¹⁷

8 2 0
                                    


— você não vai falar com ela, querida? — o homem perguntou, com as mãos no bolso da calça vindo em nossa direção — se não se sentir a vontade eu posso...

— não — o interrompi, coçando a garganta — eu quero ficar com ela.

A menina sorriu para mim, e eu olhei para Ethan, em uma súplica silenciosa para que nos deixasse sozinhas.

Eu estava com uma criança.

Eu estava com uma responsabilidade a qual eu não sabia se conseguiria cumprir.

Ethan poderia fazer mal a não só a mim, mas também a garotinha em minha frente.

Seus olhos — agora que posso os ver de perto — eram os mesmos pretos azulados de Ethan, o qual me fez estremecer.

Ethan Whyne e eu tínhamos uma filha.

Ela estava na minha frente, eu não havia a perdido naquele dia.

Ethan havia mentido para mim, novamente.

— quantos anos você tem? — a menina me perguntou, colocando uma mexa do meu cabelo para trás.

— eu tenho vinte e dois, e você? — perguntei, também tocando em seu cabelo — você gosta de fazer o que?

— eu tenho seis — murmurou, sentando do meu lado. O cheiro de criança me invadiu com força, me deixando levemente feliz — eu gosto de ballet mas... — ela olhou para os lados, como se fosse me contar um segredo — eu não gosto quando o moço vai lá.

Estremeci.

Ballet.

Ballet.

A garotinha na minha frente gostava de ballet, assim como eu gostava.

A garotinha na minha frente tinha seis anos, uma década resta para que ela faça dezesseis e...

Não. Isso não vai acontecer.

— que moço? — perguntei, pegando meus cabelos soltos e os jogando para trás.

— ele é o professor — falou descontraída, balançando as perninhas — ele e as outras moças não me deixam ficar com os outros, porque eles disseram que sou diferente.

Respire, Catarina — pedi, quando meus lábios se fecharam e eu não conseguia ter qualquer outra reação a não ser encarar a menina na minha frente — respire, volte ao mundo real.

Meu coração começou a bater mais forte, o ar começou a escapar dos meus pulmões, comecei a coçar meu pulso, enquanto ainda tentava me mover e respirar.

Como respira? — me perguntei, quando meus olhos estavam doendo e pisquei — por que eu não estava conseguindo respirar? Por que meu rosto estava começando a ficar molhado?

Minha visão agora estava desfocada, meus olhos estavam doendo, minha cabeça coçava, mas eu não conseguia respirar.

Mãos foram postas em meus ombros, me derrubando contra o sofá. Me mexi de forma brusca, ainda prendendo o ar.

Minha garganta começou a fechar, abri a boca esperando o ar entrar em meus pulmões, mas nada aconteceu.

Senti meu corpo ser posto para ficar em pé, meus olhos vagaram por tudo, ainda desfocados e fechei os olhos e abri a boca com força, quando um forte soco atingiu minha barriga.

O ar havia voltado.

Mas o medo ainda estava ali, me fazendo sentir-me encolhida, gradativamente.

Passado vol.2 - El fin Onde histórias criam vida. Descubra agora