Eris ▪︎Veneno - Parte IV

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Eris encarava o próprio anel.

Ele era feito de rubi, avermelhado como sangue, e havia sido ornamentado de ouro, conjurando inicias dos integrantes da família.

E.D.E.

— Esse anel simboliza nossa lealdade um ao outro. Quando se sentirem sozinhos, querem que olhem para esse anel. Quero que saibam que há alguém que ama vocês. Alguém que estão esperando por vezes. Quero que saibam que não estão sozinhos. Que eu amo vocês.

Ele não estava sozinho, então. Diana estava com ele. E Eres.

Como era estranho. Não estar sozinho. Esperava que não sentiria medo quando tivesse alguém. Mas era tanto medo. Tremia de medo. E não entendia. Como ter alguém podia o deixar tão aflito?

Ter que proteger. Era tão difícil proteger uma criança. A própria esposa. De si e dos outros. Era tanto medo deles se machucarem.

Eres era pequeno demais. E Diana...

Diana não queria ser protegida.

Eu amo vocês.

Aquelas palavras doíam muito.

Elas não eram mais aconchegantes.

— Eris — Abriu os olhos. Estava deitado, sob coxas macias. E dedos familiares tracejavam carinhos em suas madeixas. Logo viu o sorriso dela. O infernal sorriso dela.

Ela era tão bonita.

Mas como pôde se apaixonar por ela?

Por alguém que só quer morrer?

— O que está pensando, amor? — Queria gritar. Pedir para ela parar. Parar de fazer aquelas coisas. De ser daquele jeito. Parar de amá-lo e fazê-lo amá-la.

Não queria amar ela.

Não queria ter se entregado tanto.

Deitou mais confortávelmente a cabeça sob o colo dela. E permitiu que os dedos dela desenhassem traços em seu rosto. Nunca parou para reparar nela. Ela tinha cabelos negros. Lisos, mas ondulados no final. Olhos castanhos, de uma cor quase exótica e que lembrava uma ilha litorânea. E uma pele morena que exalava calor.

Ela tinha um sorriso tão fácil.

Por que ela sempre sorria quando o olhava?

Tocou na mão dela. E a trouxe para sua vista. Olhou o anel dela. Era idêntico ao dele. Ao de Eres.

Era uma maldição.

Aqueles anéis.

Amaldiçoavam tanto sua cabeça.

Atormentava tanto a sua mente.

— Por que está chorando, Eris?

Trouxe aquela mão ao rosto. E o beijou.

Fica comigo.

Era tudo o que podia pensar.

Não me deixa no escuro.

Sentia ela tocar o seu rosto. Suas lágrimas. Os dedos dela eram quentes. Mais do que o corpo dele. Ela nunca notou. Como aquela cama era quente por causa dela. Como ela deixava Eris com calor. Em chamas. Em um inferno.

Sentia ela beijar seus lábios. E os seus foram automáticos contra os dela. Ele já conhecia aquela boca. Sabia o sabor e os gestos daquela língua.

Mas era sempre tão bom beijar aquela boca.

Era um prazer diferente.

E o melhor momento era quando ela parava de beijá-lo. Quando deitava os lábios sobre os dele, mas não se conectavam. Ela apenas respirava, ofegante. Sempre sentia a respiração dela em seu rosto. Gostava dessa parte. De sentir o sopro de vida dela.

E a risada.

Ah, que risada gostosa.

Ela ria tão bem após o beijo.

— Diana — A chamou. E tudo se pareceu calar de repente. Até mesmo a risada dela. Sentia o aroma do rosto dela, os dedos dela acariciarem seu pescoço. Não sentia medo das mãos dela naquela região tão sensível. Mas sentia tanto medo dela sair dali. Dela sumir. — está feliz comigo?

Sempre quis perguntar isso.

Não era exatamente feliz com ela. A amava, demais. Mas era tanto medo que ela o incutia, que não sabia se Diana era mais um alívio ou pertubação. Mas não mudaria nada.

Ela sendo boa ou ruim, não mudaria nada.

Ainda queria estar perto dela. Mesmo infeliz. Mesmo com medo. Porque era bom sentir aquela sensação quente. De amar e ser amado. Era gostoso.

O fazia rir.

— Por que a pergunta, Eris?

Ele lutaria. Até o final. Por ela e por Eres.

Então, por que ela não fez o mesmo? Por que não lutou, também? Por que, no final de tudo, tomou aquele veneno?

Não estava bom... com ele?

Ela não era feliz, também?

Ela não respondia.

Claro que não.

Ela era uma ilusão. Todo aquele calor e toque.

Ela já tinha partido.

— De todas as pessoas que conseguiram me ferir — Ele tocou no rosto dela. Era tão quente. — Você foi a que mais chegou perto de me matar.

Ela o olhava, sem entender.

— Você me matou, Diana.

As lágrimas caíam do rosto. E ele não queria fingir. Fingir não chorar. Segurava o rosto dela com tanto carinho. Mas só queria gritar que a odiava.

— Você me matou de tantos jeitos...

Beijou os lábios dela.

— Você me deu um filho — Ele gemeu contra os lábios dela — me deu amor — os lábios eram tão doces. Tão viciantes. A beijaria por horas a fio. Cada centímetro daquela boca. — por que me machucou desse jeito, Diana?

Por quê?

Por quê, pelos deuses...

O amor era daquele jeito?

Cruel?

Não queria.

Não queria sentir aquilo, nunca mais.

— Se não estava feliz comigo — Ele sussurrou — por que não tentou me matar? — Uma adaga, no meio da noite. Era tão simples. Ele ouviria o metal e os batimentos dela. Saberia que ela iria tentar o matar. Mas deixaria. Tão facilmente deixaria. — por que não me levou no seu lugar...

Ah, pelos deuses...

Aquilo doía tanto.

Queria tanto gritar.

Fechou os olhos.

Como parar aquela dor?

Aquela dor tão grande no peito?

Quando foi que Diana o feriu daquele jeito?

Não escutou a adaga. Não sentiu a perfuração. Mas doía tanto.

Para.

Para.

Chega.

Abriu os olhos.

E ela estava ali, dentro daquele funeral. Do caixão. Deitada e de olhos fechados. Tão bonita.

Ela havia o deixado.

Estava ali, do seu lado.

E o amava tanto.

Mas havia o deixado.

Estava sozinho.

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