Cumplicidade estranha

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- Eu odeio seu carro Aggy. – Luna declara quando entramos apressadas no elevador, atropelando vários funcionários no meio do caminho.

- Acredite, eu o odeio mais. – Tento arrumar minha situação no espelho do elevador. Chegando ao sétimo andar Luna sai correndo em direção aos escritórios. – Bom trabalho! – Grito quando as portas já estão fechando, apenas vejo ela acenar de costas de qualquer jeito. O apito não demorar a soar quando chego ao último andar do prédio, dou mais uma olhada rápida em minha aparência e assim que a porta se abre corro até minha pequena mesa.

Estava meia hora atrasada. Meia hora. Trinta minutos. Meu carro fez o grande favor de estragar no caminho de casa para o trabalho. Eu e Luna ficamos alguns minutos implorando para que o maldito funcionasse, já que ele não poderia apenas não funcionar, principalmente num dia de semana e de expediente.

E para piorar um dos meus saltos quebrou em meio a correria do metrô. Fiquei parecendo uma pata mancada em todo o trajeto. Que dia maldito.

- Mas que inferno! – Escuto o grito de dentro da sala de Joseph e me assusto. Mal havia chegado até minha mesa ainda, apresso o passo e imediatamente e desajeitadamente começo a ligar o computador arcaico e jogar meu casaco e a bolsa do chão de qualquer jeito. Totalmente atrapalhada retiro o salto que ainda está preso ao sapato e faço força para que ele quebre, tentando deixar como duas sapatilhas com formato esquisito. Que horror, parece que estou usando sapatilhas de palhaço. O bico fino do sapato ficou para cima. Minha atenção é tomada quando escuto o baque forte da porta do escritório. – Resolveu aparecer. – Joseph vociferou irritado, arregalo os olhos.

- Desculpa senhor Quinn acont... – Ele ergueu a mão, um claro sinal para que eu calasse a boca. Assim o fiz.

- Na minha sala. Agora. – Mal termina de falar e segue pisando forte até a porta um pouco mais a frente. Rapidamente me levanto, pegando o iPad na gaveta que guardo e o sigo.

Ele estava impasse. Sério, com o cenho franzido, parecia focado e remexia em alguns papéis furiosamente.

- Pois não senhor. – Declaro assim que adentro a sala, ele nem levanta a cabeça.

- Você está atrasada mais de trinta minutos. – Seu tom era ríspido, gelado como o iceberg que afundou o Titanic. Engulo em seco com medo. – Quero que você vá agora até o marketing da empresa e procure por Patrick, quero que entregue isso para ele. – Joga um envelope pardo lacrado em cima da mesa, parecia pesado. – São as propagandas assinadas e confirmadas para esse mês.

- Certo. Vou entrar em contato com o marketing e scanear as propagandas para eles. – Começo a me retirar da sala, mas escuto-o chamar-me novamente. Ao me virar deparo pela primeira, desde que entrei nessa sala, com seu olhar em mim. E era um olhar ríspido.

- Não mandei você mandar um e-mail. Eu mandei você ir até eles.

- Mas o marketing fica em outro lugar, há cinco quadras daqui. – Falo baixo e confusa. Ele não me mandaria até lá. Mandaria?

- Não me importa. Esse é o seu trabalho e quero que o faça. – Abaixa o olhar novamente para os papéis na mesa. Continuo parada no lugar estática, inacreditada no que esse maldito está me mandando fazer. – Se eu fosse você correria, quero isso até às dez horas. Se tivesse chegado no horário teria mais tempo, mas ainda bem que está de sapatilhas.

Bufando irritada retiro-me da sua sala e fecho a porta com força, pouco me importando com sua opinião. Pego minha bolsa e deixo o casaco, vou precisar correr de qualquer forma. Soco o envelope de qualquer jeito em minha bola e apressadamente vou até o elevador e assim começa minha corrida contra o tempo.

Sobre a noite passada | Joseph Quinn | HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora