17. Medo ou Cautela

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Wendell não queria se envolver. O motivo era seu lado racional, que entendia que eles juntos eram sinônimo de problemas, que a presença de um na vida do outro sempre levava a feridas. Por isso ele fugia, tentando evitar a tentação, o que de fato era qualquer coisa em Maraisa. Queria se convencer de ela era apenas a mãe de seus bebês e que poderiam ser como velhos amigos, que jamais passariam disso. Era o que ele achava que seria melhor para todos.

Queria tanto evitar estar com ela, pensar sobre ela, que por um tempo se prendeu ao navio já fundado que era seu casamento. Mas não fez isso de forma consciente. Demorou um tempo para perceber que todas suas tentativas de salvar aquele relacionamento depois de sua traição não eram porque amava Elisa, mas porque deseja fugir de tudo que sentia por Maraisa. Queria um motivo que fosse maior do que si próprio, que sua própria vontade, para não estar com ela.

Entretanto, apesar de fugir, se esconder e se enganar, toda vez que estava diante dela a queria mais. O problema era que, toda vez que estava à beira de sucumbir, algo dentro dele insistia em lembrar que eles não faziam bem um para o outro, que não haviam dado certo antes. Por que insistir em algo que acabaria machucando ambos? Já tinha dado errado uma vez, por que persistir agora que ainda teriam duas crianças envolvidas na bagunça deles? Não podia permitir que a situação fugisse do controle, não àquela altura. Não tinha mais tempo nem idade para se arriscar daquela forma.

Foi pensando em tudo isso que ele criou forças para se afastar daquele beijo.

Não foi fácil, todos seus sentidos imploravam para que ele fizesse o contrário. Mas, por mais que estivesse bom, que parecesse fazer todo o sentido do mundo, que a boca dela completasse a dele de forma tão natural, ele não podia fazer aquilo. Sentia que não podia abrir aquela porta. Tinha iniciado aquele beijo por impulso, e o encerrou da mesma forma.

Maraisa o olhou confusa e ele não conseguiu sustentar seu olhar, temia o que mais poderia encontrar ali. Confusão, como ele já vira, mas talvez também houvesse decepção e raiva, coisas com as quais ele não conseguiria lidar naquele momento.

- Preciso tomar um ar. - falou e, sem dar espaço para que ela tivesse qualquer reação, caminhou até a porta e saiu do quarto.

Não teve paciência para esperar o elevador. Com os ouvidos zumbindo e o peito apertado, entrou por uma porta lateral e começou a descer as escadas. Enquanto se lançava pelos degraus, sentiu seu coração disparar, um pico de adrenalina durante uma fuga que não era somente física mas também emocional.

Se viu no lobby do hotel antes do que gostaria. Sob o olhar especulador do recepcionista, caminhou até a porta da frente, sentindo o ar gelado da noite de Curitiba invadir seus pulmões quando saiu na calçada. Do outro lado da rua havia uma praça vazia e ele não hesitou em atravessar e ir até ela.

Sentou-se em um dos bancos feitos de concreto e apoiou os cotovelos nos joelhos. Respirou fundo, tentando se livrar de toda a tensão que sentia e recuperar seu equilíbrio emocional. Depois se encostou e observou a rua completamente vazia, fruto do adiantar da hora.

Sua pele o fazia sentir o beijo dela como se ainda estivessem colados um ao outro. Sua mente repassava tudo o que haviam dito e o que mais o pegava era ela ter falado que não conseguia o entender. O fato era que ele mesmo não se entendia por inteiro. Estava travando uma constante batalha dentro de si, uma constante luta entre o que queria fazer e o que deveria fazer. Naquele dia, por um momento, a vontade tinha vencido o dever e, ainda que ele tivesse interrompido tudo, não se sentia arrependido.

Tinha fugido de Maraisa mais uma vez, fugido do que havia feito, mas acima disso, tinha fugido das consequências daquilo. Ela iria lhe questionar, com toda a razão, querendo saber os motivos de sua atitude e ele não teria coragem de falar a verdade. Além disso, por diversas vezes, percebeu ela fugir também. Então não sabia até que ponto aquele beijo poderia a ter ofendido.

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