24. Uma Chance

865 81 68
                                    

Maiara estava sentada na sala de TV. O projetor jogava sobre a tela um filme que ela não se incomodava em assistir. Já havia anoitecido, o que indicava que fazia muito tempo que estava ali e que o dia tinha sido longo. Tinha ficado com a irmã até ela pegar no sono, depois de chorar até a exaustão em seus braços. Foi tão forte quanto pôde, mas aquilo a abalava. Não estava acostumada a ver a irmã daquela maneira. Das duas, a mais delicada e sensível sempre foi ela. Maraisa, à vista de todos, era a gêmea independente e resiliente. Só algo que a machucasse muito a faria desabar da forma com que desabou e isso preocupava Maiara.

- Vocês não tinham um voo para Mairinque hoje à tarde? - a voz de sua mãe vindo da entrada da sala chamou sua atenção.

- Pedi para adiar, vamos voar direto para o local do show. A Maraisa precisava descansar um pouco mais.

- Vocês se resolveram? - Dona Almira a olhou em pura expectativa. O distanciamento das duas era algo que afetava toda a família, se elas não estavam bem então ninguém conseguia ficar completamente bem.

- Sim. - Maiara deu um pequeno sorriso para a mãe.

- Ótimo. Já tinha passado da hora de vocês se acertarem. - se aproximou da filha e deixou um beijo carinhoso em sua cabeça. - Sobe para dormir, você tá com cara de cansada. - mandou, como se Maiara ainda fosse uma criança, e a deixou sozinha na sala novamente.

Ela desligou o projetor, mas não encontrou disposição para se levantar do sofá. Não tinha feito nada que demandasse esforço físico durante o dia todo, ainda assim se sentia exausta. No fundo entendia que seu cansaço era um acúmulo de tudo que lhe aconteceu nos últimos dias. Alimentar toda aquela mágoa e rancor contra a pessoa que ela mais amava no mundo, sua irmã, tinha a destruído por dentro. Sabia que não podiam ficar daquela forma por mais muito tempo. Eram uma dupla, não apenas no profissional, eram um par que tinha mais força quando juntas. Recebeu todos os alertas disso quando mal conseguiu dormir sentindo que sua outra metade não estava bem. Qualquer briga era uma besteira ínfima perto da ligação gigantesca que tinham.

Tomou coragem e se levantou. No dia seguinte teria que viajar e trabalhar, precisava estar descansada.

Subiu as escadas que levava aos quartos. Em vez de ir direto para o seu, fez uma parada no quarto de Maraisa para a verificar. Abriu a porta com delicadeza e observou o ambienta. Sua irmã dormia exatamente como ela havia deixado, encolhida sob o edredon enquanto a luz fraca de um abajur deixava o quarto numa aconchegante meia-luz.

Satisfeita por a irmã ainda dormir, seguiu para o próprio quarto. Se deitou em sua cama, mas apesar do cansaço não sentia sono. Sem conseguir dormir, resolveu mexer um pouco no celular. Abriu seu Instagram e foi rolando pelas publicações de amigos e de algumas páginas que seguia.

Em meio a fotos de conhecidos e publicações de fãs, acabou vendo o que não estava procurando. Uma página de sertanejo havia postado um trecho de uma apresentação em uma premiação que ela nem mesmo sabia qual era, mas as pessoas no vídeo chamaram sua atenção, na verdade uma única pessoa.

Gustavo aparecia no vídeo, cantando o que deveria ser uma de suas músicas novas. Ao seu lado estava Ana Castela, de quem Maiara se lembrava de ter esbarrado em um lugar ou outro. Dado momento da performance, ele se aproximou da garota e a beijou. Ou ao menos foi isso que Maiara viu, pois ele teve o cuidado de colocar o chapéu da garota para tampar o rosto deles.

Imediatamente ela travou o celular e o colocou de lado, sentindo uma completa repulsa daquilo que acabara de ver. Não que adiantasse muito, pois seu cérebro já reproduzia o vídeo todo em sua mente, como se fosse uma gravação feita para a provocar.

No dia em que tudo aconteceu em sua casa, duas semanas atrás, Gustavo lhe disse que aquele não era o dia para conversarem. Mas o dia da conversa nunca realmente chegou. Ele não respondia suas mensagens, tão pouco atendia suas ligações. Ela só queria se explicar, dizer que para ela o que eles estavam começando a construir era especial. Mas não houve oportunidade. Ele escolheu sozinho colocar um ponto final na relação deles e agora ela via isso com mais clareza ainda.

Complicações do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora