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— você não quer entrar? — perguntei quando ela estava com as mãos cruzadas, olhando para o jardim e chuva que caía.

Os olhos me avaliaram com receio, e me vi observando o quão fácil era ler aquela garota.

— não — respondeu, de uma forma não tão firme.

— vamos — incentivei — você está toda encharcada, sua bolsa mais ainda e posso ver se a empregada tem alguma roupa para você....

Maggie Catarina era uma garota linda.

Seus olhos expressavam uma pureza e inocência enorme, um total oposto de quem eu era. Os cabelos que eram tão castanhos quando os da mãe,  estavam presos para trás, mostrando então o quão esforçada ela era.

Eu sabia disso porque noventa e cinco por cento das alunas daquela escola de ballet pagavam alguma cabeleira para fazer seus cabelos ou então já tinha sua própria empregada.

Mas Maggie Catarina não.

Ela estava em uma espécie de quarto — não simples é claro. Luís Henrique Nuevo nunca iria permitir que sua filha ficasse em um lugar que chegasse próximo da pobreza — e, embora estivesse sempre comendo em restaurantes, sempre se arrumava por si só.

As roupas vez ou outra eram levadas para uma lavanderia e a única coisa que vi ela fazendo de errado nessas três semanas que estou a observando de perto, foi comprar uma garrafa de bebida.

— a não ser que uma Nuevo não se sinta confortável em roupas tão simples — murmurei, voltando meu olhar para frente.

Eu sabia que ela não havia me dito seu nome. Sabia que havia sido um puta deslize aquilo e sabia que ela muito provavelmente estava tentando ver se havia ou não me dito.

Estava tentando, porque a partir do momento em que seus olhos estavam desfocados quando eu estava inventando uma desculpa qualquer de uma prima, ela estava pensando nos prós e contras de entrar em um carro de um homem que ela se sente atraída.

— vi uma foto antiga sua, no jornal — menti — e aí estava com medo de você achar que só lhe dei carona por isso, me desculpe.

Os olhos dela estavam ansiosos, indecisos, me lembrando então de manter minha mentira.

— eu realmente preciso entrar agora — falei destravando as portas do carro — me acompanha?

Ela confirmou e eu sorri, ao ver então que as roupas que comprei para a mesma finalmente iriam ser usadas.

— você pode deixar sua bolsa aqui — murmurei, quando havia estendido meu casaco na chuva para não lhe molhar tanto — a funcionária já deve ter ido embora por conta do horário. Mas posso pegar uma para você.

— não acho que seria algo que ela gostaria que você fizesse — murmurou — prefiro continuar com minhas roupas.

— e ficar gripada? — neguei, com um sorriso brincalhão nos lábios — jamais. Vou buscar alguma coisa para você.

E assim fui, sorrindo ao ver o quão fácil foi conseguir o que queria daquela garota.

Talvez ela simplesmente não conseguisse dizer não ou realmente fosse ingênua.

Mas não importava naquele momento, porque eu já havia conseguido tudo o que queria.

Passado vol.2 - El fin Onde histórias criam vida. Descubra agora