23. O Preço Da Omissão

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— Você não devia ter vindo até aqui. Eu não quero falar com você. — Wendell lhe falou.

Maraisa estava sem reação porque nunca tinha o visto daquela forma. Wendell estava completamente abatido, sua feição era como uma exposição completa do abismo emocional que ele caira nas últimas horas. Ver a dor nele, era pior do que se estivesse doendo nela mesma. Não queria ser a causadora daquilo, mas sabia que era.

— Wendell. — falou, ainda sem reação diante dos olhos avermelhados dele. Mais um demonstrativo de tudo que ela estava lhe causando. — Eu preciso me explicar...

— Não, não precisa. Eu já ouvi o suficiente por hoje. — a voz dele estava arrastada o suficiente para que ela percebesse que ele havia bebido mais do que o recomendável.

— Eu sei que você está magoado, mas nós precisamos conversar. As coisas não são como você está pensando.

— Ah, é. Não nada do que estou pensando, né? — ele debochou da frase clichê.

— Eu ia te contar, eu juro. Eu só... — ela não sabia o que dizer, não sabia como se defender. Tinha plena consciência do tamanho da besteira que tinha feito e do quão errada estava.

— Só estava esperando ter certeza, né? — Wendell debochou mais uma vez.

— Não, não é isso...

— Não importa. — ele a interrompeu. — Eu já disse, você não deveria ter vindo até aqui. Eu estou de saída, não quero falar com você agora.

Maraisa o analisou mais uma vez e notou que realmente ele parecia estar de saída, inclusive segurava a chave de seu carro na mão.

— Você não pode dirigir assim. — se apressou a dizer, ficando instantaneamente preocupada. — Você bebeu demais, é perigoso.

— Como se você se importasse...

— Eu sei que eu menti e omiti coisas, mas nunca sobre nós. O que eu sinto por você é a coisa mais verdadeira da minha vida. Você não quer falar comigo? Tudo bem, mas eu não vou deixar você sair nesse estado.

Wendell a encarou e ela podia perceber que ele pensava se levava o que ela dizia em consideração ou não. Por fim, apenas deu uns passos para trás, lhe deu as costas e entrou no apartamento. Ele deixou a porta aberta atrás de si e Maraisa não esperou para saber se aquilo era um convite ou apenas um lapso, entrou atrás dele.

Ela assistiu enquanto ele pegava uma garrafa de uísque que estava aberta sobre a mesa da sala e a levava os lábios, dando um gole longo que o fez franzir o rosto com o ardor que a bebida lhe causou.

— No dia que você me contou sobre a gravidez eu te perguntei se você tinha certeza que eu era o pai. Você teve a pachorra de até se fingir ofendida com a pergunta. E olha onde estamos agora, você se esgueirando para fazer um DNA com seu ex... — ele se voltou para ela. A cada momento deixava ainda mais claro o quão embriagado já estava. — Não vai me deixar sair, né? Então fica a vontade. Vou beber no meu quarto. A única coisa que eu não quero é ter que olhar para a sua cara hoje.

Maraisa apenas o olhou caminhar pela sala, parecendo se concentrar bastante para manter o equilíbrio.

Tinho indo até ali sem um plano, sem saber o que fazer ou o que iria encontrar. Havia saindo de casa no total desespero de ao menos tentar fazer algo. Tudo já tinha fugido de seu controle, mas precisou se agarrar à ínfima esperança de que chegaria ali e conseguiria consertar as coisas. Não podia perder mais ninguém por conta de seus erros. Mas estava evidente que naquela noite não resolveria nada. A única vantagem de ter ido até ali era impedir que ele saísse dirigindo estando tão embriagado como estava. Jamais se perdoaria se algo acontecesse com ele.

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