Lucien a amava tanto.Tanto, que chegava a ser doloroso.
Anabet era uma bela mestiça. Ela tinha belos olhos azuis como o céu, e cabelos cacheados, tão encaracolados que Lucien se perdia nos movimentos deles. Negros como a noite, longos como um rio, ele gostava de observar as mechas dela roçarem a cintura conforme Anabet andava.
Gostava de ver a pele negra. Por vezes, permitia-se demorar nas caçadas em que fazia, somente para poder observar ela da floresta. A pele era tão negra que, quando banhada pela lua, adquiria uma bela coloração prateada e azulada. Era lindo de ver.
Não tinha casa. Nem ele, nem Jurian ou Vassa. Mas foi curioso observar durante a reunião após a guerra de Hybern, uma mestiça no canto da sala, ouvindo tudo. Nunca ouviu dela. Mas ficou encantado, de certa forma. O coração dele palpitava quando a observava, o sorriso dela era doce, ela tinha uma aura serena. E quando ela notou o olhar, quando acenou, Lucien ficou envergonhado.
Mas então, quando saiu daquela reunião, notou que não tinha para onde ir. Nem para casa de Tamlin, nem para a Corte Noturna. Onde era a sua casa?
Sequer tinha.
Mas então, ela ofereceu a moradia dela.
E ele aceitou. Foi estranho dormir numa casa que não era sua, relaxar sob um colchão com cheiro de peônias e pêra. Era esquisito acordar com o cantarolar dela de manhã, fazendo o café. Alguém fazia o café para ele. Que estranho.
Descer da escada, ir para cozinha e ter um lugar na mesa te esperando, com seus amigos rindo, e Anabet o esperando para comer. Ela sempre o esperava para comer. Ninguém comia sem todos estarem juntos, era uma regra dela.
E se tornou uma regra para ele.
Ele estava sentado naquela mesa, com comidas simples comparados as que Anabet fazia. Vassa e Jurian comiam quietos. E Lucien encarava o assento a sua frente. Estava vazio.
Anabet não estava na mesa.
Nem na casa.
E com uma dor no peito, ela não estaria mais em sua vida. Por sua culpa.
Seus amigos olhavam para ele. Jurian e Vassa quietos. Eles sabiam. Era impossível não saber. Eles tinham total consciência que Lucien era apaixonado por ela. Mas que enterrou essa paixão dentro de si, com medo de ser afastado dela.
Tinha medo.
Tanto medo dela descobrir.
Tanto medo de ela saber.
Ele levantou da mesa. Não comeu nada. A tradição era essa. Não comeria sem todos estarem na mesa. E Anabet não estava.
Andou pelo corredor. Entrou na sala de estar. Estava uma bagunça. Cheias de roupas que ninguém se presara a arrumar. Nem mesmo Lucien. Ele se aproximou da mesa de centro. Havia um presente. E uma carta em cima.
Oi, Lucien
Soube que passou o seu aniversário. Eu não sabia que era. Passou algumas semanas já, mas fiquei triste por não ter comemorado. Então, passei a noite pensando no que poderia fazer para você.
Espero que goste do presente,
AnabetLucien trincou o maxilar. Não abriu o presente ainda. Era pequeno. Uma pequena caixa. Pegou e guardou no bolso de sua calça. Subiu as escadas.
Na frente, havia um quarto. Era o quarto dela. Nunca tinha entrado. Sempre teve medo de deixar seus sentidos aflorarem. Por vezes, Lucien acordava de noite. Ia para o corredor e via ela. Ela dormia com a porta aberta.
Via ela de camisola de cetim, sorrindo enquanto enrolava um cachecol laranja no pescoço. Sua mãe havia dado para ele quando criança. Quando fugiu da Outonal, levou consigo, não sabia o porquê. Mas lhe dava bons sonhos.
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Imagine Acotar
Romansa- Pequenas histórias fictícias envoltas pelos personagens masculinos da saga Acotar, tenha uma boa leitura.