Capítulo 3

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Maraisa's POV

O olhar de Danilo por pouco não era capaz de abrir um buraco na parte detrás da cabeça de Maraisa.
Felizmente, toda vez que ela se virava, não era o Danilo de sempre que via, mas sua versão suada e inchada - o que destruía a imagem de encarnação do sexo que sempre tivera dele.

Ela acenou.

Ele estreitou os olhos e se sacudiu violentamente no assento - mais uma vez.

Maraisa suspirou e se virou para olhar por cima do ombro direito, na direção do assento da irmã. Notou que Melissa dormia feliz.

Será que ela perdera o barraco?
Era sem dúvida a pior irmã do mundo!

- Mais vinho. - Vovó Ruth entregou a Maraisa o copo vazio.

Mas o que ela faria com aquilo?

Uma comissária de bordo apareceu do nada e o encheu até a borda.

Como alguém conseguia aquele tipo de atendimento em um voo tão curto?

Eles nem estavam na primeira classe!

Sem dizer nada, Vovó Ruth pegou o copo plástico das mãos de Maraisa e tomou um longo gole.
Cada milímetro da borda estava coberto de batom vermelho, indicando que o objeto pertencia a ela e a mais ninguém.
Parecia haver mais batom ali que em todos os estandes.

- Então, Maraisa. Sei que Danilo é um bundão...

Maraisa soltou uma risada curta.
Vovó Ruth poderia ser sua parceira de voo sempre que quisesse.

- Mas... - A velha senhora interrompeu a frase para outro gole de vinho. - É o meu bundão.

Maraisa quase engasgou, de tanto que riu.

- Não, calma... - Vovó deu um longo suspiro. - Não quis dizer que ele é meu... Ele é bundão por ele mesmo. Mas foi muito mimado por mim quando criança. O garoto tinha medo de tudo, sabe?

- Ah, é mesmo? - Maraisa fingiu desinteresse, apesar de a revelação ter feito seu coração bater com força. - Não sabia.

- Ah, querida!

Vovó riu.

- Ele tinha medo da própria sombra, quando garoto! Dormiu na cama dos pais até os seis anos! Coitados dos pais de Danilo.

- De qualquer modo... - Vovó deu mais um gole no vinho. As joias que usava no pulso tiniam quando ela gesticulava ao falar. - É meu trabalho, minha missão, fazer o melhor por ele. Ajudá-lo no percurso, fazer dele o homem que deveria ser, antes que seja tarde demais.

- A senhora está doente? - sussurrou Maraisa, sentindo o coração apertado.

- Eu? - Vovó deu uma risada. - Ah, querida! Deus ainda não me quer do lado dele! Ele me contou isso hoje mesmo, pela manhã.

Então vovó tinha conversado com Deus.
Maraisa se perguntou se a conversa significava que ela também estava tentando salvar a alma de Danilo.

- Então... - Maraisa soltou o ar e esfregou as mãos nas calças. - Qual é o plano?

- Ah. - Vovó esvaziou o copo tal qual faria uma estrela do rock e o devolveu a Maraisa. - Isso é fácil. Já o deserdei. Danilo conta apenas com o que tem na poupança. Também o demiti. Embora ele ainda não saiba.

- Hum.

- Que gracinha. - Vovó deu tapinhas na perna de Maraisa. - Percebi que você ficou preocupada com ele. Não fique. Depois disso, Danilo vai pôr os pés no chão. Em uma situação difícil, os bundões sempre caem em pé. - Ela hesitou. - Ou será que são os gatos? - A velha senhora sacudiu a cabeça com o dedo no queixo, confusa. - Bem, de qualquer jeito... ele vai ficar bem.

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