31. Um Dia de Cada Vez

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Seu corpo doeu quando se mexeu na cama. Mesmo enquanto a mente ainda estava recuperando a consciência, percebeu que havia adormecido em uma posição nada confortável. Tentou esticar o braço e acabou esbarrando em algo. Só percebeu que esse algo, na verdade, era alguém, quando ouviu um murmúrio de reclamação. Abriu os olhos e viu Maiara deitada ao seu lado. Sua gêmea tinha expressões tão relaxadas que demorou para Maraisa se lembrar o quão terrível tinha sido aquela madrugada.

Tinha passado o resto de sua noite de aniversário ali. Certificou-se de que ninguém mais entrasse no quarto, porque sua irmã não queria ver mais ninguém. Desligou-se da festa que poderia, ou não, ter continuado sem elas no andar de baixo. E ignorou completamente os barulhos dos fogos que ali invadiram, indicando que o ano finalmente havia acabado e outro se iniciava. Nada daquilo lhe importava. Tudo o que queria era consolar Maiara, tarefa que a cada instante parecia ainda mais difícil.

Maiara não havia conseguido colocar em palavras tudo o que estava sentindo, mas ela não precisava. Maraisa era capaz de a compreender. Não só porque eram gêmeas e sempre tiveram muita sensibilidade aos sentimentos uma da outra, mas porque conseguia se colocar completamente no lugar da irmã. Também havia sido pega de surpresa pelo que aconteceu. Também havia caído naquele delírio de que seria Wendell a fazer um pedido de casamento naquela noite e, ainda que de certa forma estivesse esperando, não poderia afirmar com certeza que não teria tido a mesma exata reação que sua irmã teve se Wendell tivesse proposto.

Maraisa compreendia o quanto aquilo era doloroso e complexo para sua gêmea. Sabia que ela não havia fugido daquele pedido por não amar Gustavo o suficiente, mas sim por puro medo. Maiara carregava traumas demais para encarar aquela situação com a naturalidade e o romance que eram de se esperar. Depois de anos sendo noiva de outro homem, em meio a uma relação nada saudável, não era de se admirar que o tema casamento pudesse lhe causar vários gatilhos.

Saiu da cama com cuidado e tentou não fazer barulho algum, não queria acordar a irmã porque sabia que aquelas horas de sono provavelmente seriam as únicas que ela teria de tranquilidade durante algum tempo.

Quando chegou ao próprio quarto, rumou direto para o banheiro. Ainda usava as roupas da festa e sentia que precisava de um banho para começar a encarar aquele dia.

Depois que já estava vestindo seu conjunto de moletom favorito, que quase não lhe servia mais no quadril, e penteado os cabelos úmidos, desceu em busca de algo para comer.

Ainda não tinha olhado o celular para saber que horas eram, mas podia apostar que ainda era de manhã. A casa estava silenciosa, indicando que seus pais - e os outros parentes que ali se hospedaram - ainda dormiam. A única pessoa tão acordada quanto ela era seu irmão. Ela o encontrou sentado em uma banqueta da cozinha, comendo com perceptível desinteresse um pedaço do que com certeza era o bolo de aniversário delas.

— Também quero. — falou Maraisa para o mais novo.

César olhou para ela e esboçou um pequeno sorriso antes de abandonar seu próprio pedaço para ir até a geladeira e servir um para a irmã.

Maraisa se sentou ao lado de onde o irmão estivera e, enquanto ele lhe cortava um pedaço do bolo, tentou organizar as várias perguntas que tinha para fazer. Acabou fazendo a primeira delas:

— Como ficou o Gustavo?

— Levei ele para casa, fiquei com medo dele ir dirigindo sozinho. — César Filho suspirou e colocou o prato de sobremesa diante da irmã. — Ele não estava nada bem.

— O pessoal ficou comentando demais? — todos que estavam na festa eram da família, mas em toda família existe aquele tipo de pessoa que gosta de aumentar o burburinho em torno de qualquer tragédia.

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