Helion - Paraíso ▪︎Parte I

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Ela estava lá.

Tão bonita. Pelos deuses, como aquela fêmea era espetacular. Os cabelos vermelhos como fogo, caindo em onda sob o corpo. A pele era tão branca. Tão oposta a dele. Tão ridiculamente simples de marcar.

Podia sentir o cheiro de mel e maça dela. Era tão doce. Embriagava todos os seus sentidos. O cheiro dele o tocava. No rosto e no resto do corpo. Um fantasma do toque dela que causava mais saudade.

Ele se aproximou dela, entrando na cozinha. Ela separava os legumes cortados dentro de uma bacia. Tão tranquilamente, que quase não queria interromper a paz dela.

Sabia que devia não a procurar. Foi o que ela pediu. Foi o que ele aceitou. Mas pelos deuses, estava com tanta saudade. Na reunião, foi totalmente ignorado. Nem mesmo um olhar. Um olhar sequer. Estava com tanta saudade.

Odiava ser um desconhecido.

Ainda mais depois de tanta história

— Eleanor.

As mãos dela deixam os legumes caírem e ela se virou bruscamente, surpresa. Um susto jovial tomava seu rosto de incredualidade, ao mesmo tempo que os olhos de fogo brilharam ao ver Helion.

As mãos dela tocaram a bancada e ela se afastou dele. O coração de Helion doeu ao ver a cena. Mas, ainda mais, uma raiva em seu interior o mandava se aproximar dela, por mais que ela resistisse.

Que a beijasse até ela parar de fingir.

— Helion — Ela olhou para a porta atrás dele. Estava fechada. A chave girada. Ela nem sequer ouviu o barulho do tranque, tão áerea que estava.

Ele queria ficar sozinho com ela.

E em um segundo, ela entendeu tudo.

— O que está fazendo aqui?

Helion a encarou. Ela ainda estava tão jovial. Tão viva. Esteve assustado, quando a viu na reunião dos Grão-Senhores. Ela parecia tão triste e sem vida. Tão morta.

Mas o medo dela era a maior prova de que ela vivia.

— Eu queria te ver.

Foi sincero.

Queria tanto, que não tinha problema em admitir.

Negou demais para si mesmo. Nos primeiros meses do término, negou ao máximo para si que queria vê-la. Não queria admitir que desejava de volta quem o rejeitou. Tentou tanto, sentir por outra pessoa o que sentia por ela. Tantas fêmeas e tantos machos, mas ninguém.

Era diferente com ela.

Ela o fazia diferente.

Estava com tanta saudade que chegava a doer.

— Você está linda. — Algumas lágrimas dominaram os olhos dele, mas nenhuma desceu. Que saudade daquela voz. Daqueles batimentos acelerados. Daquele cheiro.

Como Beron podia negar tanta graciosidade?

— Você prometeu não me ver, Helion. Isso não é certo. — Ela respondeu. Não soava áspera. Era até mesmo doce, como se não quisesse machucá-lo.

Céus. Ela não sabia?

Não tinha coisa que mais o machucava que o amor dela. Queria tanto que ela gritasse com ele, que brigasse e o odiasse. Queria ter motivos para odiá-la. Motivos para amá-la menos. Para não sentir saudade.

Mas ela...

Ela ainda o amava.

E aquele amor...

Seria egoísta querer cultivar aquele amor?

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