ʜᴇʟɪᴏɴ - ᴏᴅᴇɪᴏ ᴠᴏᴄᴇ̂ ▪︎ᴘᴀʀᴛᴇ ɪ

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Lea entrou na tenda. Estava escuro lá fora, as estrelas e a lua não estavam presentes dessa vez. Não na véspera do fim da guerra de Pyrithian contra Hybern. O céu estava silencioso. Mas não da forma que fosse agradável. Hoje, todos relembravam suas mágoas. Ou lamentavam-se por quem perderam.

Mas dentro daquela tenda, estava tudo iluminado. O único acordado aquela altura da madrugada. Olhou para a cama, onde um certo Grão-senhor deveria estar. Podia ver manchas de sangue, nos cobertores e no chão. Seguiu o rastro com os olhos, e viu ele.

Helion estava sentado no chão, escorado na madeira que erguia a tenda. Estava sem camisa, o abdômen enfaixado com marcas de sangue. Ele se mexeu demais. E não era para se mexer.

Viu as garrafas de vinho ao lado dele. Cinco. E bebia mais uma. Podia sentir o cheiro de álcool saindo de cada têmpora dele. Helion estava bêbado, já sabia.

- Não deveria exigir tanto do corpo, quando ele estå tão machucado. - Lea disse se aproximando dele com um pano nas mãos. Helion não se moveu. Nem um centímetro. Continuava segurando a garrafa, os cotovelos apoiados nos joelhos.

Lea parou ao lado dele. Heion tinha cheiro de sol e mel. Nunca mudou desde a última vez que o viu. Ele continuava o mesmo macho por quem havia se apaixonado e-

- Para de me olhar desse jeito. - Lea saiu de seus desvaneios. O encarou. Helion a olhava, as íris douradas como ouro derretido a encarando com raiva. - Para com esse maldito olhar.

- Preciso que deite na cama para eu limpar o ferimento que você abriu. - Ela se recompôs.

- Por que você está na porra da minha tenda?

- Todos estavam preocupados. Você ergueu uma barreira em volta da tenda e ninguém consegue ver como está.

- É por isso que veio? Pelos outros? - Ele parecia jogar veneno a cada coisa que dizia.

- Não. Vim por você. Estava preocupada.

- Já viu que estou bem, pode ir embora. Como sempre faz. - Ele cuspiu as últimas palavras antes de dar um gole no vinho.

- Não, eu não acho que esteja bem. - Ela sentou ao lado dele e segurou a garrafa. Viu como Helion tensionou, como parou de respirar e definitivamente não a olhou. Ele parecia ter erguido um muro entre ele e ela. Lea olhou para o ferimento dele e disse com pesar: - Era para eu ter recebido esse ferimento.

- Se está aqui por culpa, então, eu não quero saber. - Ele parecia lutar para dizer as palavras. Havia ódio, rancor, amargura e raiva em cada uma delas. Mas havia outra coisa no fim de sua voz. Alguma coisa na forma que ele se recusava a olhá-la.

- Por que se jogou em minha frente?

- Eu não fiz isso por você.

- Então, por quem fez?

- Por mim. - Ele a olhou, e rugiu as palavras antes de se levantar. Olhou nos olhos e nos lábios dela e disse: - Porque eu não aguentaria de te ver morta.

Ele se levantou bruscamente e andou para longe da tenda, puxando os cabelos para trás como se estivesse enlouquecendo. Ficou no ponto mais distante daquela tenda. Dela. De costas, procurando respirar um aroma que não fosse o cheiro dela.

- Pensei que me odiasse. - Ela disse ainda sentada.

- E eu te odeio. Pra caralho. - Ele disse. O peitoral dele subia e descia, como se fosse difícil respirar. - Sai daqui. Sai de perto de mim.

- Helion. - Ele se arrepiou. Mexia com o corpo dele ouvir seu nome sair da boca dela. Não podia vê-la. Não queria ouvi-la e nem sentir seu cheiro. Precisava de ar. Estava emlouquecendo. - Olhe para mim.

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