28. Volta a Ser Como Era Antes...

910 104 45
                                    

 Seu quarto na fazenda não era nem de perto tão espaçoso quanto o da casa de Goiânia ou de Mairinque. Esse detalhe nunca foi tão evidente ou a incomodou, pelo menos não até se ver naquele espaço que parecia cada vez menor com a presença de Wendell dentro dele.

Quando ele a abraçou do lado de fora da casa pôde sentir algo que há muito não sentia: segurança. Nos braços dele parecia que aquele pesadelo todo que estava vivendo não passava de exatamente isso, um sonho ruim que não tinha poder de a machucar e do qual iria despertar em breve. Foi movida pela vontade de prolongar esse sentimento que o convidou para entrar em seu quarto. Infelizmente acabou se esquecendo que junto da falsa segurança também vinha a mágoa por tudo que ele havia lhe feito passar nos últimos dias.

— Mudou de ideia, não foi? — Wendell perguntou. Já estava sentado na beirada da cama dela e a conhecia bem o suficiente para a ler com perfeição.

— Não. — ela se recusou a admitir. Era orgulhosa demais para voltar atrás e mais orgulhosa ainda para permitir que ele estivesse certo sobre ela.

Caminhou até o canto do quarto, onde havia uma penteadeira, e deixou sobre ela o hobby que estava usando, ficando apenas com sua camisola de seda branca. Sabia que Wendell tinha a acompanhado com o olhar durante todo o tempo, prestado atenção em cada um de seus movimentos. Entretanto, quando se virou, ele parecia prestar demasiada atenção nos próprios pés.

Maraisa deu a volta na cama com calma, indo para o lado que já se encontrava desarrumado, a prova de que ela havia tentado dormir ali antes e falhado. Se deitou, acomodando-se contra o travesseiro enquanto olhava Wendell ainda sentado do outro lado da cama.

Foi só quando ela estava completamente acomodada que ele se mexeu. Com toda a naturalidade, tirou a camiseta que usava, deixando à mostra o torso que Maraisa conhecia muito bem, mas que não a impedia de olhar com a atenção de quem nunca tinha visto antes.

Wendell tinha tido sucesso em disfarçar o olhar que depositou sobre ela, mas Maraisa não teve tanta sagacidade. Se perdeu tanto olhando para o corpo dele que só percebeu que também estava sendo observada quando já era tarde demais.

Wendell sorriu quando ela finalmente se deu conta que havia sido pega no flagra.

— Você engordou. — a morena lhe falou com acidez. — Dá para perceber pela gordura no quadril.

— Você parecia bastante concentrada para observar isso. — ele continuava a sorrir, se divertindo com a situação.

Maraisa rolou os olhos.

— Boa noite! — ela virou-se para o lado e puxou a coberta até que parte de sua cabeça estivesse sob ela.

Ainda estava se recriminando por ter se deixado levar pela situação quando sentiu Wendell finalmente se deitar ao seu lado. Era estranho que, em pouco menos de um mês, compartilhar a cama com ele tivesse se tornado algo tão antinatural. Tinha desejado e sonhado tanto em ter ele por perto de novo, mas seus sentimentos haviam mudado de forma tão brusca que surpreendia até mesmo ela.

Se assustou e ficou imóvel quando sentiu os braços dele a envolver, abraçando-a por trás e a mantendo firmemente dentro de seus braços. Maraisa sentiu seu coração ferido disparar. Com frequência dormiam naquela posição, mas para ela nunca tinha sido tão prazeroso ou estranho como naquele instante.

A sensação de antes a inundou. Estar nos braços de Wendell lhe passava tanta segurança que a fazia questionar se não era algo primitivo. A explicação irracional que pensou era de que talvez sentisse aquilo porque seus bebês percebiam que o pai deles estava por perto. Entretanto, o mais provável era o que ela recusava admitir, que apesar de todas as coisas ruins e do momento em que viviam, Wendell sempre seria seu porto seguro, seu lar.

Complicações do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora