Eris ▪︎Veneno - Parte II

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- Eris. - O chamou.

E ele não olhou.

Ele tinha esse péssimo costume.

Ficou olhando para a janela da carruagem, observando qualquer coisa sem ver de verdade. A mão fechada em punho, enquanto a outra tocava a coxa dela, como se precisasse sentir o calor da pele dela para garantir que ela não estivesse morta.

Ela tocou na mão dele.

E o sentiu estremecer.

Mas ainda não o olhou.

- Eris.

E sabia o que significava.

Conhecia o seu marido bem o suficiente para saber.

Suspirou.

Entendia ele.

Beijou o braço de Eris e escorou o rosto contra o ombro dele, entrelaçando os dedos dele nos seus e murmurando:

- Eu amo você.

A mão dele apertou a dela.

E ele suspirou.

E sabia.

Sabia que havia lágrimas nos olhos dele. Mas que ele nunca a deixaria ver.

Marrento.

Seu marido era tão marrento.

Sorriu.

- Até seu estresse é um charme para mim, sabia, Eris? - Ela brincou, olhando o rosto dele. Tentando. Mas vendo somente os fios ruivos e o rosto virado para a janela.

Ela beijou o ombro dele.

- Sabíamos que essa hora ia chegar, Eris, n-

- Para de tentar me confortar. - Ele rosnou. - Não preciso disso.

Ah, precisava sim.

Mas ela não iria discutir.

Não com tanta coisa acontecendo com ela. Com ele. E com eles.

Ela suspirou.

E tocou no rosto dele. Sentiu um rastro molhado, mas que logo secava na pele quente do outonal. Virou o rosto dele.

Os olhos dele estavam úmidos enquanto a encarou. Mas ele não soltou uma lágrima sequer. Por mais que o olhar não passasse nada além de um macho totalmente abatido, olhando para a fêmea totalmente perdida.

- Eu vou morrer, Eris.

Os olhos dele tremeram.

- Aquela merda de curandeiro não sabe o que fala. - Eris rosnou, voltando a olhar para a janela.

E ela sabia que ele fazia isso somente para poder chorar um pouco.

- Um curandeiro salva somente quem pode viver, Eris. - Ela disse. - Sou uma curandeira, também. E sei mais do que ninguém que não adianta salvar um corpo que já está a beira da morte.

Ele não falou nada.

Mas sabia que ele queria dizer muita coisa.

Muita coisa.

- Eres vai ficar abalado com minha morte, - Ela murmurou. - Preciso que você o acolha e-

- Não vamos fazer planos para quando você morrer. Você não vai morrer.

Ela suspirou.

- Por que não aceita logo, Eris?

- E por que você está aceitando? - Eris indagou com raiva, a olhando com certa fúria. Mas sem soltar a mão dela. Nem por um segundo. - Está aceitando tão fácil sua morte que quase me faz acreditar que quer morrer.

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