Emily

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- Tenho fofoca. – Luna fala assim que me sento ao seu lado na copa. Ergo a sobrancelha interessada, ajeitando meu almoço em cima da mesa. – E é sobre você. – Faz uma pausa pensativa. Pego minha garrafinha de suco de laranja e começo a beber. – Você e Joseph na verdade. – Engasgo com o suco e começo a tossir. Luna tenta me aparar com alguns tapinhas na costas.

- O quê?! – Grito assim que paro de tossir. Tomo mais um gole do suco ainda sentindo algo preso na garganta. – Que merda é essa? – Abaixo o tom, sussurrando para ela confusa.

- Quase todo o departamento viu vocês chegando juntos, no carro dele. – Dá de ombros, como se não fosse nada. Meu queixo estava lá em baixo. – E agora todos estão fofocando que vocês estão se pegando. – Sorri animada e aproxima-se mais, sussurrando em meu ouvido. – O que não é uma mentira.

- É claro que é uma mentira! Foi um acidente. – Exasperada levanto-me e começo andar preocupada de um lado a outro. – Ele apenas me deu uma carona. Uma carona da qual eu não quis, mas você inventou essa historinha de merda com o Jonathan e agora quem paga as consequências sou eu. – Afundo o dedo indicador em meu peito, minha respiração começa a ficar pesada.

Ótimo momento para se ter uma crise pânico.

- Aggy fica calma por favor. – Luna levanta-se preocupada, delicadamente ela me senta na cadeira novamente e começa a abanar a tampa do seu pote em minha direção. – Está tudo bem, é apenas fofoca de gente enxerida.

Quando me acalmo percebo diversos olhares curiosos em minha direção, respirando fundo deixo de lado meu almoço, perdendo a fome.

- Vou ao banheiro. – Levanto-me e sigo em direção aos banheiros do andar. Tendo diversos pares de olhos encarando-me descaradamente por todo o trajeto.

Suspiro fundo assim que adentro o pequeno banheiro gelado, discretamente olho as cabines e percebo que estou sozinha. Apoio as mãos na beira da pia e ali tento me acalmar novamente.

Não é nada demais. Afinal fofoca é fofoca, e nem sempre são verdadeiras. Meu subconsciente tentava me alertar.

Sinto meus olhos marejarem levemente e lembranças de um passado distante no colégio vem à tona.

- Ela faz parte daqueles esquisitos que vivem em barracas. Por isso que é toda estranha. – O grupinho popular falava a minha costas. Em alto e bom som, para que todos escutassem.

Encolho-me ainda mais dentro do meu casaco e escondo a pulseira de moedas que mamãe me deu para a primeira semana de aula dentro do armário.

- Além de ser esquisita, não sabe se vestir. – A loira oxigenada passa ao meu lado com todo o grupinho, olhando-me de cima abaixo. Minha típica veste cigana: uma saia longa e rodada na cor preta, e uma blusa solta com o decote reto na cor vermelha. Uso um casaco solto e colorido, já que o frio se aproximava.

E desde daquele dia reneguei as minhas origens. Passei a trocar as saias longas e rodadas por calças jeans, e as blusas soltas por camisas mais justas e atentadas a moda. Até que então conheci Luna e nunca mais desgrudamos, de certa forma, ela sempre me apoiou com minha família e toda a cultura cigana. Até hoje ela diz que o melhor dia da sua vida foi em uma das festas da comunidade.

Meus pensamentos são interrompidos pelo som da porta abrindo e Samantha adentrando o banheiro. Ela era uma das advogadas de elite na empresa, suas pernas longas e esbeltas, um cabelo ruivo natural herdado da sua origem escocesa, e várias sardinhas espalhadas milimetricamente por seu corpo. Percebe minha presença imediatamente e sorri minimante. Para no espelho ao meu lado, retocando o batom.

- Nossa, você está com a pele ótima Agnes. – Observa-me pelo reflexo do espelho. Sorrio agradecida. – O que você usou? – Sem saber o que responder, por que afinal eu não fiz absolutamente nada, invento qualquer desculpa.

Sobre a noite passada | Joseph Quinn | HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora