Prólogo

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Odeio segundas-feiras. E odeio ainda mais meu chefe.

Corria apressada pelos corredores da empresa, tentando ao máximo não derramar uma gota do maldito café com leite de aveia em minha mão direita. A outra estava ocupada carregando uma pequena pilha de papéis com os mais novos casos adquiridos pelo meu querido chefe.

- Bom dia, Rosalina. – Cumprimento a senhora simpática da limpeza e acelero minha corrida até o elevador. Seja quem estivesse ali dentro permitiu a minha entrada, segurando as portas para que pudesse adentrar. Agradeço baixo tentando recuperar um pouco de fôlego.

- Manhã difícil? – O rapaz pergunta, o reconheço do setor financeiro, mas infelizmente nunca guardei seu nome.

- Todos os dias são. – Respondo engolindo com a garganta seca. Preciso beber um galão de água.

- Imagino, conviver diretamente com o chefão não deve ser fácil. – O apito de parada em algum andar soa e ele sai do elevador, com um sorriso fraco. Retribuo o sorriso e sigo esperando ansiosa até chegar em meu andar.

Olho apreensiva para o relógio digital ao lado da marca da empresa "Francis Quinn. Advogados Associados" e começo a bater o pé nervosa. Dois minutos atrasada.

Já é o suficiente para ser sacrificada e jogada para os porcos.

Mal escuto o apito de parada e saio rapidamente, jogo minha bolsa de qualquer jeito em cima na minha mesa e sigo apreensiva até a porta de vidro fume com o nome "Joseph Quinn" gravado em letras cinza chumbo. Respiro fundo, seguro a respiração e abro a porta delicadamente.

- Está atrasada. – Fecho os olhos ao escutar sua voz grave. Sentado em sua cadeira de couro ele minimamente levanta seu olhar em minha direção e logo volta os olhos para a papelada em suas mãos.

- Desculpe-me senhor Quinn, o trânsito estava caótico hoje. – Falo baixo, de maneira inábil, profissional. – Aqui está seu café com leite de aveia e a papelada que me pediu a respeito dos casos da semana. – Entrego o copo e a papelada da mesma forma de sempre: copo a esquerda e papelada à direita.

- Obrigada Agata. – Responde, como sempre dizendo meu nome errado. Bufando irritada o corrijo pela enésima vez em quatro anos.

Quatro anos.

- É Agnes senhor. – Falo baixo e como sempre ele ignora-me. – Com licença.

Soltei o ar com força me retirando da sua sala. Sento-me em minha mesa e começo a ligar o computador arcaico. Minha "sala", que era apenas uma recepção do chefe, não era grandes coisas: um computador mais velho que minha vó, uma mesa de madeira escura e vários diplomas a minhas costas que constavam os nomes Joseph Quinn e Anthony Quinn. Vulgo pai e filho.

Hoje estava em um completo mal humor e não há ninguém que possa me culpar por isso.

Qual a maldita probabilidade de eu encontrar o cara que me traiu com a vizinha em uma cidade com mais de oito milhões de habitantes? Considerando minha sorte, obviamente a probabilidade é bem alta. Óbvio que eu toparia com ele em algum momento da minha vida.

E é claro que Oliver estaria lindo e exuberante. Os cabelos encaracolados em um corte impecável, os olhos castanhos e profundos sem uma olheira, o terno que abraçava seu corpo másculo de forma formidável, e eu obviamente não estaria em um dos meus melhores dias – Hoje estava chovendo a beça, meus cabelos cacheados estavam ensopados e sem nenhuma definição. Tentei ao máximo ignorar a sua presença na cafeteria, enquanto pegava o café para Joseph. E também tentei ao máximo não chorar quando ele chegou mais perto na fila e implorou para voltarmos.

- Eu mudei Aggy. Por favor me de uma chance.

Era mais fácil acreditar que o Estados Unidos passou a ter uma alimentação saudável do que nas palavras do homem com quem me apaixonei perdidamente alguns meses atrás.

- Me esquece Oliver, que caralho.

Deixo o homem de pele retinta falando sozinho e passo a ignorá-lo a todo custo. Ficara tão zangada com a situação que no momento nem percebi meu atraso, mas também poderia matar qualquer um que aparecesse em minha frente. Incluindo meu chefe babaca.

Joseph Estúpido Quinn era a pedra no meu sapato diário. Trabalho diretamente para o diabo em pessoa. Talvez ele não seja de todo mal, mas seus apelidos na empresa não era um dos melhores: cão chupando manga, babaca sem noção, demônio... E esses são em dias bons.

Eu sou a porcaria da sua secretária, para não dizer quase assistente pessoal. Cuido de tudo sobre sua vida: horários, reuniões, família, pegar seu casaco na lavanderia e tantas outras tarefas da qual eu não sou paga para fazer, mas faço pois não gosto do desemprego.

Eu odiava esse emprego e odiava ainda mais meu chefe que mal sabe meu nome.

Joseph era um típico londrino: antipático e desprovido de senso de humor. Ao menos seu estilo era impecável, com certeza suas roupas de marcas caras deveriam estar em alguma passarela pelo mundo. Ele era o diabo em pessoa, mas um diabo muito estiloso. Infelizmente não há moda no mundo que cubra a falta de senso que esse homem tem, achava que todos deveriam obedecê-lo sem o questionar. Ninguém jamais o questionava, com exceção de seu pai e as vezes Jonathan que não tinha amor a sua vida e muito menos ao seu emprego.

- Convoque todos para uma reunião em cinco minutos. – Escuto sua voz pelo comunicador, que mais parecia um telefone sem gancho, em cima da minha mesa. Olho para o relógio digital em cima da mesa e percebo que o horário de expediente da grande maioria ainda não começou.

- Senhor Quinn o horário de expediente ainda não começou, faltam quinze minutos. Muitos funcionários ainda não estão no prédio.

- Eu disse cinco minutos. – Concordo contrariada e desejando para que um meteoro atingisse sua cabeça.

E assim começo o expediente na segunda-feira. Ligando loucamente para todos os funcionários advogados convocados e a ponto de ter uma ulcera ou talvez um ataque cardíaco.

Mais um dia no paraíso.


*Não me aguentei de ansiedade e precisei começar logo uma nova história! Como já disse sou apaixonada por clichês e nada melhor do que um romance cão e gato para aquecer o coração.

Espero que vocês gostem :)*

Sobre a noite passada | Joseph Quinn | HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora