Rafaella não se lembrava de já ter corrido tão rápido e se esforçado tanto, mas hoje estava precisando. Gizelly ficou para trás enquanto ela atravessava a orla de Brighton. Até as gaivotas que voavam por ali pareciam evitá-la, sabendo que estava séria. O clima de junho estava nos vinte e poucos graus, mas a orla ainda mantinha uma brisa gostosa para a corrida. Mas nem mesmo o sol em seu rosto parecia mudar seu humor. Estava correndo para esquecer.
Quando parou, seu corpo se lembrou de que não estava acostumada a correr, e ela respirava como se estivesse morrendo. Foi assim que Gizelly a encontrou: abaixada e arfando muito. A colega de apartamento a guiou para um dos bancos de frente para o mar. Ficaram sentadas até que Rafaella conseguisse recuperar a respiração. Só então Gizelly abriu a boca.
- O que aconteceu? Não te vejo há cinco dias e quanto peço para corrermos, você sai como se fosse o Usain Bolt. Nós duas sabemos que você não é assim. O que houve? Por que voltou do final de semana tentando quebrar recordes de velocidade mundiais? — Gizelly tampou os olhos com a mão. - Vou chutar que tem a ver com uma certa noiva gostosa.
Rafaella franziu o cenho.
- Não fale assim dela.
- Do que eu deveria chamá-la então?
Rafaella pensou por um momento.
- Problemas.
- Nossa. — Gizelly se mexeu e encarou Rafaella. - Me conte.
- Nós nos beijamos. — O tom de Rafaella era prático. Como se isso não fosse nada.
Era exatamente o oposto disso. Antes que Gizelly respondesse, ela continuou. - Depois ela transou comigo no banheiro do avião. — Seu corpo reagiu como esperado. Como se Bianca estivesse bem ali, com os dedos dentro dela de novo. Era recente demais. Excitante demais. Simplesmente demais. - E agora, ela está cancelando coisas, e não sei se ainda tenho um trabalho ou um negócio, porque acho que acabei de estragar tudo. E para quê?Rafaella se inclinou para frente, colocando as mãos na cabeça. Tinha passado a noite sozinha, tentando se convencer de que a situação não era tão ruim assim. Mas quando dizia isso em voz alta, parecia ainda pior.
- Puta merda — Gizelly respondeu. - Se eu deixar pra lá a coisa do “você beijou a noiva” e tal, o que mais me vem à cabeça é ela ter transado com você no banheiro. Ela transou com você? — Gizelly não conseguia soar mais surpresa, nem se tentasse. - A Pequena Miss Sunshine não é hetero?
Também foi uma surpresa para Rafaella.
- Parece que não. — Ela suspirou. - Essa não é a questão. O problema é que agora eu tenho uma noiva que vai se casar daqui a — ela ergueu a mão e mostrou os dedos - cinco dias. Alguém por quem eu fui contratada. Além disso, aumentei a minha contagem de ficadas de uma noite. Com alguém que eu nem queria um encontro casual. Não é o ideal.
Gizelly balançou a cabeça.
- Não é. Sei que brincamos com isso antes de você ir, mas não esperava que fosse acontecer. O que é tão diferente nela?
Rafaella se questionava isso desde que deixou Bianca no aeroporto. Por que a beijou na cozinha? E sim, Bianca tomou a iniciativa no avião, mas poderia ter dito não. Poderia tê-la impedido. Mas não quis. Queria Bianca do mesmo jeito que ela a queria. Ainda a desejava. Mas ela tinha que parar de pensar nisso.
- Não sei. Passamos um ótimo tempo juntas no final de semana, nos conhecendo mais. Ela realmente foi a fundo. Havia uma atração. Conseguia sentir, mas não sabia se era recíproco. Até entrarmos na banheira juntas. Quase nos beijamos ali, mas achei que conseguiríamos evitar e levar tudo de maneira profissional. Mas na noite anterior à nossa volta, nós nos beijamos. E aí o avião... não posso explicar. Aconteceu.
Parecia um clichê. Não precisava olhar para o rosto de Gizelly para saber. Rafaella já havia escutado muitas defesas de “quando me dei conta estava pelada” para saber exatamente o que pareciam. Desculpas. Mas realmente as coisas saíram do controle, e ela nem sabia como.
