Seis

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Mariana cumprimentou Bianca com um sorriso triste e um abraço frouxo. Normalmente, a amiga dava abraços apertados, mas o término a abalou de verdade.

No mês anterior, Mariana ainda falava sobre Nora e ela irem morar juntas, mas a namorada mudou todos os planos. Bianca ficou triste pela amiga, mas não porque a relação tinha acabado. Nora era uma sabe-tudo insuportável que tratava Bianca com frieza todas as vezes que se encontravam. Já Mariana era alegre e abria seu coração para todos. Bianca já havia dito muitas vezes que ela deveria tomar mais cuidado com isso. E também para melhorar seu gosto com relação a mulheres, já que suas escolhas costumavam ser horrorosas.

Bianca segurou a mão da amiga conforme passeavam pela principal rua de compras de Londres. O burburinho da Oxford Street rugia em seus ouvidos. Táxis pretos e ônibus vermelhos passavam por elas, e os entregadores passeavam pelo trânsito de forma habilidosa. No céu, maio ainda estava fingindo ser abril, com nuvens brancas cobrindo o céu azul e impedindo o sol de brilhar. Bianca torcia para que o tempo melhorasse até o casamento, em junho. O mesmo valia para sua melhor amiga.
Levou Mariana até a John Lewis, uma das lojas de departamento mais famosas da cidade. Como sempre, seus sentidos foram inundados à medida que andavam pelo departamento de beleza, com luzes ofuscantes e aromas florais. Bianca respirou fundo ao passarem pelo balcão de maquiagem, com vendedoras impossivelmente brilhantes em estado de alerta. O cheiro dos produtos era bem familiar. Ela era fascinada por eles desde criança, quando via a mãe se maquiar.
Subiram pela escada rolante com destino ao segundo andar e o departamento de moda praia. Mariana havia concordado em ajudar a amiga a escolher um biquíni para a lua de mel, desde que Bianca concordasse em sair para beber depois. O bar no topo do edifício era o destino final.

Bianca passou a mão no braço da amiga.

— Como você está?

— Como estou? — Mariana se inclinou na escada. — De coração partido. Devastada. Sóbria, o que é chocante.

— Acho que seu chefe não gostaria que você chegasse bêbada ao trabalho.

— Eu sei, é injusto demais.

Elas trocaram de escada antes de retomar a conversa.

— Teve alguma notícia?

— Da Nora? — Mariana colocou o cabelo castanho atrás da orelha.

— Não, do Papai Noel. É claro que é da Nora.

Mariana negou com a cabeça ao chegarem ao departamento que queriam.

— Não soube de nada. Mas também não esperava por isso. Ela deixou bem claro que era uma decisão irreversível quando foi embora. “As coisas entre nós já não dão mais certo”, acho que foram suas palavras exatas.

Bianca estremeceu.

— Argh. Ela deve ter lido muitos livros de autoajuda. — Isso fez com que Mariana sorrisse.

— Senti mesmo que parecia um teste. Que eu zerei, aliás.

Bianca apertou o braço da amiga ao passarem por blusas e jaquetas absurdamente caras. Ela parou e ergueu um blazer dourado de glitter, olhando a etiqueta e fazendo uma careta.

— Você se sentiria melhor se eu te comprasse isso? —  Mariana riu.

— Não estou planejando carreira como mágica em festa de criança.

— Você ficaria ótima nela — Bianca disse. Ela girou e apontou para uma blusa pink de chiffon. — Com aquela blusa rosa, conseguiríamos uma namorada para você rapidinho. Essa roupa irradia energia de mulher gostosa.

O sorriso triste voltou.

— Está cedo demais para piadas.

Bianca colocou a jaqueta de volta na arara antes de entrelaçar o braço ao de Mariana.

MADRINHA DE ALUGUELOnde histórias criam vida. Descubra agora