisaria lidar sozinha.

O que Rafaella diria se soubesse? Talvez devesse falar com ela. A moça devia ter experiência no assunto e saberia o que dizer.

Respirou fundo, afastando os pensamentos. O aroma da loja invadiu seus sentidos. Olhou em volta, tentando encontrar de onde vinha. Algum tipo de difusor? Daqueles de tomada? O que quer que fosse, o cheiro parecia estar carregado de produtos químicos. Como se o ambiente relaxado fosse artificial. Mais ou menos como tudo relacionado ao casamento, assim como começou a perceber desde o momento em que disse “sim” para Martin, há seis meses.

Era estranho que os dois só tivessem transado duas vezes depois disso? E nenhuma vez nos últimos três meses? Não moravam juntos, então não era algo que podiam fazer antes do trabalho, ou uma rapidinha no sofá depois de jantar.
Desde que ele fez o pedido, era como se seu corpo tivesse entrado em quarentena. Ela nem conseguia sentir prazer consigo mesma. Entrou em modo de sobrevivência, só fazendo o básico: comer, dormir, beber e trabalhar. A única vez que seu corpo pareceu acordar foi quando se encontrou com Rafaella. Mas estava tentando ignorar esse fato. A presença da jovem fazia com que ela se sentisse instável, arisca e sem equilíbrio. O que era ridículo. Não sentia atração por mulheres. Na maior parte do tempo.

Bianca encarou a vela do outro lado da mesa. Provavelmente era de onde vinha o cheiro estranho. Gerânio e alguma outra flor, se ela tivesse que adivinhar. Talvez rosas? Ela não gostava, independentemente do que fosse. Adivinhações não eram seu ponto forte. Estava constantemente se questionando o que pensava quando se tratava de Rafaella.

Bianca não se sentiu atraída por muitas mulheres na faculdade. O que aconteceu foi algo casual. Experimentou e transou com uma mulher.

Gostou. Tirou da lista. Mas foi uma vez só.
Depois disso, só transou com homens. Será que isso significava que era bissexual? Pansexual? Será que precisava ter um relacionamento com uma mulher para usar esse rótulo? Não sabia se só três orgasmos bastavam.

MADRINHA DE ALUGUELOnde histórias criam vida. Descubra agora