- Mas agora temos que voltar aos negócios. Ela me disse que apareceu outra coisa e que não podemos nos encontrar, então não sei o que está acontecendo. — Balançou a cabeça, apertando os olhos ao olhar para o céu. - É uma confusão terrível.
- Uau. — Gizelly esticou os braços, dando um olhar significativo para Rafaella. - Quer dizer, você realmente fodeu tudo. — Sempre podia contar com Gizelly para ser direta. -
Beijar a noiva é uma coisa. Não uma coisa boa. Mas transar com ela no banheiro do avião é outra.Rafaella se levantou. Ficar sentada falando sobre isso só piorava tudo. Preferia correr. Ali, só precisava focar na sensação do sol na sua pele e o vento no cabelo. A natureza poderia ser reconfortante.
- Vamos andar e conversar. Ou correr e conversar.
Gizelly assentiu, e as duas começaram a aquecer os braços, dando passadas compridas na calçada. Na frente delas, uma mulher se esforçava para conter um husky. À direita, um garotinho ruivo usando uma camiseta vermelha estava feliz com seu sorvete, e enfiou a cara nele.
- Veja pelo lado bom. Ao menos você saiu da seca. — Isso fez com que Rafaella sorrisse.
- Poderia ser mais positiva sobre isso, não é? Normalmente, lido bem com romances casuais. Me controlo bem. Mas não com essa. Além disso, minha reputação e minha carreira estão na corda-bamba, então transar não é a prioridade.
Ela começou a acelerar e voltou a correr. Ainda estava pensando demais. Precisava se distrair.
- Como deixou as coisas com a Bianca? — Gizelly se adiantou para acompanhar o ritmo de Rafaella.
Era uma boa pergunta. As imagens relampejaram em sua cabeça: acariciando Bianca na banheira. Seu próprio orgasmo no avião, a cabeça inclinada para trás enquanto chegava ao clímax. Os lábios de Bianca pressionados nos seus. A eletricidade faiscou dentro dela. Bianca ainda estava ali. Rafaella conseguia sentir. Ou será que o ato desesperado do avião foi uma espécie de adeus para Bianca antes que se casasse? Será que estava usando Rafaella para tirar algo de dentro de si? Não parecia na hora, mas olhando para trás, a verdade a encarava diretamente.
Ela parou de correr abruptamente, apoiando as mãos nas coxas e tentando recuperar a respiração. Seu coração estava tão acelerado que parecia quase preso na garganta. Como podia ter sido tão idiota?
Olhou para Gizelly. Não tinha mais jeito.- Não sei como deixamos. Ela disse que nos encontraríamos para o almoço. Que continuaríamos trabalhando juntas. Mas agora ela desmarcou e está trocando as coisas de lugar.
Gizelly afagou suas costas. Era relaxante. Rafaella precisava disso. O mundo não fazia mais sentido. Estava girando ao seu redor, completamente fora de controle. Ela estava fora de controle. Odiava essa sensação.
- Posso fazer algo para ajudar? — Rafaella balançou a cabeça. Essa confusão era sua e precisava dar um jeito de sair dela. - Então aqui vai o meu conselho antes de corrermos de volta para casa. Está pronta?
Rafaella endireitou a postura.
- Sou toda ouvidos.
- Você precisa encontrá-la e conversar. Precisa saber o que ela está pensando e encontrar um plano de ação em comum. Se vai continuar trabalhando com ela ou não. Se continuar, precisa determinar alguns limites e ter uma saída de emergência. Se decidir parar, combinem uma desculpa, uma emergência familiar ou algo assim. Acontece. O principal é que você precisa de clareza. Ela também, na verdade. É ela quem está se casando.
- Eu sei.
- Vamos correr para casa e então você liga para ela e marca um encontro. Se ela não atender, vá para Londres. Não é ela quem está mandando em tudo. Você também está correndo riscos. Então tome o controle de volta. Certo?
Gizelly estava certa. Rafaella precisava voltar ao normal. Precisava voltar a gerenciar a sua noiva, em vez do contrário.
💍
Bom dia. Prometo que vou voltar a att certinho. Vamos concluir essa história. ❤️
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MADRINHA DE ALUGUEL
FanfictionBianca Andrade tem o emprego dos sonhos e o noivo perfeito. Mas quando se vê sobrecarregada com os preparativos do casamento, seu noivo contrata Rafaella Kalimann, uma dama de honra profissional para ajudá-la. E é aí que seu mundo vira de pernas par...