15. Reconciliação

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Ela dedilhava o violão enquanto encarava a folha em branco de seu caderno. Não sabia quanto tempo fazia que estava ali, sentada em sua cama, esperando que alguma inspiração chegasse, mas sabia que pelo menos alguma coisa já deveria ter sido escrita naquela folha. Entretanto, ao contrário do que era de se imaginar, não estava preocupada com aquilo. Sua improdutividade não incomodava quando finalmente sentia um pouco de paz. Os últimos dias tinham sido caóticos, poder se sentar em seu quarto, ouvindo apenas o som das notas musicais, era um privilégio.

Esticou o braço para pegar o copo de vitamina de gengibre e maça que estava sobre a mesa de cabeceira. Sua mãe que havia preparado, segundo ela era uma mistura muito eficiente para evitar todos os enjoos que ela vinha sentindo. Aquele era apenas um dos muitos cuidados que Dona Almira demonstrava com ela. Nunca se sentiu tão grata por ter a mãe ao lado.

É claro que, num primeiro momento, enfrentar sua mãe tinha sido difícil. Almira tinha cumprido sua promessa e fora encontrar as filhas em São Paulo, foi quando Maraisa finalmente teve que a encarar e contar tudo o que realmente tinha acontecido. Aquilo demandou coragem, porque o modo como as coisas aconteceram entre ela e Wendell não era uma coisa fácil de uma filha explicar para uma mãe. Mas por fim, depois de um sermão que Maraisa não iria esquecer tão cedo, Dona Almira lhe deu todo o apoio e carinho de que ela precisava.

Tinha chegado em sua casa em Goiânia na tarde do dia anterior. Logo soube que seu irmão e seu pai estavam lá. Quanto a Cesar Filho, ele fora o que melhor reagiu à noticia de sua gravidez, ele e Maiara nao perderam tempo em iniciaram uma rivalidade pesada pelo posto de melhores tios. O problema, como já esperado, foi seu pai. A situação com sua mãe tinha sido difícil, mas administrável. O mesmo não podia ser dito sobre seu pai.

Ela tentou manter um pouco de esperança a princípio, porque o pai tinha ido até a casa delas quando ele poderia não ter feito nem isso. Porém, sua presença na casa acabou sendo seu único gesto de complacência. Desde que Maraisa havia chegado a única palavra que ele lhe dirigiu foi um "Oi" e ainda assim pareceu fazer isso quase obrigado. A evitava pela casa e quando ela tentou insistir em conversar, ele apenas saiu, fingindo que ela não tentava dizer nada. Era uma situação que beirava o insustentável. Sua mãe tinha pedido para que ela desse um tempo para ele, que ele iria se acalmar, e ela estava tentando fazer aquilo.

Independente disso, ela sentia que as coisas estavam lentamente melhorando. Na internet as pessoas já falavam menos dela, a imprensa tinha dado uma pausa em lhe expor, o que por si só já diminuía em muito o engajamento negativo que vinha recebendo. Não fosse a cisão com seu pai, ela poderia até mesmo fingir que as coisas estavam normais.

Estava dando o último gole em sua vitamina quando bateram em sua porta e em seguida Maiara colocou cabeça para dentro do seu quarto.

- Tá ocupada? - a ruiva lhe perguntou.

Ela sorriu.

- Não pra minha balala. - colocou o violão de lado e fez sinal para que a irmã entrasse.

Maiara rolou os olhos para a voz de bebê e o apelido, mas depois também sorriu. Entrou no quarto e logo se deitou de atravessado na cama da irmã.

- O que aconteceu? - Maraisa se deitou ao seu lado e enfiou o nariz entre seus cabelos, aproveitando o cheirinho familiar que só sua gêmea possuía. Tinha percebido que havia algo de errado assim que a irmã colocou a cabeça pela porta.

- A cerimonialista pediu demissão. - Maiara bufou. - Poxa, eu sei que eu estava exigindo bastante, mas também não era para tanto.

Era para tanto sim, Maraisa pensou consigo. Considerava um verdadeiro milagre a pobre mulher ter aguentado tanto tempo. Maiara estava cada dia mais insuportável e compulsiva com tudo que envolvia aquele casamento, era de fazer qualquer pessoa sã perder a cabeça.

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