Trinta

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6/10

- Ainda não consigo acreditar que estamos fazendo isso. É como um filme do Richard Curtis. Daqueles estilo sessão da tarde.

Rafaella estava com as mãos firmes no joelho, dentro do carro de Gizelly quando ela freou o veículo e parou no semáforo. Olhou para o relógio. Era quase uma e quarenta da tarde. O casamento aconteceria às duas. Elas estavam muito perto.

- Bem, talvez seja como um filme. Se a Julia Roberts aparecer, vamos saber que é mesmo.

Rafaella acordou naquela manhã com um nó no estômago e o coração doendo. Remexeu a torrada no prato, encarando o café, e então Gizelly a forçou a admitir o que queria. Era Bianca? Porque se quisesse, ela realmente não tinha escolha. Talvez esse não fosse o jeito normal de Rafaella fazer as coisas, assumindo as rédeas de sua vida e declarando seus sentimentos. No entanto, nenhum de seus relacionamentos passados deram certo, então talvez estivesse na hora de mudar de tática.

Gizelly se ofereceu para dirigir, e ela concordou. Estava correndo atrás do que queria. Precisava saber, sem sombra de dúvidas, que estava tudo terminado. Não queria ficar pensando no “e se”. Mas não sabia o que encontraria quando visse Bianca. Será que ela a ouviria? Ou lhe daria um tapa na cara? De toda forma, qualquer uma dessas ações provaria que havia algo entre elas.

O semáforo ficou verde. Algo tremulou em seu peito. Ela engoliu em seco, encarando o celular. De acordo com o GPS, estavam há dois minutos da igreja de São Cristóvão. O padroeiro dos viajantes. Será que Bianca escolheria se arriscar em uma nova jornada?

- Você está pronta? Estamos bem perto.

Rafaella assentiu, balançando o joelho coberto pela calça jeans. Pensou em colocar o vestido de madrinha e terminar o que começou. Então Gizelly a lembrou de que ela não era masoquista e não havia nenhum prêmio por ser assim. Por esse motivo, escolheu jeans, sapatos Oxford, camiseta branca e blazer azul marinho. Porque no fim das contas, precisava parecer uma opção pela qual Bianca trocaria o seu casamento.

Rafaella abaixou o quebra-sol para usar o espelho. A maquiagem ainda estava boa e o cabelo estava no lugar. Só precisava do final feliz que tanto queria. Ou, pelo menos, a possibilidade de um final feliz. Será que estava fazendo a coisa certa? Não tinha ideia. Mas não podia mais ignorar o jeito que seu coração batia cada vez que pensava em Bianca. Não era uma coisa só sua. Bianca também tinha um papel nessa história. Só restava saber se ela queria mesmo assumir o papel principal.

- Sabe qual é o carro dela? — Gizelly olhou pelo retrovisor. - Não é um jaguar branco, é?

Rafaella assentiu.

- Sim, é vintage. Fui eu quem reservei.

Gizelly fez um gesto com o polegar.

- Tipo o que está atrás de nós?

Rafaella se virou no assento, e então seu coração explodiu. Instintivamente, se afundou no banco.

- Merda. Acho que são elas.

Gizelly olhou para a esquerda, ligou o alerta e parou na frente da igreja, onde os últimos convidados ainda estavam do lado de fora.
Desligou o motor, se virou e apertou a mão de Rafaella.

- Hora do show. Você está pronta?

Rafaella deu um aceno definitivo que provocou um frio enorme no estômago.

- Vamos lá.

Quando olhou para cima, Mariana e Marcella estavam vindo na sua direção.
Precisou ignorá-las e se concentrar no que ia fazer. Saiu do carro no mesmo momento em que o jaguar estacionou. Na sua cabeça, os pneus cantavam. O ar quente de junho acariciava seu rosto. Os sinos da igreja ressoavam. Do outro lado da rua, um menino chutava uma bola de futebol em um jardim com a mãe. Era um dia normal para eles. Mas não para Rafaella. Esse era o dia mais importante da sua vida.

MADRINHA DE ALUGUELOnde histórias criam vida. Descubra agora