21. Ausência

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Estava sentada próximo à janela de seu quarto enquanto Bruno terminava sua maquiagem. Ela era capaz de ver toda a extensão da piscina e boa parte do jardim do lado de fora. A movimentação lá em baixo já tinha começado, até mesmo dali ela conseguia ver alguns rostos conhecidos entre as pessoas que chegavam.

Aquela festa só ainda estava acontecendo por causa dos esforços de sua mãe. Amava seus bebês com todo seu coração, mas se dependesse dela aquele chá não iria acontecer. E se dependesse de Maiara, muito menos. Aquilo tudo foi ideia de sua gêmea, porém, desde a briga delas há duas semanas, Maiara havia abandonado qualquer coisa que a envolvesse. E ela não sabia nem mesmo explicar como estava a relação das duas. Só uma palavra lhe vinha a cabeça se precisasse: indiferença.

Já havia brigado com Maiara muitas vezes antes, já tinham ficado sem se falar e até mesmo sem se olhar. No fim nada disso durava, acabavam sempre grudadas uma na outra. Mas dessa vez não era assim, Maraisa soube que seria diferente no instante que tudo aconteceu. Agora elas ainda conversavam, entre frases curtas e sempre e somente sobre trabalho. Os últimos shows pareciam verdadeiras peças de teatro, perfeitamente ensaiado. De um dia para o outro era como se fossem apenas colegas de trabalho, meras conhecidas que não tinham intimidade alguma uma com a outra.

Mas se em público era ruim, em casa era pior. Eram absolutas desconhecidas, era quando realmente se evitavam a todo custo. Porém, quando eram obrigadas a estar no mesmo ambiente com o resto da família, a indiferença e o formalismo retornavam. A sensação que ficava para Maraisa era de que não tinha mais uma irmã. E o pior disso era saber que era justamente esse sentimento que Maiara queria para elas, que aquele vínculo que tanto prezaram deixasse de existir. Mas chegar até o fim era um processo doloroso, a cada dia Maraisa sentia que perdia um pedaço de si.

A princípio tentou reverter aquela situação. Sabia que tinha agido errado e que as consequências foram catastróficas para Maiara, mas toda a vez que tentou se desculpar a irmã se recusou a conversar. Então, com os dias passando, ela acabou desistindo e até se revoltando um pouco. Maiara tinha sofrido mais e perdido mais naquele dia, mas Maraisa não tinha sido a única a falar coisas pesadas e com a intenção de ferir. Doía lembrar de tudo que Maiara lhe falou, de como duvidou e cogitou que ela poderia desejar seu mal, justo ela que a amava mais do que a si mesma. Ou seja, também tinha saído machucada daquela briga. Por que então somente ela tinha que ir atrás de tentar resolver as coisas?

- Terminei. - Bruno anunciou, tirando-a de seus devaneios.

Maraisa se levantou da cadeira onde havia passado a última hora enquanto Bruno fazia seu cabelo e sua maquiagem e caminhou até o banheiro. Parou diante do enorme espelho retangular e encarou seu reflexo, analisando cada detalhe de si mesma.

Estava usando um vestido branco de comprimento médio, com mangas bufante e que ficava solto em seu corpo. Uma peça um tanto quanto simples, mas que possuía uma beleza delicada. Seu cabelo tinha duas tranças no topo da cabeça, porém a parte de baixo estava solta e com cachos largos e bem feitos. Bruno tinha feito um milagre escondendo sua olheiras, conseguiu a deixar com uma aparência fresh que ela não tinha há dias.

- Você tá linda. - o amigo lhe disse, parando logo atrás dela e também a olhando através do espelho. - Tá parecendo uma fada.

Maraisa forçou um sorriso enquanto se sentia emocionar. Sua cabeça só pensava em quanto aquele dia era para ser um dos dias mais felizes da sua vida, mas ela tinha certeza que não seria assim. Seu coração estava apertado, não conseguia se sentir completa com tudo o que vinha acontecendo.

Bruno desceu com ela até o andar de baixo. A festa tinha sido toda montada na parte exterior da casa, próximo da piscina. Maraisa tinha visto apenas uma coisa ou outra antes de subir para se arrumar, somente naquele momento estava vendo tudo pronto.

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