Anthony Quinn

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Chegando em meu pequeno, mas aconchegante, apartamento preparo-me para tomar um banho. Jogo a bolsa de qualquer forma no cabideiro logo na entrada e observo o caos que o coitado se encontra: a cozinha tinha uma pilha de louça, a sala estava toda bagunçada de livros e copos de vidros... Preciso encontrar um rumo para minha vida. Logo.

Sorrindo escuto o som de patinhas batendo no chão, agachando para receber meu tão adorável cão. Robert.

- Oi meu amor! – Meu tom animado deixa claro minha felicidade em encontra-lo, seu rabo abanava alegre. – como você está? Sophie cuidou bem de você? – Aperto levemente a região da barriga, avaliando sua bexiga e vendo que já estava vazia. Acaricio a região e ele arrasta-se até seu colchão ortopédico.

Robert era um cão paraplégico, o encontrei abandonado a beira da estrada muitos anos atrás, ele fora atropelado e deixado a beira da morte. Com o coração mole que tenho não pensei duas vezes em resgatá-lo, gastei todas minhas economias em seu tratamento e valeu cada centavo. Ele era meu maior companheiro. Ele é um cão saudável e feliz agora, um vira-lata de porte médio preto e de olhos pidões. Sophie, minha vizinha que se mudou a apenas alguns meses para o apartamento da frente, ajudava-me a cuidar dele. Como ela trabalha em home office não havia problemas em leva-lo para fazer suas necessidades no pequeno espaço de grama que havia em cada andar.

Com as tarefas do dia a dia, principalmente trabalhando para o próprio demônio, não tenho tempo vago para coisas simples, como lavar a louça. Suspirando pesado, vou até o banheiro e banho-me, deixando que a água cristalina lave e mande embora toda a energia negativa que carreguei por hoje. De banho tomado enrolo-me na toalha felpuda e começo a vagar dessa forma, assim parto para lavar a louça e dar o mínimo de comodidade para o pequeno apartamento de paredes brancas e azuis.

O prédio não era alto, tinha apenas três andares e nenhum elevador, o que era péssimo com Robert, mas sempre demos um jeito. Era antigo, mas nada ultrapassado, tinha aquele ar "retro" ou "vintage" como chamam. A fachada de tijolos alaranjados, com detalhes em branco era chamativa e charmosa. Assim que o visitei pela primeira vez me apaixonei. Simples, bonito e principalmente: barato. Londres tem um mercado imobiliário muito caro, principalmente com o turismo. Então qualquer imóvel que caiba no bolso e esteja em condições mínimas de vivência, já é mais do que o suficiente.

Enquanto colocava os pratos sujos na máquina de lavar louça escuto o som da campainha. Sorrindo sigo até a porta, já sabendo quem era. Robert já estava em frente a porta esperando pelo carinho na cabeça.

- Garota quanto tempo você ficou a mais na empresa?! – Luna segurava um pote de sorvete nas mãos e vestia seu inconfundível pijama de unicórnio.

Éramos vizinhas de porta.

- Precisei ficar até mais tarde. O de sempre: Joseph mandou fazer os relatórios mensais de última hora. – Arregala os olhos chocada. Mas logo sua fisionomia muda quando agacha-se e faz muito carinho em Robert. Quando satisfeito ele segue em direção a cama ortopédica e começa a morder seu brinquedo favorito: uma garrafa de plástico. Ele odeia brinquedos.

- Mas são para a próxima semana!

- Mas o engraçadinho quer para amanhã. – Seus olhos pareciam saltar das orbitas, chocada a garota apenas senta-se no sofá e bufa. – Aliás, quando que você vai trocar esse pijama? Já está na hora não? Vinte e nove já uma idade adulta, até onde sei.

- Você tem vinte e sete e continua usando meia infantil, e nem por isso eu reclamo. – Olha-me de cima a baixo e então franze o cenho. – Por que está só de toalha? Quer me seduzir? – Levanta as sobrancelhas sugestiva, brincando. Gargalhando sigo até a cozinha e pego duas colheres, me sentando ao seu lado e começamos a devorar o sorvete favorito de nós duas: pistache.

Sobre a noite passada | Joseph Quinn | HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora