Complicações do Amor

29. Incerteza

 Boa parte da manhã já havia se passado e Maraisa ainda estava fora de casa. Tinha despertado cedo, mesmo que tivesse ido dormir tarde. Visitou os estábulos e as plantações, ajudou a alimentar as galinhas, a escovar os cavalos e participou da vistoria de um novo trator que tinham acabado de comprar. Tudo para se manter ocupada até que desse o horário de partirem.

O dia anterior havia sido um completo tumulto. Tinha ido para a fazenda em busca de paz, porém o dia anterior foi a prova cabal de que não importava para onde fugisse, sua bagunça iria encontrá-la. É claro, seus problemas finalmente pareciam ter encontrado suas soluções. Graças a Wendell ela conseguia ver uma luz no fim do túnel. Entretanto, era inegável que ainda estava em um túnel, as coisas estavam apenas começando a se resolver, tudo levaria tempo para se solucionar de vez e isso também era cansativo.

Mas de tudo o que aconteceu, o que mais tinha a impactado, e o que estava a fazendo passar a manhã toda longe de casa e de onde poderia encontrar Wendell, foi aquele beijo. Tinha se deixado levar e agora colocava a culpa no estado de fragilidade emocional que se encontrava. Tinha aceitado, até mesmo desejado, aquele beijo, mas seu lado racional sabia que ainda não estava pronta para dar aquele passo. Apesar de toda a ajuda e demonstração de arrependimento de Wendell, ela ainda não se sentia pronta para o perdoar completamente.

Eles passaram o resto da noite juntos, porém nada mais aconteceu entre eles. Quando ela deu o primeiro sinal de desconforto, Wendell a respeitou e não insistiu, embora fosse evidente a vontade dele de que eles voltassem a estar completamente juntos. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde ele tocaria no assunto, iria querer saber como eles ficariam depois de tudo que aconteceu nos últimos dois dias. Como ainda não tinha uma resposta para dar a ele, ela estava fugindo.

Quando já não tinha mais nada em que pudesse se envolver, finalmente rumou para o casarão. Haviam combinado de sair próximo das dez da manhã. Aquele era o penúltimo dia do ano, o que significava que seu aniversário era no dia seguinte. Pela primeira vez em anos não iria passar a data trabalhando e é claro que sua irmã não iria perder a oportunidade de ter uma festa de aniversário. Maiara praticamente tinha a intimado a voltar para casa e ajudar com os últimos detalhes da festa. Por mais que quisesse, Maraisa não conseguiu dizer não para a irmã.

Sua fuga matinal se transformou em um karma rápido demais. Quando estava chegando na casa, a primeira pessoa que avistou foi justamente a que tentava evitar. Wendell colocava no porta-malas do seu carro algumas malas que de longe ela podia perceber que eram dele. Assim que ele arrumou tudo dentro do bagageiro, fechou a porta e se virou para a direção dela. Maraisa ainda não queria ir até ele, porém de algumas situações não havia como escapar.

— Sua mãe ligou. Queria saber se você iria chegar para o almoço. — disse o mais velho, se encostando no veículo e colocando no rosto um par de óculos escuros para se proteger do Sol quente que brilhava sobre eles. — Prometi que iria te entregar para ela bem a tempo.

— Ela perguntou só isso?

— Claro que não. — Wendell riu. — Perguntou se você jantou, se tinha dormido bem, se tomou café da manhã e se lembrou das suas vitaminas. Também queria saber onde você estava e por que eu não estava com você. No fim nós batemos um bom papo.

— Ela anda superprotetora comigo. Acho que deixei todo mundo preocupado demais.

— Que nada. Eu mesmo quase não levei susto nenhum, pode perguntar pro Jorge depois. — ela lhe levantou uma sobrancelha sem entender o que ele queria dizer, o que o fez rir.

— Vou tomar um banho rapidinho e aí nós vamos, ok?

— Ok. — ele concordou, mas quando ela se virou para ir em direção à casa, a segurou pela mão. — Queria conversar com você antes de irmos.