Vinte e um

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O café da manhã foi uma das coisas mais desconfortáveis que já enfrentou. Rafaella se concentrou em se certificar de que todas tinham comido e bebido água, em falar com os empregados e também nas histórias fascinantes de Mônica. Por sorte, ela e Bianca não chamaram nenhuma atenção. Primeiro, porque ninguém suspeitava de nada. Segundo, porque o desaparecimento de Mariana e Manu e o fato das duas terem passado a noite no mesmo quarto foi o maior tópico de conversa. Mariana virou a nova pessoa favorita de Rafaella. Ela foi amigável, mas também profissional com Bianca. Mas por dentro, estava nervosa e com emoções conflitantes. Rafaella sabia o que queria. Sabia bem que não era algo que poderia ter. E agora, estavam voltando para casa.

Enquanto Rafaella subia o pequeno lance de escadas do jatinho que as levaria de volta para Londres, tentou encaixar as peças do final de semana. Contudo, quando tentava colocar todos os acontecimentos em um lugar só, não conseguia entender nada. Em sua cabeça, as peças se encaixavam. Mas só ali. Conheceu Bianca melhor. Compartilhou dos seus sonhos e esperanças. E beijou a noiva. Não era exatamente um adendo que queria incluir no currículo. Rafaella segurou o corrimão, seguindo Mônica, o que a fez pensar em Bianca. Não está ajudando.

- Boa tarde, senhoritas! — a Capitã Michelle ofereceu um largo sorriso. — Espero que a estadia em Cannes tenha sido fantástica e o final de semana, inesquecível.

Ela direcionou a última parte da frase para Bianca, que estava no topo das escadas, na frente da mãe.

Bianca assentiu.

- Foi incrível — disse, olhando para trás. — Mãe, Mariana, Rafaella, todo mundo. — O olhar de Bianca pairou em Rafaella e suas bochechas ficaram coradas. — Foi um final de semana para recordar.

Bianca entrou no avião.

Rafaella não poderia discordar daquele resumo. Agora só precisavam passar pela viagem de volta para casa antes de passarem um tempo separadas e tentando entender como lidar com essa situação sozinhas. Não havia um manual. Precisariam descobrir o que fazer.

Rafaella assentiu para Michelle quando passou por ela, observando o uniforme engomado e os sapatos brilhantes. Será que ela foi do exército antes de virar piloto civil? Ou ensinavam as mesmas coisas na escola de pilotos? Era bom que sua mente focasse em uma coisa diferente daquela que ocupou todo seu final de semana. Mas assim que entrou no avião e sentiu o perfume floral de Bianca pairando no ar, tudo foi por água abaixo. Ficou parada no corredor entre Bianca e Mônica.

- Pode se sentar com a sua mãe se quiser. — Rafaella sorriu para Mônica, e então olhou para trás, onde Mariana estava sentada ao lado de Manu. Elas pareciam mesmo ser um casal. Mesmo dizendo que não eram. — Parece que ela levou um bolo da companheira de viagem.

Mônica sorriu, esticando a mão para arrumar o travesseiro.

- Eu não me sentaria do meu lado. — Ela apontou para o travesseiro. - Estou com meu amigo de confiança e vou dormir a viagem toda. — Ela deu um tapinha no braço de Rafaella. — Sente-se com a Bianca. Sabe como ela fica na decolagem. Você pode segurar a mão dela.

Ela piscou e voltou para sua posição confortável.

Bem. Teria que concentrar todas as suas qualidades profissionais nessa tarefa. Olhou para Bianca, que estava se ocupando em colocar a bagagem de mão no compartimento superior, ignorando Rafaella solenemente. Talvez desse certo. Se as duas se ignorassem o voo todo, conseguiriam sem problemas.

- Quer a janela ou o corredor? — Até falar com Bianca era difícil. Como se falassem línguas diferentes. Como se não tivessem nada em comum.

Bianca ficou imóvel ao som da voz de Rafaella.

MADRINHA DE ALUGUELOnde histórias criam vida. Descubra agora