22. A Confiança Cega

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Wendell olhou o painel de vôos. O voo que saia de São Paulo em direção à Goiânia estava atrasado. Vinte minutos não era muito, mas para ele que já ficara preso no trânsito era mais que o suficiente para aumentar a irritação. Além, é claro, da ansiedade. Tinha prometido para Maraisa que iria chegar a tempo para o chá revelação e não tinha intenção de a decepcionar.

Quando o avião finalmente chegou ele se apressou para o portão de embarque. Tinha ciência de que deveria estar mais animado, afinal estava voltando para casa, para sua namorada grávida que o esperava em uma festa para os bebês deles. Entretanto, não conseguia se livrar da leve impressão de que teria um dia péssimo. Acordou atrasado, ficou preso no trânsito e com muito esforço conseguiu chegar ao aeroporto a tempo, para no fim o vôo atrasar. Tudo justo no dia em que nada daquilo poderia acontecer.

Sentou-se confortavelmente em sua poltrona na aeronave. O voo de São Paulo a Goiânia levava em média uma hora e meia, o que significava que mesmo com o atraso ele iria conseguir não chegar tão atrasado.

Sorriu quando pegou seu celular e viu uma mensagem de Maraisa, ela lhe desejando boa viagem. Respondeu com um emoji de coração. Tinha passado os últimos cinco dias longe dela e agora se perguntava se a gravidez poderia ter algo hormonal que também o afetava, porque nunca sentiu tanta saudades. Era mais que uma necessidade física, era algo emocional, como se precisasse o tempo todo estar perto dela para estar bem. Sabia que também havia uma boa doce de superproteção, ela estava passando por momentos difíceis e não queria a deixar sozinha.

Colocou os fones de ouvido e deu play em uma música da banda Red Hot Chili Peppers enquanto os outros passageiros terminavam de embarcar. Sua pretensão era dormir a viagem toda, queria chegar à festa pelo menos um pouco descansado.

Já estava arrumando sua almofada de viagem no pescoço quando viu uma figura que lhe pareceu familiar entrando na aeronave. Num primeiro instante não o reconheceu, no segundo achou que seria coincidência demais e num terceiro apenas aceitou que seu dia realmente era de azar.

Fabrício caminhou pelo corredor a passos lentos. Trazia consigo apenas uma pequena maleta. Wendell nunca tinha ido com a cara dele, antes por conta do ciúmes que mesmo de maneira inconsciente ele sempre sentiu de Maraisa, agora por motivos muito mais concretos. Maraisa tinha lhe contato, com relutância, como Fabrício havia agido com ela quando descobriu de sua gravidez. Aquilo era o suficiente para Wendell não só o odiar, mas sentir um verdadeiro nojo quando o olhava.

De todas as poltronas vazias que ainda haviam na aeronave, era claro que a lei de murphy entraria em ação e Fabrício sentou a apenas duas poltronas da sua, do outro lado do corredor. Não era perto, mas também não era longe o suficiente para que Wendell deixasse de se sentir incomodado com a presença.

Percebeu quando Fabrício notou que ele também estava ali. O olhar que ele lhe destinou era de ódio, o que era recíproco, mas seus lábios sorriram com deboche e provocação. Wendell apenas respirou fundo, se encostou em sua poltrona e pediu a Deus que lhe desse paciência, nem que fosse só para passar aquela viagem em paz e o pegar na saída do aeroporto.

Logo a aeronave estava taxiando pela pista e levantando voo, para alívio de Wendell que agora tinha mais um motivo para que aquela viagem acabasse logo.

Já havia se passado metade da viagem e Wendell não havia conseguido dormir nem por um minuto, a irritação que sentiu parecia ter lhe tirado o sono. Estava inquieto em sua poltrona e resolveu se levantar para ir ao banheiro. Verificou o sinal de aviso de que banheiro estava liberado e se levantou, caminhando com cuidado pelo corredor entre as poltronas. Entrou na cabine minúscula e fez suas necessidades. Quando abriu a porta para sair quase de assustou.

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