Prólogo

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Prólogo

Verão de 2002

- Dan! Me segura! Me segura! - gritou Maraisa, preparando-se para cair de costas durante o exercício de confiança no acampamento do último ano do ensino fundamental.

Fazia anos que tinha uma quedinha por Danilo.
Agora que estava terminando o nono ano e começaria o ensino médio no outono, as coisas pareciam estar melhorando.
De pernas depiladas, novo batom rosa nos lábios e um rabo de cavalo alto, ela sabia que estava bonita. E Danilo logo, logo saberia também, assim que ela caísse (literalmente) em seus braços.

- Hã... ok - respondeu Danilo, atrás dela. - Estou quase pronto.

- Ok. - Sentindo-se nervosa de repente, Maraisa respirou fundo algumas vezes. - Vou cair!

- Pode vir! - avisou Danilo.

Maraisa sentiu o vento nas costas quando endireitou o corpo e se jogou para trás.
Mas não parou de cair:
não havia nada que a pudesse amparar.

Bateu na grama com um baque e olhou para cima.

Bárbara Stevens enrolava uma mecha de cabelo entre os dedos, rindo de algo que Danilo dizia.

Aquele cara tinha a capacidade de concentração de um peixinho-dourado!

- Seu babaca! - Maraisa bateu com o punho no chão.

- Danilo? Somos parceiros, e existe um motivo para o fato de essa atividade se chamar exercício de confiança! Você deveria ter me segurado!

Ele arregalou os olhos.

- Ai, droga! Me desculpe, Maraisa. Bárbara não sabia o que era para fazer e não tinha parceiro, então eu disse que ela poderia ficar com a gente.

- Ah, mas...

- Nossa, Danilo, ainda bem que me ofereci para ser sua parceira! Vamos precisar de duas pessoas para segurar essa garota. Ela parece uma baleia inchada. - Bárbara riu e cutucou Danilo, o que fez o estômago de Maraisa embrulhar.

Ela sabia que não era tão magra quanto Bárbara ou as outras garotas.
Umedeceu os lábios, insegura, e sofreu a dor da rejeição que se abateu sobre ela.
Enquanto o silêncio se prolongava, sentiu as lágrimas que brotavam e um nó na garganta.

Maraisa olhou para ele, que estava com as bochechas um pouco vermelhas, mas Danilo não disse nem uma palavra.

Ele não a defendeu.

Ele não fez nada.

Talvez essa tenha sido a pior parte.
A total falta de reação.

Ele poderia ter rido da piada também.
Isso ao menos deixaria Maraisa irritada o suficiente para socar a cara dele. Em vez disso, Danilo a olhou com pena, como se o que Bárbara dissera fosse verdade.
Como se concordasse com aquilo, mas não soubesse de que modo dizer isso a ela.

Maraisa sentiu os olhos se encherem de lágrimas, então os baixou à grama, que já lhe causava coceira.

- E aí, gente, estão prontos para o exercício?

Maiara foi até eles e sorriu, deixando Maraisa ainda mais insegura.
A única garota em quem Danilo confiava era Maiara.
Maraisa e Danilo compartilhavam a melhor amiga, o que era uma droga, na opinião de Maraisa.
Fazia com que ela sempre se sentisse sobrando, como se fosse um brinquedo estranho e com defeito, que nunca se encaixava em lugar nenhum.

Danilo abraçou a recém-chegada.

- Estávamos só aquecendo.

- Legal. - Maiara olhou para Maraisa. - Vamos lá! Levante-se daí, preguiçosa!

Bárbara caiu na gargalhada.

- Exercício, Maraisa. Já ouviu falar nisso?

Maiara olhou de cara feia para Bárbara e estendeu a mão para Maraisa.

- Ignore. Ela só está chateada porque seus peitos são maiores que os dela.

Revirando os olhos, Maraisa se levantou e deu uma última olhada na direção de Danilo.
Era o fim da quedinha que sentia por ele.
De verdade.
Afinal, que garota quer se apaixonar por um cara que não a resgata quando ela mais precisa dele?

Ela queria um homem como os que via nos filmes e na TV. Um herói de verdade, que a salvasse. Homens de verdade usavam armas e espadas para lutar pelas mulheres que amavam.

No ano anterior, quando a turma assistiu ao filme Romeu e Julieta, Maraisa precisou esconder as lágrimas que escorriam por seu rosto durante a última cena.
Era aquilo que ela queria:
Um homem tão apaixonado que a seguisse até o outro mundo!

Na época, quando disse aquilo em voz alta, Danilo a olhou como se ela fosse maluca.

Bem, ele é que iria se dar mal, no final das contas!
Maraisa encontraria o homem da sua vida!
E, por ela, Danilo Gentili poderia...

Morrer.

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