10. A Festa

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Haviam luzes suspensas atravessando todo o gramado, eram tantas que competiam, e levavam a melhor, contra o céu estrelado. Um palco pequeno e baixo havia sido montado e alguns amigos do aniversariante se revezavam sobre ele. A maioria dos convidados já haviam chegado e, uma parte deles, sido acomodados no grande casarão que era o coração da fazenda, afinal a festa só terminava na tarde do dia seguinte.

Wendell estava sentado na mesma mesa que a família de Jorge e do aniversariante. Como seus amigos diziam, já havia iniciado os trabalhos. Sobre a mesa uma coleção de garrafas pela metade e latas vazias. Ao seu lado, Elisa apenas comia o que era servido do churrasco.

Estava animado porque a noite estava sendo agradável. Mateus havia ido receber alguns convidados que ainda chegavam enquanto Jorge tentava o convencer a subir no palco e cantar um modão.

- Se cê quer estragar o aniversário do seu amigo tem jeito mais fácil do que me botar pra cantar. - Wendell rebateu.

- Só uma, uai. Chitãozinho e Xororó, das antigas. - Jorge insistiu, o sorriso indicando toda a travessura da ideia.

- Meu negócio é investir em gente que canta, não cantar. Se eu cantasse não ia ser sócio de ninguém, só de mim mesmo.

Jorge gargalhou, adoravam implicar um com o outro. Wendell estava pronto para provocar o amigo mais uma vez quando seus olhos focaram no portal que havia sido montado como entrada da festa. Foi como se tudo conspirasse para que ele estivesse consciente da presença dela desde o primeiro segundo.

Mateus trazia Maiara e Maraisa de braços dados com ele. Percebeu que a ruiva ria, mas ele só conseguia prestar atenção da expressão séria da morena. Ela usava um vestido preto justo, com uma jaqueta de couro por cima e botas que lhe subiam até o joelho. Estava linda, tão linda quanto ele sempre a achou.

Mateus as guiou até uma mesa, do lado totalmente oposto de onde ele estava, e durante todo o caminho Wendell a acompanhou com o olhar. Assim que Maraisa se sentou seu olhar achou o dele, como se soubesse desde o começo onde o encontrar. Sob o olhar dela, ele sentiu todas as emoções o tomarem de uma única vez, paixão, ressentimento, saudade, mágoa, amor e ódio.

Percebeu então o homem se sentar ao lado dela, passando a mão por seu ombro e praticamente a obrigando a desviar o olhar. Fabrício, ele se lembrava do nome. Nunca tinha o visto pessoalmente, não tinha motivos para odiá-lo, ainda assim esse era o único sentimento que possuía sobre ele.

- Wendell, eu estou falando com você! - Elisa tocou seu braço, o puxando para a realidade de tal forma que sentiu como se saísse de um transe.

- Desculpa... Eu tava pensando em uma coisa. - tentou disfarçar. Elisa pareceu acreditar, mas Jorge o olhava com acusação.

- Eu perguntei se você quer comer algo, eu vou lá buscar.

- Não, obrigado. Acho que vou beber mais um pouco antes.

Sua esposa assentiu e então se levantou e foi em direção às churrasqueiras, onde a carne era servida na hora. Ela mal havia saído quando Jorge lhe provocou:

- Então você cortou todos os vínculos com ela, né?

- Ela quem? - Wendell se fez de desentendido.

Jorge sorriu. - Quase se engoliram com o olhar.

- Jorge... - ele ia tentar se explicar, ainda que não houvesse uma explicação clara em sua cabeça, porém foi interrompido.

- Não precisa se justificar para mim. As únicas pessoas pra quem você deve isso é para a Elisa e para você mesmo.

Wendell deu um gole em sua cerveja. Não havia o que dizer, assim como agora percebia que nunca haveria uma explicação. Não existia nada de racional sobre todos o sentimentos que ela lhe causava e como, por mais que tentasse, não conseguia deixar de se afetar.

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