Carro Forte

XVI

   Já era madrugada quando chegamos em casa, fui direto pro banho e quando sai meu pai estava sentado na cama com o porta retrato na mão.

   Era a única foto que tinha dele com o Gigante e ele me deu para eu nunca esquecer de onde vim.

- Eu sou o homem mais realizado do mundo. - falou ainda olhando pro porta retrato - E tudo isso foi graças a esse cara aqui.

- Você sente falta dele, né? - perguntei vendo ele sorrir fraco - É normal.

- Ele me deu uma chance. Que não é pra qualquer um. - falou colocando no lugar de novo - Eu vim aqui te dar boa noite.

- Boa noite, pai. - o abracei - Amanhã eu não tenho nada.

- Teus tios vão se virar sozinhos, então. - falou rindo - Vamos ficar em família, só nós quatro.

- Tá bom. - senti seu beijo na minha testa - Amo você.

   Mr me chamou pra ver como estava ficando a obra da whiskeria e fui me encontrar com ele, ainda não tínhamos conversado sobre como ficaria a nossa amizade.

   Todas as vezes que tentamos, algo acontecia, estamos até meio afastados, o que todo mundo achou estranho.

- Está ficando do jeito que pensamos. - falei olhando até os pequenos detalhes - Vai virar o ponto favorito de todo mundo.

- A meta é essa. - falou sentando num banco que tinha ali - Será quase agora vamos conseguir conversar?

- Acho que sim. - me sentei do lado dele - Quem começa?

- Eu começo, sabe que na minha vida tu tá no topo, não importa o que. - falou me fazendo olhar pra ele - Eu e a Bruna foi o rolê mais aleatório da minha vida e eu estar com ela não quer dizer que vou esquecer a nossa caminhada juntos.

- Sei disso. - falei - Mas foi são vocês começarem isso, que ela passou a me odiar.

- Te juro que não entendo esse ciúmes dela. - falou e o encarei segurando a risada - Já deixei claro que tu é como uma irmã.

- Murilo, nós conhecemos desde crianças, sempre fizemos as coisas juntos. - falei fazendo ele me olhar - É normal ela sentir esse ciúmes todo, ela só tem que entender que eu não sou nenhuma ameaça.

- Já falei isso pra ela, porra, é errado pra caralho, eu sei. - falou pegando minha mão - Ficar longe de você está sendo fofa pra mim.

- Também está sendo pra mim. - falei olhando pra ele - Eu sinto a sua falta, mas não vou correr atrás.

- Sei bem como tu é, te conheço desde sempre. - falou dando de ombros - Vou fazer tu confiar em mim de novo.

- Não deixei de confiar em você. - falei fazendo ele me olhar - Continua sendo o meu melhor, só que pro bem do teu nam...

- Não vou me afastar de você de novo. - falou sorrindo - Quem é Mr sem a Moana, me diz.

- Vira o Mr com a Bruninha. - zoei ele que começou a rir.

- Idiota pra caralho. - se levantou e o abracei - Vou te levar pra tomar açaí.

   Subi na garupa dele e fomos tomar açaí, conversamos sobre como foi esses dias longe um do outro, tiramos umas fotos e ele foi me deixar em casa, passamos pela antiga casa do Gigante e vi que estava em reforma.

   Entrei em casa vendo meus pais no sofá conversando, minha mãe na hora bateu na mão do meu pai que olhou pra trás me vendo, Jv saiu da cozinha com um copo de sorvete na mão e ficou nos olhando.

- Quem morreu? - perguntou colocando o sorvete na boca.

- Ninguém, filho. - minha mãe riu - Seu pai que tomou uma decisão e bateu o arrependimento.

- Que decisão? - perguntei preocupada.

- Sentem aqui. - meu pai apontou pra mesinha - Tenho só que tomar coragem.

- Vocês ainda estão juntos, né? - Jv perguntou e encarei eles.

- Tua mãe é chata, mas não consigo viver sem. - abraçou ela de lado - Minha modelo, pô!

- Então é o que? - Jv estava mais curioso do que preocupado - Fala logo.

- Conversei com a mãe de vocês e decidi que está na hora de deixar vocês terem as própria vida. - ele falou olhando pra minha mãe que concordou - Uma das coisas que o Gigante me pediu, foi que quando chegasse a hora, eu passasse a casa onde ele viveu com a Iara pra filha deles.

- Então eu contratei uns arquitetos para deixá-la do jeito que você quer. - ela me olhou e eu estava em choque - E pro Jv deixamos a casa onde tudo começou entre eu e o pai de vocês.

- Mas isso não significa que vocês tem que se mudar. - meu pai nos olhos - Lara se quiser, tudo bem, mas tu Jv, só depois dos dezoito.

- Que isso pai, eu saindo de casa vou ter que fazer minhas próprias coisas. - sentou no meio deles - Não troco minha mordomia por nada.

- Mas tu é abusado, cara. - meu pai bateu na cabeça dele - Tá doido.

- Não quero sair de casa. - falei vendo ele sorrir - Pelo menos não agora.

- Agora e nunca, né. - ele riu - Se eu não der a chance, tu não sai.

- Eu pulo o muro, ou se esqueceu do que me ensinou? - perguntei vendo ele me olhar indignado - Filha de peixe, peixinho é.

- Misericórdia, tô pagando todos os meus pecados com vocês dois. - passou a mão no rosto - Tá maluco, valem porra nenhuma.

   Resolvi abrir uma caixinha nos stories e fui respondendo, mas tinha muita, muita mesmo envolvendo minha família e o fato de eu ser a "princesinha do Vidigal".

- Boa noite gente, então eu vi que muitas das perguntas são sobre a minha família e eu não tenho muito o que falar sobre. - falei enquanto gravava - Muitos devem saber que eu sou adotada, meus pais morreram pouco tempo depois que eu nasci e a Liz me adotou com o maior amor e carinho.

- Não sou muito de falar sobre eles, porque desde pequena fomos bem reservados em questão da vida pessoal, vocês veem o meu irmão sempre por aqui porque ele é um sem vergonha, gosta de estar em todas. - falei rindo e o Jv invadiu o quarto - E sobre eu ser a princesinha do Vidigal, não vejo dessa maneira, mas é uma honra poder levar o lugar onde sou cria para o mundo e ajudar tantas meninas como eu ajudo.

- Melhor bloguecria, fala vocês. - Jv se jogou em cima de mim e enfiou a cara no celular - Sorte dela que é minha irmã, um gato desse, ajuda muito na visibilidade.

- Aí Jv, vai pra merda! - bati nele rindo.

   Postei todos os stories e em poucos minutos já tinha muita gente falando horrores sobre como o Jv era convencido e que eu estava certa sobre querer deixar minha vida pessoal reservada.