30. O Pedido

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O barulho da música era alto, mas sua família conseguia conversar mais alto ainda. Aquilo sempre acontecia em qualquer festa em que ousassem reunir os Henrique e os Pereira.

Maraisa estava escondida em um canto. Havia entrado de fininho no escritório que ficava no andar de baixo da casa e se acomodado em uma poltrona. Não fazia nem meia-hora que tinha descido do seu quarto para a festa, mas já sentia que sua bateria social estava no fim. Se não fosse sua gêmea, ela definitivamente não teria participado de nada daquilo.

A verdade era que o dia estava sendo muito mais reflexivo do que comemorativo para ela. Estava completando 37 anos e só pensava que na mesma data, no ano anterior, jamais imaginaria que estaria onde e como estava naquele momento. Se um ano atrás alguém lhe dissesse que Wendell iria voltar para sua vida e que ela engravidaria dele, com certeza teria dado boas gargalhadas. Chegava ser assustador pensar em tudo pelo que passou no último ano, a quantidade de mudanças, dificuldades e aprendizado. Era como se naquele único ano tivesse vivido dez.

— E ano que vem vocês vão estar aqui fora com a mamãe. — acariciou a própria barriga, desejando intensamente que seus bebezinhos já estivessem ali para que ela os apertasse em seus braços.

Ouviu a porta se abrir e o barulho da festa invadiu o ambiente antes que a cabeça ruiva fosse colocada para dentro.

— Tá tudo bem? — Maiara lhe perguntou, olhando-a com atenção.

— Tá sim. Tô só descansando um pouco.

Maiara cruzou os braços e serrou os olhos.

— Não acredito que você está fugindo da sua própria festa de aniversário! — falou com indignação. Já estava acostumada a mentir para as visitas dizendo que Maraisa não estava em casa, quando na verdade a irmã ficava trancada no próprio quarto. Mas fugir até da própria festa de aniversário era demais para Maiara aceitar.

— Eu não estou fugindo. — Maraisa soou tão pouco convincente que nem ela mesma era capaz de acreditar naquilo.

— Você deve estar nervosa. Reparei que o Wendell ainda não chegou e...

— E?

— E ele deve estar enrolado com os últimos preparativos do pedido.

Maraisa rolou os olhos. Além da festa, aquele assunto era a segunda coisa mais incômoda do seu dia. Maiara simplesmente não sabia falar de outra coisa com ela e, ao contrário do que se podia imaginar, aquilo não a ajudava a ponderar sobre o assunto. A perspectiva de que Wendell realmente poderia lhe fazer um pedido de casamento naquela noite, na frente de toda sua família, vinha a fazendo experimentar todos os níveis de ansiedade possíveis.

Ouviram um repentino barulho mais alto de vozes e, entre risos e palavras dispersas, deu para perceber que alguém havia chegado e estava sendo recebido.

— Deve ser o Wendell... — Maiara deduziu.

Maraisa levantou tão rápido da poltrona onde estava sentada que parecia que o móvel tinha começado a pegar fogo. Maiara não teve reação a não ser rir de sua afobação repentina.

As duas deixaram o escritório juntas e caminharam apressadas para a sala, mas chegando lá foi Maiara quem abriu um enorme sorriso e correu para abraçar o recém chegado.

Gustavo mal conseguiu abraçar a amada de volta. A ruiva se jogou em seus braços, ignorando completamente os dois enormes buquês que o namorado trazia consigo. O primeiro, feito completamente com rosas vermelhas, ele entregou de maneira desajeitada para uma Maiara que àquele ponto já estava emotiva. O segundo, feito com Lírios e algumas flores de campo, ele caminhou e entregou para Maraisa.

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