Lucien e Jesminda ▪︎Necessidade | Part. I

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- Jesminda - Escutei o meu nome ser chamado enquanto eu lavava a louça. - Tem um cliente no balcão.

- Hoje eu estou na cozinha, Mi. Se eu não me engano, quem ficará atendendo hoje é a Flora. - Respondi sem nem sequer olhar para trás, cocentrada totalmente naquela louça e em formas de acabar com ela o mais rápido possível.

- Esse cliente gosta de ser atendido por você. Ele está te chamando. - Ela insistiu.

- Por acaso, é o senhor Bron? Ele fixou com o meu café e não bebe o de mais ninguém. - Eu resmunguei. Depois que você vira atendente, acaba descobrindo que ser a preferida de um cliente nem sempre é algo bom.

Ela riu.

- Ele é mais bonito que o senhor Bron, com certeza. Mas eu não sei quem ele é, não. - Ela falava indo até o meu lado e cruzando os braços. - Ele tem cabelo vermelho e olhos de fogo.

Eu parei.

Ele estava aqui.

- Fala para ele que estou ocupada.

- Quer que eu diga não para um cliente?

- Quero.

E então, ela deu um sorriso maroto.

Merda.

- Jesminda, espertinha - Ela me abracou por trás, rindo em meu ouvido. - Não me diga que você acabou encantando um jovem feérico burguês, muito, muito rico!..

- Em minha defesa, eu não sabia que ele era um burguês. Ele mentiu para mim dizendo que era um caçador. - Mentiroso. Eu queria gritar para ele da cozinha. Men-ti-ro-so.

Ela riu.

- Ué, você procurou cobre e encontrou ouro, por que está zangada? E pelo jeito que ele falou comigo, parece ser bem educado. Se você aceitasse ser amante dele, ia conseguir sair desse buraco de vilarejo.

- Eu gosto desse buraco de vilarejo.

- Você gosta da miséria, isso sim. Bom - Ela voltou a andar para o corredor. - Eu vou dizer a ele que você está ocupada.

- Obrigada.

E estava tudo ótimo.

Até Ester descer. Minha maravilhosa gerente. Com sua carranca de besouro e mãos de serpente. Ela desceu a escada do corredor e trombou com Mi com uma força que me fez ter certeza que seus peitos eram pedras. Eu olhei por cima do ombro e a escutei falar - gritar, para ser mais exata:

- Flora está doente, não vem hoje. Você vai para o atendimento e a Mi fica na cozinha. Eu vou ficar no lugar de Mi, no estoque.

Ah, não.

Mi começou a rir.

- Com certeza, senhora - Ela galopou até o meu lado e capturou o prato da minha mão, jogando os quadris em minha direção e me expulsando da pia. - Vai conversar com o seu garanhão, vai.

- Não sou égua para ter garanhão nenhum. - Cuspi as palavras, andando em direção ao corredor e vendo madame Ester subir as escadas. Obviamente, ela não ficaria no estoque e sobraria para eu e Mi arrumarmos tudo antes de ir embora.

Andei até o balcão e vi aquela cabeleleira reluzente dele. Os olhos vernelhos e os trajes que agora ele não escondia. Fios de ouro e rubis por toda a parte. Um contraste enorme com o balcão que quase quebrava com o peso de seu braço. O olhar dele estava apagado, mas iluminou quando me viu. E antes que ele abrisse a boca, eu disse:

- Acabamos de abrir a loja, não temos nada além de café no momento, senhor.

Ele me olhou por alguns segundos.

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