Dolmades

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"Vai ficar até mais tarde hoje????"

Aparece a mensagem da Luna em meu celular um pouco antes do final do expediente.

"Não, aliás eu mal o vi hoje. E agradeço a Deus por isso."

"O humor deve estar ótimo então. Provavelmente ele deve estar fazer algum culto ao demônio o dia todo."

"Ele está apenas atendendo os clientes, passou o dia todo na sala de reuniões do oitavo andar. Nem o vi..., mas o pai dele resolveu dar o ar da graça na empresa."

Começo a guardar minhas coisas na bolsa tiracolo e desligo meu computador da era mesozoica.

"O que ele veio fazer aqui? O próprio diabo."

Ao contrário de mim Luna teve o "prazer" em trabalhar com Anthony Quinn, já que ela está a mais tempo que eu na empresa. Como disse anteriormente, a fama dele não é muito boa pelos corredores.

"No caminho de casa eu te conto, o babado é forte."

"Adoro uma fofoca :)"

Rindo levemente caminho até a entrada do elevador e aguardo, assim que as portas se abrem revelam meu querido chefe ali dentro, da mesma forma que o encontrei no fim de expediente ontem. A camisa com os dois primeiros botões abertos, revelando uma corrente de prata, o cabelo bagunçado como se tivesse passado as mãos diversas vezes, a gravata vermelha em sua mão direita e um olhar de cansaço.

- Senhor Quinn. – O cumprimento fazendo um leve movimento com a cabeça. Ele finalmente levanta o olhar e percebe a minha presença ali.

- Agnes... Não sabia que ainda estava aqui. – Levanta o braço esquerdo verificando a hora com a testa franzida.

- Já estou de saída. Se o senhor preferir já deixei toda sua agenda de amanhã preparada, se necessário pode olhar hoje. Não há reuniões com clientes, apenas a reunião de inicio de mês com o...

- Meu pai. – Suspira pesado fechando os olhos. – É, eu sei. Muito obrigado. – Sai de dentro do elevador, abrindo espaço para que entrasse. Mas permaneço no mesmo lugar. – Você não vai entrar?

- Você... Você me agradeceu. – Digo baixo, ainda um tanto chocada.

Em quatro anos nunca o escutei me agradecer.

- E eu não deveria fazer isso? – Seu tom de voz era óbvio e havia um certo sarcasmo nela também.

- Essa é a primeira vez que você o faz. – Balanço a cabeça e entro no elevador, apertando o botão do térreo deixando as portas fecharem-se atrás de mim. – Tchau senhor Quinn.

- Tchau Agnes.

As portas fecham-se e eu solto o ar que nem havia percebido que estava prendendo, tento distrair-me com a música irritante do elevador até que chegasse ao térreo, onde Luna já me aguardava.

- O que houve? – Pergunta com a sobrancelha arqueada assim que me aproximo dela, sentada na recepção principal. Estava chegando o inverno e as temperaturas estavam frias.

- Como assim? – Começo a procurar a chave do carro na bolsa. Há tanta coisa aqui dentro que com certeza deve-se igualar a bolsa da Hermione Granger, em Harry Potter. – Cadê essa maldita chave? – Começo a colocar minha mão mais fundo até encontrar o forro da bolsa e nada.

- Não deixou no escritório? Você está com uma cara esquisita...

- Não é nada demais. Não acredito que vou ter de voltar lá em cima. – Solto um grunhido frustrado e irritado. Assim que caminho novamente em direção ao elevador, as portar abrem-se revelando Joseph. Da mesma forma, mas dessa vez sem a gravata vermelha na mão. Invés disso ele carregava algo pequeno. Minha chave.

Sobre a noite passada | Joseph Quinn | HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora