3. Duas Linhas

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Olhou o palitinho branco repousando sobre o granito da pia, os pés descalços batiam impacientes no piso do banheiro. O pequeno relógio que estava sobre a pia parecia estar parado.

Andou de um lado para o outro. Não conseguia imaginar o que faria se realmente estivesse grávida. Seus planos mais longínquos envolviam manter seu relacionamento com Fabrício, talvez se casarem, terminar os projetos para o novo DVD e começar uma nova tour com sua irmã. Nenhum bebê estava nos planos.

Muito menos um bebê do Wendell.

Olhou mais uma vez para o palito sobre a pia e dessa vez seu coração foi até a garganta. Ela viu um pequeno traço em vermelho surgir. Suas mãos tremulas correram para pegar a caixa rosa, forçou a vista para ler as letras no verso.

"Uma linha vermelha = Negativo/ Duas linhas vermelhas = Positivo"

O palito tinha concretamente apenas uma linha vermelha. Ela respirou fundo, o alívio a preenchendo.

- Não estou grávida! - afirmou sorrindo para si mesma, olhando seu reflexo no imenso espelho do banheiro, na sua suíte e de Fabrício. Usava apenas uma camiseta larga e calcinha. Tinha pedido para Bruno comprar o teste, mas só tivera coragem de fazer naquela hora, à noite.

Riu de si mesma por isso, se sentindo completamente idiota. Devia ter feito antes, passara o dia todo se corroendo de ansiedade e preocupação a troco de nada.

Pegou a caixa para jogar no lixo e o palito, porém antes deu uma última olhada.

Sentiu o coração saltar.

O risco forte em vermelho ainda estava lá, porém ao seu lado um segundo risco começava a ser traçado.

- Não... - ela falou encarando o risco que ficava cada vez mais nítido, mais forte. - Isso só pode ser brincadeira.

O traçado continuou a ganhar tons mais fortes de vermelho e em menos de vinte segundos estava tão vermelho quanto o primeiro traço.

Duas linhas.

Positivo.

Ela sentiu o mundo girar à sua volta e sentou-se sobre a tampa do vaso para evitar cair no chão. Não sabia o que pensar, nem o que estava sentindo. Era como se estivesse fora de seu corpo. No fundo, um sentimento de desespero e pânico queriam surgir.

Aquilo era real? O que faria agora? Como as coisas ficariam?

Lágrimas queriam surgir em seus olhos, mas seu estado de choque era tanto que não conseguia ter pensamentos conclusivos nem mesmo para chorar. Estava impactada e perdida.

Levantou-se e foi para cama, deitando-se e encarando o teto inexpressiva.

Um bebê. O que faria com uma criança quando não sabia nem o que fazer consigo mesma? Sempre sonhou em ser mãe, mas não daquele jeito. Queria ter uma família, casar, construir um verdadeiro lar antes de pensar em filhos. Queria ter uma estrutura porque sabia que precisaria de uma, porém já haviam dois riscos no maldito palito e não havia nada em que ela sentisse que poderia se apoiar.

Ouviu o celular tocar e não iria atender, no entanto quem ligava era insistente e ela pegou o aparelho que havia jogado ao seu lado na cama.

- Alô. - atendeu sem sequer olhar quem era.

- Você tava dormindo? - Fabrício perguntou do outro lado da linha. - Demorou para atender...

- Não, eu... - respirou fundo, tentando colocar os pensamentos em ordem. Uma coisa difícil já que não conseguia absorver a informação de que estava grávida.

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