Vinte

963 98 49
                                    

Bianca acordou assustada e fechou os olhos com força. Droga, sua cabeça doía. Colocou a mão na testa, pressionando para ver se melhorava. Não melhorou. Soltou um suspiro e pegou o celular no edredom ao seu lado. Eram duas e meia da manhã. Bebeu demais ontem. Fazer isso durante o dia nunca era uma boa ideia. Podia usar um passeio a vinhedos como desculpa, dizendo que era uma atividade cultural, mas no fim das contas, ainda era isso: um pretexto para se embebedar. Não que tivesse reclamado na hora. O problema era acordar desesperada por água, questionando suas escolhas.

Rolou para fora da cama, cambaleando e vestindo uma camiseta e shorts jeans. A peça manchada de vinho estava em cima de uma cadeira.

Ah, Deus. A mancha. O banheiro com Rafaella. Se lembrava vagamente, mas não conseguia saber direito o que tinha dito. Se recordava de que tentou tocá-la. Seu rosto. Seu cabelo.

Puta merda.

Fechou os olhos quando outra onda de náusea a atingiu. Um copo de água ajudaria. Talvez até dois.

Calçou os chinelos e desceu até a cozinha escura, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Não tinha certeza se estava conseguindo enquanto tateava as paredes. Encontrou o interruptor da cozinha, acendendo o lustre em cima da mesa de jantar e decidiu que isso bastava. Não precisava de tanta luz, só ia pegar um copo de água.

Os destroços da noite passada ainda estavam cobrindo as superfícies: taças, garrafas de vinhos vazias, salgadinhos e nozes em tigelas. Seu estômago roncou. Tiveram um jantar feito por um chef convidado, mas poderia comer ainda mais. Abriu a geladeira e viu algumas batatas. Hasselback, será que se chamava assim? Ou esse era o nome do cara do SOS Malibu? Não, esse era Hasselhoff. Será que eram batatas Hasselhoff?

Balançou a cabeça, sorrindo para si mesma, e enfiou a batata na boca. Enquanto mastigava, abriu alguns armários em busca de copos. Não sabia onde ficavam as coisas ali. Princesa Bianca. Não deixaram ela fazer nada no final de semana. Toda a tripulação, liderada de forma competente pela Capitã Rafaella cuidaram de tudo.

Imaginou Rafaella com uma roupa de marinheira, com cinto apertado e tecido branco. Engoliu em seco e focou em beber a água. Se não estivesse tão obcecada com Rafaella, talvez não tivesse bebido tanto.
Mas era isso que a noiva deveria fazer na despedida de solteira, não era? Só estava seguindo o protocolo. Assim como teria feito se Rafaella estivesse na sua frente de uniforme e dando ordens.

Quando olhou para cima, seu coração se sobressaltou, e ela quase parou de respirar. Rafaella estava parada no batente da cozinha, mas graças a Deus não estava vestida de marinheiro. Isso teria sido um pouco demais. Ela usava uma blusa cor de laranja solta e shorts azul marinho que adornavam a silhueta.

- O que está fazendo acordada? — Bianca olhou para o relógio. — Está de madrugada.

Ela parecia ainda mais atraente na penumbra. Notou a marca do travesseiro em sua bochecha. Sua pele ainda deveria estar quente.

- Sei disso. — Rafaella foi direto para o armário à direita. — Vim pegar água — disse, enchendo o copo. Ela bebeu antes de se apoiar na ilha da cozinha. A uma distância segura.

- Como está sua cabeça? — Rafaella semicerrou os olhos para Bianca.

- Já esteve melhor. Ainda bem que bebi bastante água quando voltamos, ou acho que estaria pior.

- Como a Mariana e Manu? — perguntou. Encontrou um pano e limpou algo no balcão. Bianca sorriu.

- É. — Ela fez uma pausa. — As duas foram para quartos separados? Sempre foram estepe uma da outra na época da faculdade, apesar de fazer alguns anos que não ficavam juntas.

MADRINHA DE ALUGUELOnde histórias criam vida. Descubra agora