Dezenove

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Rafaella acordou se perguntando onde estava. Demorou um pouco para raciocinar. Estava no purgatório. Também conhecido como Cannes, a cidade francesa dos sonhos. Atualmente: cidade do mas que merda.

Rolou na cama, abrindo um olho. Pelo menos, não ia se virar e dar de cara com Bianca. Teria sido um desastre monumental.
Talvez o seu hábito de não forçar as coisas fosse bom. Ou talvez a aparição de Mariana, Mônica e as outras salvou Bianca e ela de cometerem o pior erro de suas vidas. Algo que custaria seu trabalho. E que, possivelmente, teria roubado sua sanidade. Porque apesar de nunca ter se encontrado em uma situação dessa, era óbvio como ia acabar. Já tinha visto essa história nos livros, filmes e na vida real.

Regra número um: não seja um romance da despedida de solteira.

Regra número dois: quando alguém com quem se envolve está noivo, as coisas não costumam acabar bem.

Mas nada disso fazia com que seus sentimentos parecessem menos reais. Além disso, quando Bianca a olhou e disse que não conseguia parar de pensar nela, também pareceu real.

Fechou os olhos e sentiu alívio e arrependimento borbulharem dentro de si como uma banheira de hidromassagem. Arrependimento de não ter beijado Bianca. Alívio por não ter feito isso. Seu celular tocou. Rafaella se virou e pegou o aparelho. Era uma mensagem de Gizelly.

Como está em Cannes? Espero que tenha usado aquele biquíni sexy.

Gizelly não fazia ideia.

Está indo bem. Interessante. Quase beijei a noiva ontem à noite.

Os dedos pairaram em cima do botão de enviar. Será que deveria? Apertou antes que tivesse mais dúvidas. Recebeu uma resposta instantânea.

Queeeeeeeee? Como? Pq?

Rafaella adoraria poder responder à essas perguntas de forma honesta e clara. Mas não conseguia.

Ela me disse que tem sentimentos por mim. Uma confusão. Estávamos sozinhas na banheira, mas não nos beijamos. Acho que tenho que consertar as coisas hoje. Me deseje sorte.

Alguns segundos se passaram antes de ela receber uma resposta.

Boa sorte. Se lembre disso: não é com ela que você deveria estar. Vá para um bar e pegue uma estranha. Tire isso da cabeça. Só não fique com ela.

Rafaella sentiu as bochechas corarem quando pensou no quanto esteve perto de fazer isso. O quanto deixou suas barreiras caírem ontem, sem ninguém por perto. Chegou a milímetros. Ainda conseguia sentir o toque da respiração de Bianca nos seus lábios.

Não vou ficar. Preciso ir.

Rafaella jogou o celular do outro lado da cama e então apoiou as pernas no chão. Graças a Deus pelo ar-condicionado. Entre o calor de Cannes e seus problemas, estava se sentindo frita.

A Operação Contenção de Danos começaria em meia hora. Olhou para a piscina. Não havia ninguém ali. Levantar cedo tinha algumas vantagens. Pegou o biquíni de onde havia deixado para secar e o vestiu. Meia hora na piscina, e ela estaria pronta para encarar o dia. Ou o mais pronta que poderia estar.

***

Os músculos de Rafaella estavam doloridos quando andou até a cozinha e pegou o prato de frutas que o chef George havia deixado antes de ir embora. O grande relógio na parede da cozinha impecável avisava que ainda tinha uma hora antes que o serviço de café da manhã que contratou chegasse, o suficiente para deixar as frutas na temperatura ambiente e para que ela tomasse um banho e fizesse o café. Separou dez xícaras brancas no balcão ao lado da cafeteira, deixou os talheres e os guardanapos alinhados e empilhou os pratos brancos de porcelana ao lado deles. Satisfeita por ter feito o máximo que podia, Rafaella assentiu para si mesma e saiu da cozinha. E quase tropeçou em Bianca. Ela estava usando shorts jeans e uma camiseta branca que deixava pouco para a imaginação. Nem parecia estar usando um sutiã. Rafaella precisava parar de encará-la. Olhou para o rosto de Bianca. Assim tão cedo, ela nem tinha passado maquiagem. Rafaella gostava disso.

MADRINHA DE ALUGUELOnde histórias criam vida. Descubra agora