Oito

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— Você arrumou o tocador de gaita ou quer que seu pai ligue para o tio dele?

A mãe de Bianca, Mônica, estava sentada no sofá de veludo vermelho, comendo peixe frito com batatas ainda na embalagem. Dizia que ficava mais gostoso assim.

Bianca tinha que concordar. Infelizmente, a maior parte dos seus dias não incluía coisas como comer peixe frito e batatas direto da embalagem. Conseguia imaginar a expressão de Marjorie. Na verdade, não tinha nem certeza de que um maníaco por limpeza como Martin lidaria bem com isso. Ele ficaria louco com o tanto de óleo perto do veludo.

— Não, a Rafaella já acertou tudo.

— Quem?

Bianca corou.

— A pessoa que está ajudando com o casamento.

Ainda tinha que contar para Mônica que Rafaella estava trabalhando para ela, mas sempre adiava. Não sabia como explicar sem soar como o tipo de pessoa que costumavam ridicularizar desde a infância.
Pessoas sofisticadas.

Bianca não era assim. Não havia esquecido das suas raízes. Contratou um tocador de gaita. Ainda comia peixe frito com batatas direto da embalagem. Continuava com os pés no chão.

— A organizadora? O nome dela não era Lauren?

Bianca comeu outra batata. Então, deixou-as de lado. Não podia comer demais, não é? O casamento seria em três semanas e precisava entrar no vestido. Tinha que impressionar as pessoas. Pela manhã, Martin disse que a cerimônia sairia em uma coluna social. Era um mundo muito diferente daquele onde estava agora, sentada ao lado da mãe com os dedos cheios de óleo.

— Não, é isso mesmo. A Lauren ainda é a organizadora, e está cuidando das coisas maiores. Mas ela trabalha para a Marjorie. A Rafaella foi o Martin quem contratou.

— Mais empregados trabalhando para os Montgomery? — Mônica ergueu o mindinho conforme comia outra batata. Usando calça de alfaiataria e blusa, não parecia tão diferente de Marjorie. No entanto, no momento em que abria a boca, as semelhanças acabavam. Isso e o cabelo vermelho orgulhosamente escocês de Mônica.

Bianca respirou fundo e olhou diretamente para a mãe.

— Não exatamente. A Rafaella vai ser a minha madrinha profissional. Ela vai me ajudar antes da cerimônia. Até mesmo no altar.

— Como assim, madrinha profissional? — Mônica franziu o cenho. Bianca sabia que parecia loucura.

— Ela vai se passar por minha madrinha de casamento para ficar ao meu lado em todos os eventos principais e me ajudar. E está realmente ajudando. Ela é maravilhosa.

Havia conversado com Rafaella ao telefone naquela manhã e desligado se sentindo muito melhor. A moça tinha um jeitinho, alguma coisa que Bianca não conseguia explicar.

— Acontece que como ela é minha madrinha, estamos falando para as pessoas que é uma amiga de infância da qual perdi contato. Que ela se mudou quando eu tinha nove anos e acabamos de nos reencontrar pelas redes sociais. Então, se você puder dizer isso se perguntarem, seria ótimo.

Ela sabia que era muita coisa para processar, mas esperava que a mãe concordasse.

Mônica ficou imóvel.

— Uma organizadora de casamentos e uma madrinha profissional com toda uma história falsa? As coisas mudaram bastante. — Ela deu um tapinha no joelho de Bianca. — Mas você parece estar mais relaxada. Se é por causa da Rafaella, parabéns para ela. Vou fazer o que você quiser.

Bianca se sentiu aliviada.

— Obrigada.

— Sou sua mãe, o que mais posso fazer? — ela fez uma pausa. — É ela que está cuidando do final de semana, agora que a Mariana surtou?

Bianca assentiu.

— Sim. A Mariana estava meio na dúvida, mas superou rápido. Ela ainda é minha madrinha principal. Nada vai mudar isso.

— Ainda vamos a Cannes? Onde vai custar um rim para conseguir tomar um gin com tônica? Já te contei que a Janet foi para lá ano passado e voltou com outro empréstimo bancário?

Elas já haviam conversado sobre isso.

— Sim, ainda vamos fazer tudo lá. Não vai custar muito, já que a acomodação vai ser de graça e o chef de cozinha também.

Mônica estalou a língua.

— Preciso te lembrar para onde fui no final de semana da minha de despedida de solteira?

Não precisava. Estava marcado na memória de Bianca.

— Blackpool. Eu sei, eu sei, já me disse algumas vezes.

— Choveu o tempo todo, mas ainda assim nos divertimos. Não precisamos ir a um lugar chique para aproveitar.

— Eu sei. Mas é um voo curto e tem uma casa onde não vamos precisar pagar para ficar. Seria rude não irmos. — Bianca olhou para a mãe, esperando que servisse como um aviso.

Mônica entendeu o recado.

💍

Bom dia? Sim, saí 5:30 da manhã. 🥴

MADRINHA DE ALUGUELOnde histórias criam vida. Descubra agora