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Leonardo Soares, Lv

O tiro quem deu foi meu pai, Degê chegou por trás deles e como eles estavam virados pra mim não viram meu pai chegar. Douglas atirou primeiro no que estava com o Lipe o que fez o mesmo levantar e pegar a arma dele atirando no que estava em mim.

Eles eram cincos, dois já se foram com deus. Mirei no terceiro e atirei mas meu pai deu bobeira e acabou levando um tiro de outro pm. Lipe e eu terminamos matando os outros dois e quando fomos até meu pai ver se o ferimento era grave ou nada demais.

Meu pai é bem vivido nessa vida de crime, ele tem cada cicatriz de marca de tiro e ele conta com orgulho e acredito que esse tiro tenha cido só mais um. Chegamos ate meu pai, coloquei o fuzil para trás e me agachei até meu pai.

- Filho...

Olho pro ferimento vendo que bala ainda estava no peito direito.

- Eu preciso tirar a bala e colocar algo aqui prensando para estacar o sangue. -digo

- filho não, o pai não aguenta não, tá doendo para respirar, minha hora chegou.

- Cala a boca porra, chegou a hora de tu ir lá pro Robson (médico da favela) isso sim, bora bora - Lipe diz e pega meu pai colocando ele apoiado no ombro dele.

- Não adianta mulekes, eu não vou aguentar tô dando o papo reto porra.

- Se tivesse doendo pra respirar tu não ia tá conseguindo falar o animal, então cala essa boca, poupa esforço - Lipe tá estressado eu acho.

- Se ... se eu for... se eu não resistir... Léo cuida da pequena Louise, não abandona ela.... eu amo vocês todos igualmente, você.... Arthur... e Louise.... -Todas essas (...) é a voz dele falando.
- E Felipe.... você foi o melhor amigo durante anos.... teve comigo em todos os momentos.... bons....e ruins, faça isso aí do lado do Léo e Arthur também.... guie eles.... - meu pai começa a ficar fraco, o sangue não para e ele já não tem forças na perna.

Foram quase 3 horas de trocação de tiros, já eram 4 hora da madrugada. Perdemos mais de 15 moradores aqui do morro, 5 deles sendo trabalhadores, sem vínculo com o crime e os outros 10 eram dos nossos, era cria do meu pai e da favela. Mas o prejuízo foi para eles, só eu e o tio matamos três deles, meu pai matou aqueles dois que estavam comigo e o tio mas antes disso ele já tinha levado uns quatro. Eles recuaram quando viram que estavam em desvantagem e então levamos meu pai para o Robson.

Quando chegamos lá meu pai já tava mais morto que vivo, ele estava perdendo muito sangue, não estava conseguindo respirar direito e em todo momento ele dizia o quanto era grato por ter cido nosso pai, por ter cido um tio pra Louise, e o tão grato que ele era ao Felipe pai da Lu.

Confesso isso tava me deixando mal por que eu não me vejo sem meu pai, eu não me vejo seguindo essa vida no crime sem ele. Porra ele me ensinou tudo que sei, ele sempre me mostrou o certo e o errado e uma das coisas que ele sempre dizia era que o crime era errado, que ele quando entrou, entrou por necessidade mas que ele tava lutando para que nem eu e nem Arthur entrasse nisso.

Quando quis entrar eu ouvi pra um caralho dele, disse que eu não precisava disso, ele pediu para mim me escrever no quartel ou fazer uma faculdade mas nada disso me chama atenção, eu apenas queria seguir o caminho dele, ser um dg 2.0 tá ligado?

Quando Arthur entrou foi mais de boa, por que ele já tinha visto que não tinha jeito que fizesse nós mudar de idéia, eu entrei com 16 e o Arthur entrou depois de eu estar um ano envolvido já.

- Deita ele aqui - Robson fala me fazendo sair dos pensamentos.

Felipe e eu ajudamos o meu pai a deitar mas eu acredito que foi a pior cena que eu presenciei. Eu vi meu pai ficar pálido e ao mesmo tempo ficar roxo por causa da falta de ar.

- Ajuda Robson, porra! -digo.

Meu pai pega minha não e eu aperto.

- Vai ficar tudo bem pai, a gente tem muita história juntos ainda pô. Cê ainda precisa ser avô dos meus menores.

Ele força um sorriso.

- eu quero dois netos, um casal.

- e eu vou te dá pai mas porra fica aqui pra ver nascer, pra ensinar tudo aquilo que tu me ensinou...

Robson tirou a bala do peito do Douglas, passou uns bagulho nele acho que era pra limpar não entendo muito bem. Por último Robson começou a enfaixar e até aí estava tudo bem, que bom!

Os batimentos do meu pai regularam e a respiração também.

- eu te falei que tu ia sair dessa dessa caralho. - sorrio.

- filho... eu matei aqueles pau no cu - dá um sorrisão.

- Tu é foda paizão e eu te amo por isso porra!

- eu te amo menor, pra caralho! Já disse uma vez e volto a repetir... cuida da Louise, eu sei que ela não te quer, que ela só quer amizade mas não deixa ela por isso... vocês são um quarteto, não deixe isso acabar...

O quarteto é o Wendel, Arthur, Eu e Louise.

- e não desiste não filhote, cês' ainda vão ficar juntos mas tudo no seu tempo... diga ela que eu a amo muito, todos vocês...

- oxi paizão, Cê fala isso pra eles depois quando sair pai.

Os batimentos começam a acelerar e no peito dele onde estava enfaixado começa a ficar vermelho de sangue de novo.

- não não, paizão fica Po

Ele aperta minha mão.

- Segura as pontas aí por mim aí, tô te guiando lá de cima, e Felipe ajuda meus menor aí

- pai...

- como li num vídeo no tiktok, a Vida é uma viagem... obrigada pela carona -dg sorri ao falar isso.

- para de palhaçada pai

- eu te amo, amo vocês - a voz dele saí como um sussuro e a mão que ele apertava a minha, simplesmente amolece.

eu perdi meu pai na minha frente...

Maratona 2/3
cap não revisado, desculpe qualquer erro.

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